PROCESSOS DE TRANSFORMAÇÃO NA AMAZÔNIA À PARTIR DE PRÁTICAS AGROECOLÓGICAS

Grupo Bem-Viver, Cacoal/RO, Brasil.

As práticas ecológicas constituem a cultura e o modo de vida de muitas comunidades tradicionais, e estiveram na base da resistência de alguns povos migrantes, que adotaram o cuidado com a terra.
Senhor Jesus Ferreira Martins, chegou em Rondônia na década de 70, se estabeleceu no setor prosperidade. Para as famílias a conquista da terra não foi simples, muitos passaram pelo sistema de meia, trabalhando em terras de terceiros pela metade da produção, até conquistarem seu pedaço de chão.
A sustentabilidade não foi um processo fácil, mesmo na terra, muitos vendiam sua mão de obra para as fazendas vizinhas. Quando a Família de Dona Maria de Fatima de Oliveira e Sr.  Antônio Custódio de Oliveira, chegam na região, conhecer os vizinhos foi a primeira preocupação.
Daí as iniciativas de produção, os mutirões e o nascedouro do Grupo de Famílias Agroecológicas Bem Viver.

A família que ali chegava vinha carregada de experiências de organização a partir do Movimento de Pequenos Agricultores e Movimento dos Trabalhadores rurais sem-terra, que juntos vivenciaram a experiência de práticas agroecológicas do Projeto Terra Sem Males desenvolvido pela CPT nos anos 2000.
A fala de Odinira Pires reflete a opção política pela construção coletiva “Se eles (Fátima e Antônio) quisessem nós seriámos empregados deles até hoje, recebendo salário mínimo e estaríamos felizes, porém hoje somos produtores agroecológicos[1]”.
O grupo cresceu, criou redes, estabeleceu espaços junto ao município, participando ativamente de Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, Associações rurais, Cooperativa, Escola, Comunidades eclesiais de base, e mesmo na CPT. Nesse período, jovens do grupo acessaram a universidade e hoje são Educadores do Campo. A condição de vida mudou e a natureza foi sendo recuperada “árvores e pessoas cresceram[2]”.
Encontraram o caminho das feiras, e toda a quinta-feira trazem seus produtos para a Feira do Produtor Rural de Cacoal, no início voltavam com os produtos para casa, hoje tem a confiança dos consumidores pela certeza da qualidade dos produtos e de serem livres de agrotóxicos. A feira e a entrega para a merenda escolar são bases da subsistência hoje.
Olhar para a história e para o que o grupo é hoje “uma verdadeira escola[3]” é refletir sobre o trabalho de muitas mãos, de redes de parceiros estabelecidos pela comunidade, e do serviço pastoral da CPT na construção da agroecologia como alternativa de vivência e convivência com o Bioma.
O cuidado com a terra permitiu ao grupo um ambiente equilibrado, sem que tenham necessidade de utilização de insumos químicos, e mesmo naturais para o controle de pragas e doenças.
As famílias são guardiãs de sementes crioulas, e conscientes do processo de transformação desse bem em comodites patenteadas, conservar e partilhar esse bem faz parte da prática, num levantamento rápido são em média, 48 espécies guardadas por família, cultivadas hoje. A experiência se multiplica e atraí outras famílias, já são 15 na região da zona da mata que motivadas por eles iniciam seus processos de transformação.


[1] Odinira, agricultora agroecológica do Grupo Bem Viver.

[2] Liliana W. A. Dos Santos – CPT/RO.
[3]  Sandra Lobo, assessoria do CAIS.



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