Rio Guaporé: comunidades quilombolas à espera pela terra e território de direitos
Situados em barrancos, morros,
pé de serras, morando às margens de rios, próximo de grotas, no meio de
florestas e até em pequenas vilas coladas em muitas cidades, é que milhares de
descendentes e remanescentes de quilombo esperam há décadas, serem reconhecidos
verdadeiramente pelo Estado Brasileiro.
A morosidade, a demora e
a falta de vontade política, emperram os processos de regularização fundiária
das comunidades Quilombolas no Brasil. A abertura de processos no INCRA de
reconhecimentos territoriais, assim como, procedimentos de relatórios técnicos
de identificação, delimitação, demarcação e titulação de áreas tradicionais,
tem sido cada vez mais lenta.
Apesar da Fundação
Cultural Palmares nos últimos anos ter emitido várias certidões de auto
definição, muita coisa não andou no campo da regularização fundiária.
foto: Dário Braga |
Todo esse aparato de
falta de apoio e não regularização territorial das comunidades tradicionais tem
gerado um grande ônus para a população quilombola.
Muitos dos territórios
que ainda não foram regularizados, onde vivem essas populações, sofrem com
invasões de mineradoras, grileiros, madeireiros e especuladores, tudo isso vem
destruindo as florestas, fauna e flora e os valiosos recursos naturais que
compõe esses territórios.
Ameaças de despejos, disputas por terras, eminentes conflitos e um clima de insegurança, tem sido também, um cenário que vem sendo desenhado em terras de populações quilombolas nos últimos anos.
Existem hoje, áreas que
estão em litígio há décadas, seja, por problemas de sobreposição, no caso,
quando uma área está dentro de outra, seja, pela própria especulação
imobiliária, com a construção de complexos turísticos, fazendas de soja e até
disputa com o próprio exército brasileiro, como é o caso da comunidade Forte príncipe da Beira, situada na
comarca da cidade de Costa Marques em Rondônia.
foto: arquivo CPT-RO |
Em Rondônia, as comunidades quilombolas
são diversas, na sua maioria, ribeirinhas situadas às margens direita do rio
Guaporé, divisa de Brasil com Bolívia, com
exceção da Comunidade de Jesus, situada num afluente, o Rio São Miguel. São
elas: comunidade Forte Príncipe da Beira,
distrito de Costa Marques, reconhecida pela Fundação Palmares; comunidade de Santa Fé, também no município de Costa Marques, reconhecida pela
Fundação Palmares; Comunidade de Santo Antônio do Guaporé, do município de
São Francisco do Guaporé, a primeira a ser reconhecida em Rondônia; comunidade de Pedras Negras, município de são Francisco do Guaporé, reconhecida pela
Fundação Palmares; comunidade de Tarumá,
vizinha a Rolim, município de Alta Floresta, de apenas quatro famílias,
registraram pedido de reconhecimento e aguardam providências; comunidade de Porto Rolim município de Alta Floresta, ainda sem
reconhecimento; Pimenteiras do Oeste,
o grupo iniciou o pedido de reconhecimento como comunidade quilombola, situada
antigamente em local conhecido como Santa Cruz, atualmente uma área grilada, a
comunidade foi reconhecida pela Fundação Palmares em Dezembro de 2015; Em Laranjeiras, município de Pimenteiras
do Oeste, comunidade reconhecida pela fundação Palmares e o território com
estudo a ser finalizado; Comunidade de Jesus, em São Miguel do
Guaporé. A única reconhecida e titulada, porém enfrenta muitas dificuldades.
Pela situação geográfica, estas comunidades
vivem de forma isolada uma das outras, algumas com acesso apenas fluvial, com meios
de comunicação e transportes precários e escassos.
Essas comunidades, que são fartas em peixe e caça e produção para
subsistência, enfrentam outras dificuldades em relação ao acesso as políticas
públicas como: atendimento de saúde, educação de crianças e jovens, e geração
de renda.
foto: arquivo CPT RO |
Para atenuar esses
agudos problemas, os povos quilombolas vêm enfrentando dificuldades para
manterem seus próprios modos de vida e costumes, com o abandono de sua
população jovem que migra para as grandes cidades sem opção de renda e educação.
As demandas territoriais das comunidades vêm sendo tratado em algumas
audiências públicas, por exemplo da Ouvidoria Agrária Nacional, porém com
dificuldade de participação de representantes
das comunidades. Alguns encontros tem sido realizados com ajuda da CPT
RO, outros por iniciativa do governo, deputados ou do MPF, porém sem
continuidade atual, restando cada comunidade isolada e com pouca possibilidade
de se articularem entre si e com o movimento quilombola nacional.
Passado quase 28 anos da
publicação da Constituição Federal, aconteceram poucos avanços envolvendo seus
direitos territoriais e humanos.
Apesar das propagandas do governo de
que o Brasil saiu do mapa da fome, muitas comunidades tradicionais brasileiras
localizadas em áreas de difícil acesso ainda vivem em situação de risco.
Um relatório que foi divulgado no final
de novembro de 2014, pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), revelou
que 55,6% dos adultos residentes em comunidades quilombolas vivem com fome ou
sob o risco de inanição.
O relatório aponta também o
baixo Índice de Desenvolvimento Humano em que as populações quilombolas vivem,
assim como o isolamento e a falta de apoio dos municípios.
foto: Dário Braga |
Já na semana passada, em visita
ao Brasil, num encontro de Populações Tradicionais que aconteceu estado do Pará,
a relatora da Organização das Nações Unidas (ONU) Rita Izsák, afirmou que os
povos quilombolas enfrentam discriminação, racismo, exclusão e pobreza.
Segundo a relatora, apesar
de 20 anos de reconhecimento do direito de suas terras pela Constituição Federal,
sua efetividade é insatisfatória, pois milhares de comunidades quilombolas
ainda continuam a lutar para que seus direitos sejam reconhecidos.
O cenário se torna ainda
mais preocupante, em decorrência de vários cortes que o governo federal vem fazendo
no INCRA nos últimos anos, esse fator vai
tornar os andamentos dos processos de regularização fundiária em terras
quilombolas, ainda mais demorados.
Dessa forma, a demora na
regularização vai penalizando e martirizando ainda mais as populações quilombolas,
que de um lado são castigadas com os cortes do governo federal e de outro, são
encurraladas e ameaçadas pelo rolo compressor da invasão de suas terras.
Apesar disso a maioria das famílias ainda resiste nos seus territórios,
que ocupam secularmente de forma sustentável, mantém a sua forma s de vida e
tradições. A mais importante, a Romaria e Festa do Divino do Guaporé, que
percorre quase todas elas, a festa de São João em santo Antônio do Guaporé, e
de Nossa Senhora da Conceição, em Pedras Negras. Quase todas as comunidades
criaram associações locais quilombolas e algumas continuam muito ativas na defesa
do seu território tradicional, firmes em alguns casos, como no enfrentamento do
Exército (Forte Príncipe da Beira).
CPT/RO
PARABÉNS PELA NOTÍCIA E PELA DENÚNCIA.
ResponderExcluirÉ triste perceber que no Brasil poucos são valorizados. Ainda bem que existe pessoas que se preocupam e denunciam os descasos.
ResponderExcluirAlém de uma excelente notícia é uma bela informação, pois não achei em lugar algum tais informações com tamanho conteúdo e completude. Parabéns!
ResponderExcluirVamos somar forças por nossos irmãos
ResponderExcluirExcelentes informações. É preciso denunciar as mazelas desse país e enfrentamentos para que o país olhe para suas dívidas históricas.
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