PLACAS DE IDENTIFICAÇÃO: TERRITÓRIO QUILOMBOLA PEDE RESPEITO
A
Comunidade Quilombola de Santa Fé, localizada no município de Costa Marques, Rondônia,
Brasil, teve seu título definitivo entregue em 20 de dezembro de 2018 com área
de 1.452,9224 hectares. Nela, ao menos 40 famílias quilombolas reconstroem seu
território, mesmo diante as ações relacionadas a latifundiários e com muita
luta e resistência.
Dessa maneira, a comunidade visando demonstrar por meio de mecanismos físicos de “defesa”, decidiu colocar placas ao longo do território, em especial na beira do Rio Guaporé, permeado de lindas praias, ambiente cobiçado pelos turistas, que mesmo em meio a pandemia deslocam-se à área expondo a comunidade ao risco de contágio do COVID-19 e deixam rastros de lixos pelo local.
Foto: CPT-RO (2020) /Território Quilombola de Santa Fé |
As
belezas do Vale do Guaporé, de um lado, representam espaço de vida e
sobrevivência das comunidades que vivem as suas margens, de outro atraem
anualmente uma vasta quantidade de turistas, impondo, inclusive outras bases
para a economia regional. Neste momento, em que os espaços de vida comunitária
ficam ainda mais vulnerabilizadas, é um desafio à comunidade garantir o
isolamento comunitário dando condições para a continuidade das ações que
subsidiam a vida.
Preocupada
com a segurança de seus membros, a comunidade buscou apoio junto a Comissão
Pastoral da Terra do regional de Rondônia na intenção de “identificar o seu
território”. Essa é uma ação de resistência e cuidado diante da ameaça
ainda presente do corona vírus, mas também fruto de um longo processo de auto
reconhecimento e afirmação da identidade Quilombola.
Além
de resistir a pandemia, os territórios tradicionais resistem cotidianamente aos
interesses do capital, que para a região do Vale do Guaporé representa o saque
das riquezas naturais e a invasão dos territórios tradicionais.
Até o ano de 2019 ainda existiam intrusos na
área da comunidade de Santa-Fé, retirados por ordem judicial. Com oito
comunidades quilombolas conhecidas em Rondônia, sendo elas: Santo Antônio,
Pedras Negras, Forte, Laranjeiras, Comunidade Pimenteiras Santa Cruz, Tarumã,
Santa Fé e Jesus, apenas as duas últimas foram tituladas, embora a resistência
dessas comunidades, é nítida que a demora na demarcação representa a negação
dos direitos a esses povos, como, por vezes, denunciado pela Coordenação
Nacional e Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas, segundo a
qual, no ritmo atual seriam necessários 600 anos para que o Brasil dê respostas aos mais de mil e seiscentos
processos de titulação de territórios quilombolas.
A
atuação do Ministério Público Federal é reconhecida pelas comunidades, que por
vezes, recorrem ao órgão na busca pela garantia de seus direitos coletivos. Enquanto,
que por omissão ou ineficiência, o Estado segue negando direitos básicos como a
demarcação e identificação dos territórios por meio do desmonte de órgão responsáveis
pela pauta, como no caso do Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) de 2021
destinada ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em
que a previsão do orçamento destinado ao “Reconhecimento e Indenização de Territórios
Quilombolas” apresentará redução de -89,80%, cabendo a organizações
sociais o papel de suporte a essas comunidades.
Comentários
Postar um comentário
Agradecemos suas opiniões e informações.