MANIFESTAÇÃO DO INCRA DEVE IMPEDIR REINTEGRAÇÃO DE 77 FAMÍLIAS EM VILHENA
A justiça estadual do
município de Vilhena decidiu por nova reintegração de posse de setenta e sete
(77) famílias moradoras da área rural ocupada há vários anos por posseiros. A ordem
foi divulgada pela Juíza da 2ª Vara Cível de Vilhena. Em função disso, a
Polícia Militar já convocou reunião presencial para próxima segunda feira
(31/08) visando preparar o cumprimento da reintegração do processo. A
Defensoria Pública agravou a decisão, que deve ser analisada em segunda
instância pelo Tribunal de Justiça.
Na
pandemia despejos representam risco de vida
Novamente a decisão de reintegração
de posse acontece em plena pandemia e representa um real perigo de contágio,
que ameaça à vida de todos e todas os/as moradores e moradoras do local, num
momento em que Rondônia já registra 1.100 vítimas do COVID19 e contabiliza
53.119 casos confirmados da doença. O adiamento das reintegrações de posse já foi
solicitado pela Defensoria Pública de Rondônia em ao Tribunal de Justiça
Com isso, é de extrema importância destacar que os despejos impedem a
permanência das pessoas ameaçadas de despejo forçado a continuarem em
isolamento em suas residências, e ainda, colocam em risco, diversos
profissionais envolvidos no cumprimento das ordens de despejos forçados, como
policiais militares, servidores do poder judiciário, conselheiros tutelares,
assistentes sociais e as próprias famílias que vivem em situação de
vulnerabilidade social.
Área com processo administrativo de cancelamento de CATP
A referida reintegração afeta
as famílias de posseiros dos Lotes 75 e 85 do setor 8 da Gleba Corumbiara. Uma
ameaça semelhante foi solicitada pelos mesmos autores nas proximidades e já adiada
logo após a Defensoria Pública do Estado de Rondônia ter agravado e obtido a
suspensão dentro da mesma área conhecida como Fazenda Vilhena do Pensamento.
A reintegração foi requerida
por Flávia Fontes Romero, Fernanda Fontes da Silva e Leony Rosa Fontes, todos
eles moradores do estado do Paraná, porém sempre representados por Eládio
Cândido, conhecido como Nego Zen, fazendeiro acusado de várias agressões aos
pequenos agricultores da região.
O Incra confirma que a área tem o CATP em cancelamento
Segundo manifestação do Superintendente
do Incra do município de Porto Velho,
Ederson Littig Bruscke, em 24 de agosto de 2020, o lote 75 do setor 08 da Gleba
Corumbiara, faz parte do conglomerado que compõe a Fazenda Vilhena do
Pensamento, uma área em processo administrativo de cancelamento do Contrato de
Alienação de Terras Públicas/CATP (título provisório) que já foi considerado
inadimplente, pelo Programa Terra Legal, e confirmou os procedimentos de
análise e notificação realizados pelo Incra:
“Entretanto não foi ajuizada ação de reversão ao patrimônio do INCRA, providência essa que está em curso, fase administrativa de instrução processual, por parte da Procuradoria Regional do Incra no bojo do processo eletrônico no Sistema Eletrônico de Informações -SEI nº 54000.023028/2020-04,! entretanto este cuida de vários lotes que compõe a Fazenda Vilhena do Pensamento e não especificamente só o Lote 75.” (Manifestação Incra 24/08/20)
Um
conflito de competência de Foro Federal
A decisão de reintegração de
posse já foi agravada também pela Defensoria Pública do Estado de Rondônia,
especialmente após a manifestação do Incra alegando que se trata de Terra
Pública, com processo administrativo de cancelamento do CATP por falta de cumprimento
de cláusulas resolutivas.
Ainda, a manifestação do Incra,
confirma que o litígio é de competência da Justiça Federal, pois há no local um
processo administrativo de retomada da área para o patrimônio da União. Uma
decisão, então, que deve passar da Justiça Estadual para o foro da Justiça
Federal.
A mesa de negociações estadual debaterá o problema
A
extensa área da antiga Fazenda Vilhena do Pensamento por diversas vezes tem
sido palco de violências no campo, com várias chacinas, justamente pela
dificuldade do Estado em tratar com seriedade e urgência dos casos de conflitos
agrários em terras públicas no estado de Rondônia.
No dia 12 de agosto de 2020 ocorreu
a reunião da Mesa de Negociações de Conflitos Agrários do estado de Rondônia,
presidida pelo Superintendente da SEPAT, Constantino Erwen, com presença de
numerosas autoridades. Nesta oportunidade, houve proposta do MPF de atuar com o
intuito de coibir a atuação de Policiais Militares que exercem atividades
extras como de segurança particular.
Com destaque foi mencionado a
participação de policiais nos conflitos da referida região de Vilhena, junto a
Eládio Cândido, o “Nego Zen”, que já foi visto de posse de arma de fogo visando
intimidar produtores rurais da região. O mesmo fazendeiro consta como réu em vários
outros processos, além de possuir grandes propriedades na região.
No próximo dia 01 de setembro
de 2020 a nova ameaça de reintegração deve ser tratada pela Mesa de Negociações
de Conflitos Agrários, com presença do Incra, a pedido do Conselho Estadual de
Direitos Humanos de Rondônia.
A regularização dos posseiros em CATPs canceladas
Dezenas de famílias de pequenos agricultores da região do Cone Sul e de todo o estado de Rondônia, mantém direito de posse acima de terras que estavam abandonadas e que eles ocuparam e estavam produzindo. São terras públicas , porém muitas delas com existência de títulos provisórios emitidos na época da Ditadura Militar, os chamados Contrato de Alienação de Terra Públicas (CATPs). Esses títulos exigem cumprimento de cláusulas resolutivas, que em sua maioria não foram cumpridas, e como resultado disso instituem o seus cancelamentos.
Foto: produção de farinha / Produtorxs da Gleba Corumbiara dos lotes 75 e 85 |
Alguns assentamentos de
Reforma Agrária foram criados em áreas de CATPs retomadas judicialmente pelo Incra,
e muitas outros CATPs foram revisadas pelo Incra e pelo Programa Terra Legal,
sendo canceladas em processos administrativos que culminam com o retorno da
terra, que nunca deixou de ser pública, para o domínio da União. Finalmente,
com averbação do cancelamento nos registros de Propriedade, nada impede que sejam
regularizadas para as famílias de posseiros que as ocupam há anos.
Dessa maneira, confirmada a
inadimplência do CATP em processo administrativo próprio, deveria ser anotado o
seu cancelamento no registro do imóvel e procedida a regularização fundiária em
favor das famílias de posseiros.
Fonte: CPT-RO
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