Liderança do MAB em Jirau esta desaparecida
Divulgamos aqui o desaparecimento de Nilce de souza Magalhães, ribeirinha, pescadora que se tornou militante do MAB depois de ser atingida diretamente pela hidrelétrica de Jirau.
Como afirma o MAB no relato abaixo, "Nicinha é conhecida na região pela luta no Movimento dos Atingidos por Barragens em defesa das populações atingidas denunciando as violações de direitos humanos cometidas pelo consorcio responsável pela Usina de Jirau, Energia Sustentável do Brasil (ESBR)".
Conclamamos a todos, especialmente as autoridades que façam as buscas e investigações para desvendar esse estranho sumiço, que leva a crer por todos que Nilcinha foi vítima de uma violência.
Relato do MAB
Nilce de Souza Magalhães,
mais conhecida como ‘Nicinha’, mãe de três filhas, vó de quatro netos,
pescadora e militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) em
Rondônia, desapareceu esse último dia 7 de janeiro, depois de ser vista pela última
vez na barraca de lona onde mora com seu companheiro, Nei, em um acampamento
com outras famílias de pescadores atingidos pela Hidrelétrica de Jirau, no rio
Madeira, na localidade chamada de “Velha Mutum Paraná”, na altura do km 871 da
BR 364, sentido Porto Velho-Rio Branco.
Nicinha foi vista a última vez por uma
companheira de acampamento, quando estava cozinhando e lavando roupa em seu
barraco, por volta do horário de 12 horas do dia 7 de janeiro. Algum tempo
depois, a mesma vizinha sentiu um cheiro de queimado e foi até o barraco dela, a
comida estava queimando, a máquina batendo e Nilce já não se encontrava no
local. Seu companheiro, que estava em Porto Velho voltou quinta-feira pelo
período da noite e ao não a encontrar, pensou que Nilce teria ido à comunidade
de Abunã, onde morava com sua família. No sábado foi até Abunã verificar se
Nilce realmente estava lá, mas ninguém tinha notícias sobre seu paradeiro,
assim como seus parentes em Porto Velho.
Até o momento não houveram buscas pela
polícia, apenas foi encontrado no chão a correntinha que sempre usava em seu
pescoço pela Equipe do Corpo de Bombeiros, próximo a sua barraca no chão e
quebrada, o que pode indicar que ela foi levada a força do local.
Nicinha é conhecida na região
pela luta no Movimento dos Atingidos por Barragens em defesa das populações
atingidas denunciando as violações de direitos humanos cometidas pelo consorcio
responsável pela Usina de Jirau, Energia Sustentável do Brasil (ESBR). Filha de
seringueiros que vieram da cidade de Xapuri, no Estado do Acre para o Abunã em
Rondônia, onde vivia a mais de cinquenta anos até ser atingida pelo
empreendimento. Nos primeiros anos da obra a pesca começou a ser seriamente
comprometida, tornando a vida dos pescadores extremamente difícil. No ano de
2014 sua comunidade também foi atingida por uma grande cheia potencializada
pelo reservatório da hidrelétrica de que alagou as casas das famílias
ribeirinhas, destruindo plantações, materiais de trabalhos, entre outros
pertences.
Os diversos danos causados pelas
hidrelétricas obrigaram Nicinha a se deslocar para “Velha Mutum”, junto a
outros pescadores para tentar continuar a sobreviver do agroextrativismo, onde
não contam com acesso à água potável ou energia elétrica. O local à beira do
rio Madeira e da BR 364, se trata de onde antes estava a comunidade de Mutum
Paraná, que foi completamente removida para o preenchimento do reservatório da
hidrelétrica de Jirau é considerado propriedade privada e os ribeirinhos são
tratados como invasores no seu território.
Nilce realizou diversas denúncias ao longo
desses anos, participando de audiências e manifestações públicas, entre as
quais, apontou os graves impactos gerados à atividade pesqueira no rio Madeira,
assim como o não cumprimento das condicionantes da licença do empreendimento
que obrigam o consórcio a reparar a situação socioeconômica das famílias de pescadores
afetados. As denúncias geraram dois inquéritos civis públicos que estão sendo
realizados pelo Ministério Público Federal e pelo Ministério Público do Estado
de Rondônia sobre a não realização do Programa de Apoio à Atividade Pesqueira e
outro de caráter criminal, em função de manipulações de dados em relatórios de
monitoramento da atividade pesqueira com o objetivo de não revelar tais
impactos.
Também denunciou a existência de diversas
áreas de floresta alagadas pelo reservatório da barragem, onde diversas
espécies de árvores nativas encontram-se mortas, inclusive aquelas essenciais
ao extrativismo como as castanheiras, além da presença de madeiras ilegalmente
enterradas, que estão contaminando a água e gerando a emissão de gases efeito
estufa. Nicinha luta pelo direito das famílias alagadas de Abunã, de tal forma
que participou da última reunião com a hidrelétrica de Jirau, em dezembro de
2015 em Brasília, na qual foi encaminhado que uma comissão de órgãos federais,
como IBAMA e Ministério Público Federal, realizará no início desse ano uma vistoria
nas áreas atingidas pelo reservatório de Jirau, verificando a situação dos
atingidos que precisam ser indenizados e reassentados para áreas seguras.
Qualquer informação ligar nos números 69
9923-0179 ou 3213-4982.
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