Em defesa das comunidades urbanas, rurais, tradicionais e povos indígenas!
Palavra
de Dom Moacyr Grechi – Arcebispo Emérito de Porto Velho
Matéria
550- Edição de domingo – 13/11/2016
Estamos em clima de final de ano. O ano litúrgico se encerra no próximo
domingo, confirmando que a Deus o tempo pertence e dele recebemos a esperança
para bem viver este momento.
A leitura
dos sinais do presente expressam urgência e responsabilidade quanto às mudanças
e compromissos futuros. Acompanhando a situação do povo brasileiro, que cada
vez mais é excluído de seus direitos: Terra Teto e Trabalho, constatamos a desintegração
e a diminuição do Estado brasileiro, constantes rupturas no processo
democrático, criminalização dos movimentos sociais.
A Proposta
de Emenda à Constituição PEC 241/PEC 55,
em tramitação no Senado, é injusta, antidemocrática e inconstitucional;
significa a derrota de nossa democracia social; é prejudicial para a saúde
pública, a educação, a previdência e os programas sociais; para os direitos
trabalhistas e previdenciários; tira os pobres do orçamento.
A PEC 215 inviabiliza
as demarcações de territórios indígenas e quilombolas e no Congresso Nacional, onde
esta sendo submetida à aprovação, os inimigos destes povos são maioria.
Matopiba, programa
de expansão da fronteira agrícola sobre o Cerrado, abrange áreas do
Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. O acordo celebrado por empresários japoneses
com o governo brasileiro para investimentos e
exploração agropecuária na região viola diretamente territórios dos
povos indígenas, quilombolas e camponeses do Cerrado.
Matopiba
abrange 73 milhões de hectares que incidem sobre 28 Terras Indígenas,
42 unidades de conservação ambiental, 865 assentamentos rurais e 34
territórios quilombolas, sem contabilizar os territórios que estão em
processo de reconhecimento, delimitação, demarcação ou titulação, e que seriam
ainda mais gravemente afetados pela pressão do agronegócio.
Para Dom
Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho e Presidente do Conselho Indigenista
Missionário, em entrevista a Radio Vaticano, “Matopiba nos condena à
destruição”. O Projeto vai atingir três biomas: a Amazônia, a Caatinga, e
principalmente, o Cerrado. Vai causar o agravamento da pobreza e o abandono
forçado dos territórios. Para os representantes do agronegócio, no entanto, os
povos tradicionais, indígenas ou quilombolas, significam apenas um obstáculo ao
desenvolvimento. Para eles, estas populações precisam ser expulsas e eliminadas,
conclui dom Roque.
Representantes
da Arquidiocese de Porto Velho, reunidos na 22ª Assembleia Arquidiocesana de
Pastoral (Ariquemes, 5-6/11), analisaram a realidade e os desafios apresentados
pela estrutura sócio-política, econômica e ambiental, sobretudo da Amazônia, destacando
os pontos críticos que fragilizam a vida humana e o cuidado com nossa casa
comum:
A agressão à
criação por um modelo econômico predatório, o desmatamento e a mercantilização
da vida e dos recursos naturais, o enriquecimento dos grandes mercados das
armas, das drogas lícitas e ilícitas e do tráfico humano, que possuem grandes
portas de entrada em nossa região, a má distribuição de renda, tão visível em
nosso país;
O aumento do
desemprego, do trabalho escravo e exploração do trabalho infantil e a violência
generalizada, com os inúmeros conflitos na disputa pela terra, os altos índices
de homicídio e, em especial, contra mulheres e a juventude; a mobilidade
humana, do campo à cidade, e também ultrapassando as fronteiras nacionais, com
destaque aos refugiados e imigrantes.
O aumento
dos conflitos agrários, a exemplo do que ocorre no Vale do Jamari, onde os
assassinatos são decorrentes da disputa pela terra; invasão das terras
indígenas, por madeireiros, garimpeiros e loteamentos promovidos por agentes
públicos, que se beneficiam de tais conflitos, a criminalização das lideranças
e de movimentos sociais e o descaso com as populações urbanas, rurais,
ribeirinhas e indígenas, com falta de políticas públicas no campo da educação,
saúde, moradia e sustentabilidade.
Denunciando
os projetos de morte, a exemplo da PEC 241 (tramitando no Senado como PEC 55),
os grandes empreendimentos projetados para a região amazônica e a concentração
de terra nas mãos de poucos, os delegados, na Carta Final da Assembleia, motivados
pela palavra “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-o segundo a
vontade de Deus” (Rm 12,1-2), assumiram o compromisso de ser Igreja solidária
na defesa da vida junto às comunidades urbanas, rurais, tradicionais e povos
indígenas (Plano Pastoral 2017-2020).
Neste
penúltimo domingo do ano litúrgico, as leituras bíblicas alargam o horizonte e falam
do “caminho rumo ao fim que todos nós temos que percorrer” (papa Francisco).
Celebramos
com perspectivas da consumação do fim. O anúncio da vitória da vida está
presente no último discurso de Jesus (Lc 21, 5-19). Sabemos ler os sinais
dos tempos? Estamos preparados para um novo começo?
Enquanto
caminhamos o Senhor nos aconselha duas coisas, que são diferentes segundo o
modo como vivemos. Porque é diferente viver no momento e viver no tempo. O
cristão é aquele que sabe viver o momento e o tempo. Podemos tornar-nos
soberanos do momento, mas do tempo, há um só soberano: Jesus Cristo.
A realidade do fim deve nos despertar e nos levar a refletir
sobre o que importa verdadeiramente, sobre o que fica e o que passa.
O profeta Malaquias nos ajuda a responder: a esperança ainda faz
sentido? Ele, um “mensageiro de Deus” anuncia a uma comunidade desanimada que Deus
não abandona seu Povo. O Deus libertador vai intervir no mundo, vai derrotar o
que oprime e rouba a vida e vai fazer com que nasça o sol da justiça que traz a
salvação (Ml 3,19-20a).
E,
para os acomodados, Paulo Apóstolo dá o exemplo do trabalho para o próprio sustento,
ensina-nos que devemos trabalhar com firmeza permanente (2Ts 3,7-12).
No próximo domingo, Festa de Cristo Rei, daremos
inicio à Campanha da Evangelização com o tema: “Ele está no meio de nós”. Ao
contemplar o Deus conosco, somos convidados a enxergar além do que vemos,
percebendo as necessidades materiais e espirituais de nossas Comunidades
Eclesiais e partilhando nossa solidariedade com as ações evangelizadoras da
Igreja. O dia da Coleta para a evangelização será 11 de Dezembro.
No dia 20
vamos celebrar o Dia Nacional dos Cristãos Leigos, homens e mulheres de fé, chamados
a assumir o compromisso de levar a palavra de Deus ao mundo.
Celebraremos
com os leigos que atuam nas nossas comunidades com os casais cristãos que
crescem na santidade familiar. Com as crianças que participam da catequese, que
atuam na Infância Missionária, no serviço dos Coroinhas. Com os homens e
mulheres que contribuem de forma indispensável na sociedade e nas
responsabilidades pastorais. Com os jovens reafirmando a opção preferencial da
Igreja pela juventude. Com os idosos que têm merecido atenção do Papa Francisco
e dos recentes Sínodos da Família.
Queremos
homenagear os cristãos leigos que fazem parte da coordenação das comunidades,
que são agentes da pastoral, que participam ativamente dos serviços e
ministérios. Que são líderes nas dioceses e movimentos. Que são articuladores
nos movimentos, nas paroquias e nas pastorais.
Liderar é um
ato de amor à Igreja. Entre tantos, há os que atuam nas pastorais e movimentos
sociais, ONGs, partidos políticos, sindicatos, Conselhos de Políticas Públicas,
como homens e mulheres da Igreja no coração do mundo (CNBB, doc 105).
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