UMA LINDA HISTÓRIA DE VIDA
José Silva Dias é camponês, casado com Maria Aparecida Meneglli Dias, pai de quatro filhos, avô e agente da Comissão Pastoral da Terra Rondônia.
No ano de 1973 deixou Ecoporanga ES e veio com os pais para Rondônia, em busca de terra. Chegaram em Cacoal, e conseguiram adquirir um lote onde a família se estabeleceu e cresceu. A mãe de José Silva e outros 12 filhos, Maria Alves Dias, ficou viúva em 1977, ficou sozinha por um período, mas permanece no mesmo lote até hoje.
Ainda com os pais e mesmo depois de casado, desenvolveu a agricultura convencional, inclusive com cultivo de café, mas já tendo em mente a necessidade de preservação da natureza. Aprendizado retirado com a falta de preservação e da perca dos bens naturais (como a madeira, a caça...) no lote
da família.
Em 1984, ainda com 17 anos, adquiriu um lote no processo de colonização na região de São Miguel. Em 1989, já casado, com dois filhos, estabeleceu residência e iniciou o cultivo de café.
Por volta de 1984, através da Associação Rural Sãomiguelense Para Ajuda Mutua – ARSAPAM, recebeu assistência técnica, num processo de cooperação com os Espanhóis ligados aos padres Claretinos. Eles faziam uma vivência de dois anos com as famílias, apresentando alguns cultivos e técnicas agroecológicas, com isso, introduziu algumas espécies florestais no cultivo de café. Nos idos de 1998 esse mesmo grupo fez um curso sobre manejo de agrotóxicos, na perspectiva de oferecer instruções sobre a forma de uso.
“Quando eu vi que precisava de máscara, a luva, bota, chapéus e roupas, sabia que fazia mal. Eu optei por parar de usar de vez”. Foi uma experiência que gerou susto, a intuição apontava que se precisa de tudo isso de proteção, o perigo é real.
Em 1998 passou a trabalhar com consórcios de cultivos e também a buscar experiências com as quais pudesse aprender.
“Na agroecologia ninguém tem receita pronta, e é onde muitas vezes acertamos, e também erramos”.
Sempre militou na associação e também no Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais. Em 2006 também passou a contribuir com os trabalhos da CPT, em especial na área da agroecologia, coordenando o projeto Natureza Viva (2006-2012).
“Esse foi o período que havia recurso, mas até hoje, eu ainda passo nessas famílias fazendo visitas [...] A gente foi formado para isso, na época tinha Dom Antônio Possamai, o Padre Ezequiel Ramin (1985-1985), a gente era incentivado para isso. Hoje cadê a formação de jovens?”
Mas nem sempre foi fácil, em 2008 a família passou a enfrentar as crises (a economia baseada no café e no leite). Em relação ao leite, as cigarrinhas da pastagem geraram prejuízos, e as lavouras de café envelheceram. Nesse período buscou-se a diversificação da produção com a inclusão do cultivo de frutíferas, já sob influencia do projeto Natureza Viva. Com a agroecologia, as áreas antes desmatadas foram sendo transformadas em consórcios, formando sistemas agroflorestais.
Em 2012 foi a chegada do Café Clonal em Rondônia, o que viabilizou o acesso a mudas. Novamente, ele saiu em busca de experiências para o cultivo desse café. Nenhuma dessas experiências eram agroecológicas.
Em 2013 iniciou o cultivo do café clonal na propriedade, dentro do sistema
agroecológico. A resistência ao uso dos agrotóxicos, adubos químicos e
irrigação permitiu experimentar o uso de compostagem em áreas que depois
chegaram a produzir até 30 sacas por hectare, onde antes produziam 15
sacas. Com o aumento da área plantada, e a pouca disponibilidade de
ainda distante dos níveis utilizados na produção convencional.
Hoje a família mantém uma produção média de 60 sacas de café por hectare.
Desde 2008 participam de concursos estaduais da qualidade do café, através
da COOCARAM. Em 2017 participou do concurso realizado pelo governo
Rondônia. No concurso nacional, mantem-se entre os 30 melhores.
A partir da sua experiência nos diz, que “as vezes quem alcança os melhores
resultados são os mais pequenos e humildes [...] os humildes serão elevados
[...] Aprendi com meu pai, no pouco tempo que estive com ele, e observava as
pessoas ganhar dinheiro com café, depois que casei, meu sogro foi um
incentivador do cultivo do café”.
Com dificuldades para a certificação, pois a vizinhança trabalha com o cultivo
convencional e uso de agrotóxicos, faz as barreiras e quebra-vento para evitar
a contaminação.
“A mensagem que eu deixo é que o sistema agroecológico é viável, durável,
sustentável e dá retorno financeiro. Não adianta dizer que isso aí pode dar
certo, mas só em um hectare. Hoje estou chegando a 4,5 ha plantados e a
propriedade recebe estagiários da EFA Vale do Guaporé e Chico Mendes de
Novo Horizonte”.
da agroecologia e de todos os agricultores e agricultoras familiares e
camponeses que persistem e resistem, mostrando a cada dia, com sua
produção, a viabilidade e a necessidade de desenvolver uma agricultura social
e ecologicamente correta, dando eco ao que nos propõe a caminhada de
cristãos, trabalhadores/trabalhadoras e militantes sociais, e aos apelos que nos
faz o Papa Francisco através da “Laudato Si”.
Celebrar as conquistas, é fortalecer a caminhada e apontar caminhos.
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