AMEAÇADOS DE DESPEJO: ENTRE A LUTA E A CELEBRAÇÃO
O Acampamento Nilce de Souza Magalhães é resultado da
organização e da luta dos atingidos por barragens. A mais de 30 anos a Usina de
Samuel foi cravada no estado de Rondônia, deixando marcas profundas de
violações de direitos. Muitas famílias,
arrancadas de suas terras, não conseguiram acessar o direito a Terra novamente.
No dia
06 de julho de 2016, as famílias levantaram acampamento na fazenda Três Casas
localizada no distrito de Triunfo,
município de Candeias do Jamari. O nome do acampamento mantém viva a
história de Nicinha, militante do MAB assassinada em um acampamento próximo a
Abunã onde ela e outras famílias denunciavam as mazelas criadas pela instalação
das Usinas de Jirau e Santo Antônio e o descaso com os pescadores atingidos.
Meses depois de encontrado, o corpo da militante segue pendente o exame de DNA
para confirmar sua identidade, e só após, seus restos mortais poderão ser
devolvidos a família para sepultamento.
A área reivindicada pelas famílias,
possuí um processo de desapropriação no INCRA, que vem desde 2000. E ainda que
o acampamento ocupe uma área pequena e que não impede acesso, nem outras
atividades que possam haver na fazenda, existe ação de reintegração de posse,
cujo cumprimento estava marcado para o dia 20 deste mês, tendo sido adiado por
alguns dias. Durante o período ocorreram outras tentativas de despejo, com
atuação flagrantemente ilegal.
As famílias exercem o direito de
lutar para acessar um pedaço de terra que lhes permita viver com dignidade, e
com isso fazer com que a terra cumpra sua função social.
Mas a luta é formada de vários
elementos, entre eles a espiritualidade que segue viva e marcada nas falas e
nas vidas das pessoas. No acampamento tem pessoas de várias religiões, mas
celebrar é mais profundo.
Neste dia 18 de outubro de 2016, a
Paróquia de Itapuã, o Arcebispo de Porto Velho, pessoas solidárias a esta luta
e famílias acampadas, celebraram a história e a resistência do acampamento,
bebendo da esperança que a Terra que é de Deus, seja a terra dos seus filhos e
filhas que dela dependem para produzir, viver, e partilhar seus frutos.
A celebração relembrou a história da
usina de Samuel, da Militante Nilce que dá nome ao acampamento, e o caminho
trilhado até então, na busca pelo pedaço de chão. Que o ato de celebrar
fortaleça a união e organização das famílias para enfrentar os desafios,
enquanto gesta a certeza de uma luta justa e necessária.
Ouça a prece das famílias acampadas, para que não precisemos ouvir tocar os sinos pela morte da justiça, como conta o texto de Saramago.
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