DESPEJO DE FAMÍLIAS NO CONE SUL DE RONDÔNIA
PAREM COM OS DESPEJOS!!
No último dia 28 de agosto de 2020 a CPT-RO publicou a matéria - “Manifestação do Incra deve impedir reintegração de 77 famílias em Vilhena” - relatando sobre a decisão da justiça estadual da 2ª vara civil do município de Vilhena que decidiu por nova reintegração de posse dos lotes 75 e 85 da fazenda Vilhena, em que mais de setenta famílias estavam ocupando, vivendo e em busca de seus direitos com base na Constituição da República Federativa do Brasil, além de fazer jus a Função Social da Terra conforme rege o Estatuto da Terra de 1964.
A ação de despejo ocorreu na manhã de ontem (08/08/2020), por volta das 08h30, com a presença de helicópteros, mais de 30 (trinta) policiais militares e 16 (dezesseis) viaturas policiais, que segundo um dos posseiros “parecia uma operação de guerra”.
Houve relato de quê os posseiros se reuniram no barracão da associação. Com isso, os policiais que estavam na operação do despejo dessas famílias, chegaram a reter as pessoas que estavam sem documentos pessoais o dia inteiro privando-os até mesmo de poder realizar suas necessidades mais básicas.
O DESCARTE SOCIAL!
Além disso, outro relato, fornecido
a CPT-RO, indica como o Estado vem presando pelo bem estar social de toda a
sociedade ao longo desse período pandêmico em que o mundo estar inserido. As famílias
dos posseiros que não possuíam familiares no município de Vilhena foram alocadas no pátio da Escola Ângelo Donadon e até o presente momento,
nenhum órgão esteve presente para dar assistência à essas famílias, que além de
estarem fragilizadas devido a ação de despejo de seus lares, estão totalmente vulneráveis a contaminação pelo vírus COVID-19.
Foto: posseiros dos lotes 75 e 85/ Frente da escola Ângelo Donadon |
Em julho deste ano (2020) mais de quarenta organizações sociais e movimentos sociais lançaram a campanha “Despejo Zero pela vida no campo e na cidade” visando a proteção das famílias e de seus lares em tempo de pandemia. A própria ONU, por meio do relator especial sobre moradia -BalakrishnanRajagopal, solicitou que o governo brasileiro cessasse com os despejos eremoções enquanto houver pandemia.
MAIS FAMÍLIAS AMEAÇADAS DE
DESPEJO EM PIMENTA BUENO
A
Associação de Pequenos Agricultores de Pimenta Bueno luta na justiça para evitar
uma reintegração de posse. São 38 famílias da ASPEM, Associação de Pequenos
Agricultores do Melgaço, situadas na Linha 85 do Distrito de Orucu Macuã,
pertencente ao município de Pimenta Bueno RO, que ocupam a área desde 2009. Área
abandonada de antiga CAPT (Contrato de Alienação de Terras Públicas), em nome
de Miguel Messegato, título provisório da época da ditadura que foi cancelado e
averbado o cancelamento no Registro de Imóveis, tratando-se portanto, de área
de terra pública que retornou plenamente ao domínio legal da União. Tanto o
advogado do grupo como a Defensoria Pública tem recorrido a decisão.
Neste
contexto não faz sentido uma reintegração de posseiros ordenada pela Justiça
Estadual numa área de domínio federal. O conflito iniciou em 2009, com um
intento fracassado de expulsão das famílias com pessoas armadas, logo as
famílias sofreram uma ação de reintegração de posse judicial em 2010, (Processo
N. 0003929-45.2011.822.0009 – 2ª vara cível de Pimenta Bueno), movida por um
fazendeiro vizinho da área chamado Márcio Pessavento, conhecido como Corujão,
que nunca ocupou a área.
Em
anos anteriores o presidente da Associação, sofreu perseguição e chegou a ser
preso. Várias lideranças foram ameaçadas, inclusive o vice presidente da
Associação, que foi acolhido no Programa de Proteção aos Defensores dos
Direitos Humanos da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência de República,
em 2015, sendo debatido o andamento do conflito na pauta da 829ª reunião da
Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo, em Porto Velho, na sede do
Incra, no dia 28 de abril de 2015.
Outro despejo já foi suspenso
por ordem da justiça federal.
Outras
CATPs canceladas mostram o caminho a seguir, da regularização das famílias de
posseiros estabelecidas em alguns casos há
décadas, como foi graças à atuação do Ministério Público Federal (MPF), e cerca
de 300 famílias do acampamento Canaã (localizado nas fazendas Cruzeiro e Arroba
Só Cacau) não serão mais retiradas da Gleba Burareiro, em Ariquemes (RO). Uma
decisão da Justiça Estadual determinou que as reintegrações de posse sejam
suspensas até que a Justiça Federal analise definitivamente a validade dos
títulos de domínio da área em disputa. Os trabalhadores rurais sem-terra
estavam sob ameaça de reintegração de posse por causa de ações judiciais
movidas por dois pretensos proprietários – João Arnaldo Tucci e Maria Ângela
Simões Semeghini. O juiz Roberto Gil de Oliveira argumentou na decisão que “o
processo não é um fim em si mesmo, mas meio para pacificação social com a
necessária segurança jurídica. A execução imediata da ordem de imissão na
posse, desabrigando famílias, ainda que estabelecidas precariamente na área
litigiosa por quase 20 anos, poderá trazer consequências irreversíveis”.[1]
Dessa maneira, fica cada vez
mais evidente que o território brasileiro está afundado em uma necropolítica
que por meio de mecanismos estruturais do Estado influenciam e promovem o extermínio
de comunidades camponesas, povos indígenas e comunidades tradicionais. O atual
governo bolsonarista aglutinado a bancada ruralista e outros representantes da
elite covarde brasileira, impõe um regime autoritário e antidemocrático para os
filhos dessa pátria mãe gentil que continuam na linha de frente da luta e resistência contra as ações nefastas e pelo seu direito à saúde, moradia, educação, cultura e meio ambiente.
[1] http://www.mpf.mp.br/ro/sala-de-imprensa/noticias-ro/mpf-consegue-na-justica-suspensao-de-reintegracoes-de-posse-no-acampamento-canaa-fazendas-cruzeiro-e-arroba-so-cacau-em-ariquemes-ro
Fonte: CPT-RO
Texto ajustado em 10 de setembro de 2020 as 07:24 (horário de RO)
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