Terra e Sangue em Rondônia: até quando?

Acampamento
Terra Nossa (Fazenda Tucumã): uma história de violência e morte
Um dos casos de violência no campo mais
emblemáticos, em Rondônia diz respeito ao Acampamento Terra Nossa (Fazenda
Tucumã), município de Cujubim. Em 31/01/2016, um grupo de sem terras, ao
tentarem retirar alguns pertences do acampamento, de onde haviam sido reintegrados,
foram encurralados por um grupo armado, comandado então pelo Sargento da
reserva, Moises Ferreira de Souza. Desta ação resultou no assassinato de dois
sem-terras, Alysson Henrique Lopes de 22 anos, encontrado carbonizado dentro de
um veículo e Ruan Hildebran Aguiar, até hoje o seu corpo não foi encontrado.
Neste ano, da mesma área, outros 03 sem terras foram assassinados: Roberto
Santos Araújo, 34 anos (01/02/2017), Elivelton Castelo Nascimento (15/02/2017)
e Renato Souza Benevides (04/03/2017), todos testemunhas dos homicídios e
outras violências cometidos no caso da “Fazenda Tucumã”.
Em 19 de abril de 2017, no
município de Colniza, na área conhecida como Gleba Taquaruçu do Norte, sob a
chefia do Sargento da Reserva Moisés Ferreira de Souza, 09 camponeses foram
cruelmente assassinados. A ligação do ocorrido entre o massacre de Colniza com
os assassinatos em Cujubim é evidente para a Polícia, uma vez que, os atos de
violência da milícia armada que protegia a Fazenda Tucumã, em Cujubim,
ocorreram sob o comando do Sargento da Reserva. Presos em flagrante, em
03/02/2016, portando inclusive metralhadoras e armas utilizadas pelo exército,
Moisés e outros três suspeitos conseguiram escapar de dentro da viatura
policial.
Conforme informações veiculadas na
imprensa (12/06/2017), o Sargento Moisés, conhecido como “Moisés da COE”, se
entregou à Polícia em Ariquemes em final de maio deste ano, e será levado à
julgamento no próximo mês, juntamente com Paulo Iwakami (o japonês), pretenso
dono da fazenda Tucumã, Sérgio Sussumu Suganuma, Presidente de Associação Rural
de Rondônia. Em relação aos homicídios, conforme investigações, outros 03
policiais militares estão envolvidos. Todos teriam sido denunciados por
homicídios consumados e tentados, além de crime sob promessa de pagamento e
ocultação de cadáver.
Vão
à Júri
Portanto, no bojo da ação penal nº 0000770-42.2016.8.22.0002, serão levados a Júri, na
data de 15/08/2017, Sérgio Sussumu
Suganuma e Paulo Iwakami (o japonês) serão julgados sob acusação dos homicídios
contra as vítimas Alysson Henrique de Sá Lopes e Ruan Lucas Hildebrandt de
Aguiar; já Rivaldo de Souza (Neguinho), Moisés Ferreira de Souza (Sargento
Moisés) e Jonas Augusto dos Santos Silva (Augusto) serão julgados por dois
homicídios consumados (Alysson e Ruan) e três tentativas de homicídio contra
vítimas do mesmo acampamento.
Eliminação
de testemunhas
O emblemático caso da “Fazenda
Tucumã”, chama a atenção, não só pela violência demonstrada como também
evidencia a ação de milícia privada, fortemente armada, com vínculos claros com
o latifúndio, a grilagem e membros da polícia militar. Denota, igualmente, no
andamento das investigações, mesmo com mandados de prisão e prisão de
suspeitos, a continuidade da ação da milícia. Tanto é verdade que houve uma verdadeira
eliminação de testemunhas, no andamento da questão, uma vez que três camponeses
haviam feito denúncias das milícias armadas com participação dos militares e
estavam os 03 arrolados como testemunhas de acusação, foram mortos. Outra
testemunha, Veronilson Cabral, em 15/05/2017, teve sua casa invadida e foi
vítima de agressões e torturas. Com o detalhe que também Veronilson havia feito
denúncias da participação de militares no crime de pistolagem na região. Outra
testemunha está sobre proteção, em programa institucional. Este caso enfim,
retrata uma triste realidade que reclama atuação enérgica e célere por parte de
quem de direito.
Uma
disputa no tribunal
A sessão do Júri, do dia
15/08/2017, enfim, anuncia uma verdadeira batalha, onde políticos e ex-políticos,
gente do setor da Associação de Produtores de Rondônia, empresários e até o
Superintendente substituto do Incra/RO foram arrolados como testemunhas de
defesa dos pronunciados, contra vítimas, agricultores e sem-terras, entre
outros, foram convidados como testemunhas de acusação por parte do Ministério
Público. Além da violência estampada, sob forma de assassinatos, perseguição,
tortura, tentativas de assassinato e ocultação de cadáveres, o que está em
jogo, e que precisa ser combatida é a ação de grupos e milícias armadas,
envolvendo pistolagem contratada e paga, agravada pela participação de agentes
públicos da ativa e da reserva da própria Polícia Militar do Estado de
Rondônia.
Trata-se, pois, não só de uma
violência orquestrada e implementada pelo consórcio grilagem-pistolagem, como
claramente, uma flagrante demonstração de até onde o latifúndio e a grilagem de
terras pode ir, no caso de Rondônia. Estado, aliás, que no ano de 2016
contabilizou 21 assassinatos no campo, o Estado com o maior número de
assassinatos de camponeses no Brasil. Neste ano, até agora, já 15 casos de
assassinatos, ligados à questão agrária, o que chama à reflexão ao mesmo tempo
que denuncia a impunidade e a inoperância dos órgãos institucionais.
Exigimos a imediata segurança para a esposa de Ademir e todos seus familiares!
Exigimos a imediata segurança para a esposa de Ademir e todos seus familiares!
Comissão Pastoral da Terra-RO
Comentários
Postar um comentário
Agradecemos suas opiniões e informações.