Santo Antônio do Matupi, no Km 180 da transamazônica.

A convite do Padre Massimo, missionário comboniano de origem italiano, esteve na semana passada no Km 180 da Transamazônica (BR-230), saindo de Humaitá, localidade chamada de Santo Antônio do Matupi. A 200 km de Apúi, forma parte do município de Manicoré, do qual está bem isolado. Reunidos com um grupo de agricultores convidados pela paróquia, eles contaram de suas lutas e dificuldades para colonizar esta região amazônica. 
A viagem por terra desde Porto Velho levou umas 12 horas de ônibus tanto na ida como na volta. Saindo de Porto Velho às 07 horas da manhâ, deu para comprovar que o elevado nível das águas não impediu o avanço da construção da ponte sobre o Rio Madeira, que ao contrário das outras obras do PAC, está seguindo a um ritmo acelerado: Com diversas colunas já construídas e começando a traçar a estrada acima delas. Com a ponte a travessia da balsa passará ao passado, facilitando a penetração terrestre do sul do estado da Amazonas. 
Por outro lado quase toda a estrada de Porto Velho a Humaitá já está asfaltada. Nosso ônibus, quase lotado desde Porto Velho, ficou completamente abarrotado de mercadorias e de povo daqui para frente. Devendo de novo atravessar o Madeira de balsa em direção contrária, logo depois de alguns quilômetros em regular estrada de chão e atravessando grandes pontes de madeira (rio Muici, , começa a travessia da terra indígena dos indígenas dos Djaoi e Tenharim. 
Uma das famílias que viajam com nós (de pé ou sentados num saco de açúcar no chão) são tenharim da aldea Marmelos. A estrada dentro da área indígena é bem pior e o ônibus superlotado devagazinho e chiando as molas, vai pulando de buraco em buraco. Atravessamos algumas aldeias de casas cobertas de palha, porém com energia elétrica duma rede monofásica do luz para todos. Quase no final da terra indígena achamos a barreira de pedágio montada pelos indígenas. Por turno, cada aldeia indígena se beneficia uns dias do pedágio, dependendo das famílias de cada lugar. Nosso ônibus paga $R 70 para passar, menos de R$ 2,00 por passageiro. O pedágio é um assunto que faz tempo envenena e enfrenta as relações entre indígenas e colonos da região. Uma das irmãs e até pouco um missionário leigo comboniano, dava atendimento pastoral aos indígenas da paróquia.
Na última parada em um boteco, onde um careca forte serve café, refrigerantes e bolachas, está a entrada da estrada de chão que vai para o Mato Grosso e Machadinho, em Rondônia. Um cartaz anuncia um plano de manejo madeireiro na propriedade. Segundo informações dos vizinhos de viagem, neste tempo a estrada para Machadinho ainda tem um grande atoleiro, que dificulta a passagem de veículos.
Saindo a terra indígena, a paisagem da estrada, até aqui rodeada de floresta, se modifica radicalmente e os pastos de braquiarão e cercas de gado passam a dominar o percurso, com algumas poucas casas de fazendas. Pouco antes de chegar parece estourar um pneu, porém com sorte mesmo com chiados estranhos, o ônibus consegue de noite às 19 h.chegar até o Km 180, onde desço com boa parte do pessoal antes do ônibus continuar para Apuí.
O Pe. Massimo está me esperando desde o dia anterior, porém como o telefone não funciona a maior parte do dia, não tinha podido avisar de minha hora de chegada. Depois de um bom banho e de participar na metade da missa com as três irmãs combonianas e alguns leigos na pequena igreja matriz, vamos tomar um lanche. O intenso movimento da BR 230 que atravessa pelo centro de Matupi, com muitas motos e carros a toda velocidade, contrasta com a falta quase total de movimento antes da chegada na cidade, quando os poucos carros que cruzamos (picapes traçadas) paravam para conversar com o motorista do ônibus. Na lanchonete, bem movimentada de fregueses tomando cerveja, dá para perceber que aqui os homens são maioria, e as poucas mulheres que tem, de noite ficam em casa.
A casa do padre e das irmãs é de madeira, como a maioria das construções daqui. Impressiona a caixa d' água levantada acima duma grande tora de madeira, duns 5 metros de altura por quase metro e meio de largura. Chove quase toda à noite. Porém às 09 h. começa a comparecer o povo convidado para a reunião. Enquanto o povo vai chegando, monto os pesados computador portátil e e data show, com duas caixas de som, que carreguei para o encontro. E conversamos com o pessoal que vai chegando nos apresentando. Agricultores vindos das comunidades e linhas próximas: A linha do Matupi, do Triunfo, do Pito Aceso, dos Baianos... Pequenos agricultores e pequenos fazendeiros, alguns deles coordenadores das comunidades católicas da paróquia. De origem de Minas, do Mato Grosso, Bahia, Paraná... a maioria deles com passagem  por diversas cidades de Rondônia. 
O Pe. Massimo inicia com a leitura dos Atos dos Apóstolos, onde se fala da união das primeiras comunidades cristãs. Nos comentários sobre as leituras tem diversas falas. Eu também me apresento, assim como o trabalho da CPT, que alguns já conhecem de Rondônia, e perguntam por antigos assessores que já nos deixaram: o Miki, o Piau. etc. Um casal explica que já participaram de acampamento do MST, porém por causa de doença tiveram que desistir da luta e acabaram perdendo a terra. Outro já participou de sindicato, outro do Movimento do Pequenos Agricultores. Outro, quando cheguei, estava criticando duramente a fala da Marina Silva diante do Novo Código Florestal. Depois conta que ele passou muitos anos trabalhando como gerente de fazenda em Rondônia e Acre, até que conseguiu arrumar a própria terra. Outro agricultor de uns 30 anos diz que nunca teve terra. Somente trabalhava na terra do pai, em Rondônia, e aqui conseguiu terra própria.
Diversos participantes são agricultores dum Assentamento. Alguns falam com saudade do tempo que tinha um caminhão do INCRA recolhendo a produção e levando para vender a Humaitá. depois da desistência do caminhão, a maioria tem optado pela criação de gado. Na cidade tem apenas um pequeno laticínio que produz queijo. Em anteriores reuniões tem discutido sobre o Conselho do Assentamento, que está parado. Em ofício apresentado no INCRA de Humaitá, tem pedido providências, dando prazo de 20 dias ao INCRA. Explico que a situação do INCRA está encalhada no país inteiro e ainda sem definir pelo governo de Dilma. Ao final da reunião, devem marcar encontro duma comissão para redigir carta, apresentando queixas ao Ministério Público Federal.
Por minha parte, apresento breve histórico da colonização e do avanço a fronteira agrícola no Brasil e na Amazônia, dos problemas de fertilidade da terra no bioma amazônico, das comunidades que fecham enquanto abrem outras, cada vez mais longe. Das experiências da agroecologia, como necessidade de achar o melhor jeito de produzir nas condições amazônicas. Do que contam, a terra aqui é bem arenosa. Milho tem lugares que nem pensar.  Aqui estamos no fim da picada, afirmam. 
A reclamação é geral pela falta de atendimento, pelas dificuldades de transporte, isolamento e de apóio à agricultura. O único organismo que parece ter certa atuação, e que está atuando em parceria com a paróquia, é o IDAM, que visitaremos pela tarde com o padre. O debate converge na necessidade de organização dos pequenos agricultores e de puxar a atuação dos poderes públicos. A falta do sindicato, que dificulta receber os benefícios da maternidade, por acidente, as aposentadorias... O próprio conselho do assentamento que estão tentando reorganizar, etc. 
No final do encontro falo da Campanha da CPT contra o Trabalho Escravo. De nossa suspeita que em Rondônia são contratados trabalhadores para as fazendas do Mato Grosso e o Sul de Amazonas. O Pe. Massimo conta que já esteve na cidade a Equipe Móvel do Ministério de Trabalho. Porém acha que por aqui os empregados são muito bem tratados, pelo simples fato que falta mão de obra, nas madeireiras e nas fazendas. Porém isto também confirma à necessidade de trazer mão de obra de longe. A opinião geral é que não existe trabalho escravo. Ainda, que é difícil cumprir as exigências dos fiscais de trabalho respeito ao alojamento, normas de segurança, etc. E o medo de serem autuados por isso.
Aí explico que trabalho escravo é como aftosa: melhor se não tem, porém não pode deixar aparecer. E Precisa vacinar mesmo, e impedir. Quando existe, trabalho escravo é lacra social que contagia e prejudica a todo o mundo, ao país inteiro. Aí explico que trabalho escravo não é somente por condições degradantes de alojamento: As vezes é trabalho forçado mesmo, onde o peão depois de promessas enganosas, é impedido de ir embora, seja por dívidas, ameaças ou outros médios. Não podem segurar ninguém trabalhando por dívidas. 
Ao final, muitos estão nesta condição é por falta de terra para trabalhar. "Aqui, quem não tem terra é porque não quer" retruca um deles de imediato. Tento passar o filme da Campanha, porém o computador se nega a repassar o som para as caixas e fica bem ruim de ouvir. Mesmo assim passamos uma parte e deixamos cartazes e material para levar para as capelas. Também cartazes da 9a Romaria da Terra e das Águas e as cartilhas de preparação para os grupos de reflexão, os animando sem muita convição a preparar um ônibus e participar também. 
Antes de fechar o encontro, o Padre amarra os próximos dias de encontro. Também sobre um projeto de criação de peixes. No lanche acabamos de debater os assuntos do conselho do assentamento. 
Pela tarde visitamos o IDAM conversamos sobre a reunião realizada e as formas com validade jurídica de recompor o Conselho do Assentamento, como a convocatória duma assembléia e o reconhecimento do Território do Madeira pelo MDA, com a publicação dum estudo sobre o seu desenvolvimento rural sustentável.
Independente do nome do território e do principal rio da região, em Santo Antônio do Matupi a principal ocupação mesmo (por enquanto) é a exploração de madeira. Aqui e em Apui tem migrado muitas das madeireiras de São Francisco, Nova Mamoré e outras localidades de Rondônia. Na minha vinda, o ônibus faz caminho na mesma direção com um caminhão toreiro, carregado de alguma mudança e também duma picape traçada. As placas de matrícula revelam a procedência: Nova Mamoré. 
Atualmente em Santo Antônio do Matupi tem mais de 30 serrarias de madeira. Por todo lado dá para ver muitos tratores de grande porte (skides) usados para puxar as toras, caminhões toreiros e potentes picapes traçadas. Grande quantidade de madeira brancal e de pó de serra e é queimada continuamente. Um companheiro de viagem, na volta, comenta que ele é maquinista qualificado de madereira, e que aqui o salário da categoria dele está na faixa de 2000 a 2500 R$ mensais. Nada mal. Legalizam a extração os planos de manejo do Instituto de Medio Ambiente do Estado do Amazonas.
Pela tarde damos uma volta de carro, percorrendo as ruas esburacadas da cidade. Em algum ponto desistimos de passar pois e necessitamos da tração para sair. As poucas melhoras (aida está chovendo muito e não dá para meixer nas ruas) são da máquina da associação de fazendeiros, que está realizando uma grande construção no parque de exposições e tem o rádio comunitário. Casas de material poucas. Nenhuma iluminação de rua, a não ser lâmpadas no exterior das casas.
No outro dia pela manhã, acompanho o Caetano, que foi realizar curso em São Paulo com a Solar Brasil, a instalação de uma placa solar na casa das irmãs. Como um projeto demonstrativo, as lâmpadas deveram iluminar as entradas da casa e da igreja. Aparece por lá um cara rodado pedindo ajuda. Diz que está indo para Itaituba seguindo a transamazônica. Conta que esteve trabalhando em Porto Velho na DS Construções, empresa construtora das casas de placas dos atingidos pelas hidrelétricas de Nova Mutum. Diz que a empresa está falida e não recebeu nada por dois meses de trabalho e está indo embora. Para segunda feira (estamos em sábado) já tem oferta para começar a  trabalhar em uma madeireira. A irmã o ajuda com comida e roupa e ele some. Mais tarde o vejo sentado no fundo dum boteco da cidade.
O Pe. Massimo explica que a insegurança em Santo Antônio já foi muito grande, porém melhorou depois da instalação rotatória de três PMs na cidade e da detenção de diversos traficantes. Mesmo assim, uma moça nova estes dias tem sido brutalmente violentada, maltratada e torturada, retalhada por todos lados e acaba morrendo no hospital de Humaitá, onde foi levada ferida de gravidade. Correm rumores que ela era neta dum dos matadores do Pe. Ezequiel em Cacoal, e estava aqui relacionada com um bando de delinqüentes  e envolvida num assassinato. 
Como já foi também em Cacoal, em tempos do Pe. Ezequiel, depois em São Francisco do Guaporé, em Buritis ou em Colnisa (MT), e tantos lugares de fronteira agrícola, problemas ambientais e violência costumam andar juntos.
 

Comentários

  1. o meu nome eé´Maria de fatima portela e moro em 180 ou seja santo antonio do matupi para frente de umaita la e ate bonito e otimo

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    1. por favor me ajude a encontrar meu irmao que esta ai o nome dele e leandro mendoça a minha mae esta preucupa eu sou missionaria da igreja precizo encontalo obrigada deus te abençoe meu nome e ana paula

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  2. AFF ESTE PADRE SO FALA COISAS RUIM SOBRE SANTO ANTONIO DO MATUPI OQUE ELE TA FAZENDO AI SE E TAO RUIM ASSIM SE E TAO DIFICIL A VIDA AI TENHO CERTEZAA QUE NAO E TUDO ISSO NAO PQ SOMOS DAI DO 180 AFF

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  3. Prezada Solange: A matéria acima não é do padre do 180, mais da CPT que visitou a seu pedido. Acho que o 180 tem muitas coisas boas que ele defende, como os seus moradores.

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  4. quero saber se no santo antoinio do mapui tem basante serviço de motorista para caminhao. moro em moraes almeida e eu quero vitar essa cidade para ver se consigo algum serviço
    meu email:valdir_manica@hotmail.com

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  5. por favor preciso da ajuda de vcs ai foi um conhecido meu para ai.
    preciso muito falar com ele será que tem como esse meu amigo ser localizado faz poucos dias que ele foi para ai tem radio ai né.
    por favor façam isso por mim. o nome dele é Marcos mais conhecido por (careca)
    preciso muito falar com ele.
    ele foi para ai trabalhar de motorista de caminhão

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  6. Meu nome é Karina Bordignon e sou princesa da Vaqueijada da cidade . Dilma queremos torre celular obrigado dona Dilma

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  7. bom dia por favor auguem ai do 180 sabe me diser o numero do telefone da radio dai porque eu sou do guariba e presiso falar com uma pesoa ai e eu nao sei aonde ele esta por isto presiso do telefone da radio amem

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  8. Quero mudar para 180 e gostaria de saber se estão precisando de loja venda baterias e pecas elétrica para veiculos

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  9. Olá pessoal sou Sérgio o grilo ermao do toco já morei aí fãs uma 20 anos se alguém lembra de nós mande lembranças

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  10. Olá pessoal sou Sérgio o grilo ermao do toco já morei aí fãs uma 20 anos se alguém lembra de nós mande lembranças

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  11. Preciso de algum número da cidade de Humaitá pois tenho uma tia pra ir estou querendo fala muito com ela alguém me ajuda por fbor

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  12. Olá amigos que moram aí no 180 gostaria de comprar uma área de terra aí se alguém tem pra venda entre em contato comigo

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