2ª Plenária Estadual “Direito à Terra, Território e Moradia – Despejo Zero”
A Rede de Direitos Humanos do Estado
de Rondônia, composta por diversos movimentos e organizações sociais e a
Ouvidoria Externa da Defensoria Pública, realiza no próximo dia 27/10/2022, a
2ª Plenária Estadual “Direito à Terra,
Território e Moradia – Despejo Zero”, com o tema “Contra os despejos, o direito de morar e na terra poder plantar e viver”;
que pretende reunir representantes das diversas ocupações urbanas e rurais de
todo o estado de Rondônia para discutir sobre o término da ADPF 828,
popularmente conhecida como ADPF do Ministro Luiz Roberto Barroso, que suspende
execução de despejos na pandemia e, traçar estratégias para acesso as políticas
públicas de terra e moradia por parte das famílias que vivem em ocupações.
Em Rondônia, segundo levantamento
realizado pela Ouvidoria Externa da Defensoria Pública, de março a setembro de
2022, cerca de 16.500 famílias moram em situações precárias em ocupações
urbanas e rurais aguardando soluções judiciais e administrativas que possam garantir
o Direito Humano à terra, território e moradia. Algumas dessas famílias vivem
nessas áreas há mais de 20 anos, como é o caso das 600 famílias que ocupam uma
área localizada no setor chacareiro de Porto Velho, denominada “Área do
Militão”.
Outras famílias ainda, chegaram a
ter reconhecido o direito sobre a posse da área e com isso, foram iniciados os
procedimentos da política de Reforma Agrária por parte do INCRA, como é o caso
do Acampamento Che Guevara, no município de Alto Alegre dos Parecis, em que o
INCRA iniciou o processo de desapropriação, mas que foi interrompido sob
alegação de falta de recursos. As famílias permanecem na área, onde puderam
progredir ao longo dos 23 anos de espera, todavia sem a segurança jurídica da
terra. Agora encontram-se ameaçadas de despejos visto que o INCRA não cumpriu o
pagamento e o antigo proprietário deseja rever a posse da terra. Tais áreas
estão sob acompanhamento da DPE-RO que cumpre um papel fundamental na defesa
dos direitos humanas e na garantida da dignidade humana das famílias ocupantes.
Chama atenção também a situação das
áreas de ocupações urbanas localizadas em Porto Velho, onde a DPE-RO também
atua. Os grupos afetados somam um contingente de mais de 7000 famílias, sendo
que a maioria das ações judiciais discutem o direito de posse entre estas
famílias e empreendimentos imobiliários. Além disso, foi possível identificar
nesta realidade, situações que envolvem famílias indígenas, especialmente
migrantes do estado do Amazonas e imigrantes refugiados de outros países.
Além da ameaça de despejo, este
quadro retrata também a violência física sofrida, como por exemplo o despejo da
Ocupação Seringal Belmonte, nas mediações do Parque Natural de Porto Velho. Os
horrores deste caso, inclusive denunciado pela Imprensa, revelou a ação de
supostos pistoleiros que adentraram na ocupação na madrugada do dia 18/09/2022
causando terror e medo às famílias que se encontravam no local, dentre elas
muitas crianças e idosos. As famílias foram retiradas da área no dia seguinte
aos fatos pela Polícia Militar e encontram-se ocupando um terreno cedido por
particular ao lado do INCRA SR-17 enquanto aguardam decisão judicial para
retorno à área. Nenhuma ação estatal foi movida contra os supostos pistoleiros,
nem contra a empresa que permanece com a propriedade da área, mesmo o INCRA
tendo ação discriminatória de regularização, o que configura tal área como
pública.
Nos últimos anos, Rondônia,
infelizmente, têm se destacado negativamente como palco de violências,
conflitos, homicídio de trabalhadores e lideranças, desmatamento, mineração e
grilagem. Toda essa realidade, na verdade é tensionada pelo avanço do
agronegócio sobre o norte do estado de Rondônia, o sul do Amazonas e o leste do
Acre. Região conhecida como AMACRO.
Mesmo havendo uma recomendação do
STF por suspensão de todos os despejos (ADPF 828), isso não foi suficiente para
evitar que ações de despejo fossem realizadas durante o período da pandemia no
estado de Rondônia. Em 2021,757 famílias foram despejadas e 08 famílias
expulsas, número este que representa mais da metade do total de despejos
ocorridos na Amazônia Legal.
São situações concretas que revelam
todo um aparato do Estado, Justiça, Polícia, governos, alinhados a pretensões
do latifúndio e grilagem de terras. Uma das situações, na Associação dos
Produtores Rurais da Linha 85, antiga Fazenda Vilhena, no município de Vilhena,
as 84 famílias estavam estabelecidas na área há 15 anos, sendo brutalmente
despejadas e tendo todos os seus pertences destruídos durante a torpe operação.
O Estado brasileiro descumpre
sistematicamente seus deveres de garantir o Princípio da Dignidade Humana,
sobretudo no que tange a esse cenário de efetivação da Política de Reforma
Agrária e de Moradia, pois ignora o cumprimento da Função Social da terra que,
consequentemente, gera e potencializa conflitos agrários e fundiários por toda
a Amazônia, tensionando comunidades e ocasionando graves violações aos direitos
humanos e territoriais.
É fundamental, e urgente, garantir a
essas famílias o direito de viver em seus territórios com a segurança jurídica
da terra para que possam constituir vida plena na sua dignidade humana.
Ouvidora Geral Externa da Defensoria
Pública do Estado de Rondônia
Militante dos Direitos Humanos
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