II ENCONTRO SEM FRONTEIRAS É REALIZADO EM GUAJARÁ-MIRIM-RO
Organizações e movimentos sociais realizam II encontro Sem Fronteiras para debater os efeitos das Mudanças Climáticas na vida dos povos e comunidades na Amazônia ( Brasil - Peru e Bolívia), em decorrência dos grandes projetos.
O encontro que aconteceu entre os dias 23 e 25 de agosto no Centro de Treinamento são José, Guajará-Mirim-RO, reuniu cerca de cem participantes das diversas comunidades e povos dessa região de tripla fronteira.
A proposta de ser em Guajará Mirim foi aprovada em reunião de trabalho no final de fevereiro/16, seguindo um calendário nacional do Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Social, articulador da iniciativa, junto à CNBB, Pastorais Sociais e Movimentos do Campo, da Cidade, das Florestas e das Águas. Isto se deu por sua posição estratégica nesta conexão de rios e Povos inundados e ameaçados por empreendimentos energéticos e de integração econômica, o que requer de nós todos juntos e juntas um olhar cuidadoso como no conclama o Papa Francisco a cuidar da Casa Comum. É preciso ouvir os povos e comunidades para perceber os efeitos das mudanças climáticas na vida destes e de todos nós, para juntos e juntas pensarmos saídas comuns para problemas comuns, e não são as fronteiras geopolíticas que vão barrar a União, Resistência e Solidariedade mútua.
O Seminário teve como objetivos específicos:
a) Retomar a percepção de como as mudanças climáticas são sentidas e estão afetando a vida das pessoas, dos demais seres vivos e da Mãe Terra em cada região;
b) Aprofundar a compreensão crítica das causas provocadoras das mudanças climáticas e suas conseqüências, denunciando os problemas enfrentados pelos povos e comunidades e os diferentes níveis de responsabilidade dos que mantém o sistema dominante;
c) Fortalecer e dar visibilidade ao que está sendo feito, enquanto resistências e alternativas, e construir novas formas de ação locais e articulações nacionais, transfronteiriças e mundiais possíveis e concretas, na perspectiva do bem-viver.
À beira do Rio Mamoré, na tarde no dia 23, deu-se a abertura do encontro com saudações ao grande rio feita pelo povo Oro Warí, acompanhados de depoimentos de violações de direitos dos povos e comunidades, em decorrências dos grandes empreendimentos. Outro momento forte do evento foi a troca de experiências dos povos e comunidades, que conforme seus olhares e saberes foram pontuando as mudanças climáticas e identificando seus causadores.
No segundo dia, com ajuda de alguns pesquisadores ( Prof. Dr. Philip Fearnside do INPA, Prof. Dr. Artur Moret da UNIR e Walter Justiniano de Guayaramerin), militantes locais (Ivanilda Torres – CIMI/AC, Barbara, do Chile) e lideranças indígenas (José Luis Cassupá e Eva Kanoé), foi possível destacar alguns encaminhamentos, tanto em nível local (específico de cada País e ou Estado) quanto em nível mais amplo, a exemplo da participação dos povos e comunidades impactadas, no VIII Fórum Social Panamazônico, a
ser realizado em abril de 2017, na cidade de Tarapoto – Peru, de 28 de Abril a
01 de Maio. (http://www.forosocialpanamazonico.com/bienvenida/como-participar/). Em Rondônia, outros encaminhamentos aprovado foram em relação a participação no Grito dos Excluídos e o embate em relação as usinas de Tabajara no rio Machado e de Ribeirão, no Rio Madeira, ambas no Brasil e a de Cachoeira Esperanza/Bolívia.
Como fechamento do Seminário foi realizado uma mesa com autoridades do Brasil e Bolívia para a entrega de um documento do evento.
Documento entregue às autoridades, no término do encontro, na íntegra.
“Das margens do rio Mamoré nossas vozes ecoam em defesa da
mãe Terra e das filhas e filhos da Terra!”
Vindas e vindos
do Amazonas, do Acre, da Bolívia, de Brasília, do Peru, do Mato Grosso e de
Rondônia; das comunidades indígenas, das comunidades extrativistas
(seringueiros, castanheiros e açaizeiros), das comunidades ribeirinhas, da
agricultura familiar, das cidades, das comunidades de matriz africana, das
comunidades campesinas, das veias dos rios: Madeira, Mamoré, Guaporé, Acre,
Juruá, Purus, Madre de Dios, Abunã, Cabixi, Beni, Jamari, Machado, Juruena, Marmelo,
São Miguel, Moa, Yata, Branco e Pimenta, todos violentados por projetos de
infraestruturas (hidrelétricas, pequenas centrais hidrelétricas,
termoelétricas, rodovias, hidrovias, mineração, pecuária, exploração
madeireira, petrolífera, expansão da monocultura da soja, eucalipto, cana de
açúcar, projetos de REDD, invasões de áreas protegidas, que culminam com
ameaças e mortes de lideranças). Nos encontramos no II Encontro Sem Fronteiras
- Bolivia, Brasil e Peru, na cidade de Guajará Mirim/RO, com o objetivo de
trocar experiências de vida, fortalecer a luta e refletir os impactos desses
grandes empreendimentos e as mudanças climáticas decorrentes da ação do sistema
capitalista, por meio de empresas e governos, que não levam em conta a vida da
Mãe Terra e de suas Filhas e Filhos.
Motivadas e
motivados pela espiritualidade dos povos da floresta, das águas, do campo e das
cidades, em uma só voz denunciamos as várias faces desse desenvolvimento
perverso, que produz o Ecocídio, o Etnocídio e o Genocídio da mãe terra e alimenta
o capitalismo selvagem, mercantilizando os rios, as florestas, o ar e a terra mãe,
expulsando as filhas e os filhos da terra em favor dos projetos, que produzem
morte cultural, econômica, social e organizacional dos povos indígenas,
comunidades tradicionais, campesinos, comunidades de matriz africana e
comunidades urbanas.
Reafirmamos nosso compromisso em
Defesa da Vida, porque “nós somos guerreiras e guerreiros e não vamos deixar que matem a mãe
Terra” e nos unimos em Aliança para impulsionar os processos de informação,
de conscientização, de mobilização e de fortalecimento das práticas milenares,
que defendem o Bem Viver como alternativa e solução para enfrentar as mudanças
climáticas decorrentes deste modelo econômico excludente.
A Panamazônia precisa Viver para que a Mãe
Terra, a Pacha Mama possa garantir a vida sadia das atuais e futuras gerações.
Guajará Mirim,
25 de Agosto de 2016.
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