CARTA DA XVII ASSEMBLEIA DA COMISSÃO PASTORAL DA TERRA REGIONAL RONDÔNIA
"Vós
sois o sal da terra [...] Vós sois a luz do mundo.” Mateus 5, 13-14
Em um
mundo totalmente desafiador, que aposta tudo na destruição da natureza e dos
direitos dos pobres, a Comissão Pastoral da Terra de Rondônia reafirma em XVII
Assembleia a fé na promessa de Deus para com o seu povo: Os pobres possuirão
a terra!
É
necessário continuar semeando solidariedade e esperança! Com o Sínodo, acalentamos
o sonho de uma Amazônia respeitosa com os que vivem nas cidades, nos campos,
nas águas e nas florestas. A pandemia quase nos imobilizou, porém, há sementes
germinando, expressas na certeza de que vamos continuar a construir a história
a partir dos povos e comunidades e com os valores da solidariedade. Deus
caminha conosco e junto com as comunidades do campo e da floresta reafirmamos
nosso enfrentamento ao sistema capitalista, movido por um ultraliberalismo que
produz ainda mais desigualdade social.
Na
pandemia, estamos perdendo pessoas queridas. Companheiras/os e parentes continuam
doentes e lutando pela vida e por tratamento digno. Rondônia, neste momento, é o Estado com maior
percentagem de mortes pela pandemia e o menor em taxa de vacinação no Brasil,
situação que demonstra a gravidade que o negacionismo tem levado à população.
Esta
pandemia, relacionada com crise ambiental planetária, expressa a importância da
escolha de representantes públicos voltados a uma responsabilidade ambiental e
social, que promovam ações de conservação e preservação da natureza, do solo e da
água, sendo essa uma missão cada vez mais necessária e afirmativa: O cuidado
com os espaços de vida, produção agroecológica e alimentos saudáveis.
Não nos
intimidaremos diante das propostas de redução continuada dos direitos dos povos,
visto que os conflitos não fazem quarentena. Com a paralização da reforma
agrária e a precarização do trabalho cresceu a escravização das pessoas e o
avanço da fronteira agrícola. A expansão do agronegócio, caracterizado pela pecuária
extensiva e monocultura da soja, associados ao uso sistemático de agrotóxicos,
que significa mais veneno em nossa mesa, e mais pressões nos territórios dos
povos indígenas, comunidades tradicionais e do campesinato amazônico.
A
destruição de nossas florestas, com novos patamares de fogo assombrando o
mundo, incentivada pelas leis de regularização fundiária e redução de Unidades de
Conservação, tendem a legalizar e legitimar a grilagem de terras públicas, a
tolerância com garimpo clandestino e o roubo de madeira em Terras Indígenas e Reservas
Extrativistas. Por outro lado, as famílias camponesas resistem aos processos de
reintegração de posse em plena pandemia, lutando contra as injustiças do
Judiciário, as ameaças da pistolagem, do discurso de ódio e da criminalização
da luta pela terra e reforma agrária.
Contudo,
não renunciamos a nossa palavra, sempre a denunciar o que está acontecendo nas
vastas regiões de Rondônia, somando-se aos bispos da Amazônia, que proclamaram:
“Acompanhamos estarrecidos, mas não inertes, o desenrolar de um arquitetado
projeto genocida que, por sua vez, revela o devastador agravamento de uma crise
que escancara a pobreza diante da escandalosa concentração de riquezas”.
Ressaltamos
ainda, a necessidade dos cuidados com a Casa Comum, em favor da vida e do meio
ambiente, a partir da força que emana dos povos tradicionais e nativos
amazônicos por meio de suas ancestralidades, que seguem vencendo as
dificuldades. Em articulação com as pastorais sociais e do campo, universidades,
organizações sociais e diversos movimentos populares, fortaleceremos a solidariedade
e a resistência. Reafirmamos que a Comissão Pastoral da Terra de Rondônia, assim
como as demais regionais da Amazônia e do Brasil, permanece junto aos Povos da
Terra e das Águas na luta contra os projetos de morte que assolam nossos
espaços de luta e territórios de vida.
Porto Velho, Rondônia, 25, 26 e 27 de maio de 2021.
Acesse a Carta Aberta da XVII Assembleia da CPT-RO
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