Palavra de Dom Moacyr Grechi – Arcebispo Emérito de Porto Velho Matéria 502 - Edição de domingo – 13/12/2015
Dom Roque Paloschi, ponte de
comunhão e esperança!
Nossa saudação
e boas vindas ao novo arcebispo da Arquidiocese de Porto Velho, Dom Roque Paloschi,
que toma posse canônica neste domingo, às 09h, na Igreja São Cristóvão.
Dom Roque já
conhece a hospitalidade de nosso povo, pois participou conosco, em 2009, do
12ºIntereclesial das CEBs. A Igreja Particular
de Porto Velho, escolhida por Deus com amor infinito e chamada a formar na
história a família dos filhos de Deus (LG 40), privilegiada com uma extensa
rede de comunidades urbanas e rurais, ribeirinhas, migrantes, indígenas e de
periferia, é hoje confiada ao seu novo Pastor, que tem como lema “Fiz-me
servo”!
Testemunha
da esperança e missionário do evangelho, assume com confiança e coragem a sua
missão, factus pontifex, constituído
verdadeiramente “ponte” ao encontro de cada pessoa (Pastores Gregis, 65-66). Caminhando à frente do seu rebanho como
fez Cristo (PG 21), ele é o Pastor do povo e dos pequenos, animador duma
espiritualidade de comunhão (PG 22), nota distintiva da missão que sempre
abraçou em sua vida de bispo e presbítero.
Na Amazônia,
o grito da terra, das águas, da floresta, da cidade e dos povos tradicionais
ecoa em seu coração quando acolhe esta nova missão de servir a essa porção do
povo de Deus, dando sequência ao ministério episcopal dos bispos que o precederam.
Consciente da graça de Deus que jamais lhe faltará e entregue “a Deus e à
palavra da sua graça que tem o poder de construir o edifício” (At 20,32),
relembramos o que dom Roque disse certa vez: “Na Igreja, o bispo é o primeiro a
ser chamado, no sentido hierárquico. Ele deve ser um irmão entre os irmãos na
busca da justiça, da paz e da solidariedade”.
Dom Roque chega entre nós, no início do Ano Jubilar da
Misericórdia, para “compartilhar a vida do Povo de Deus, dando a razão da
esperança que está em nós” (1Ped 3,15), para que sejamos “testemunhas da
misericórdia infinita de Deus, agentes de evangelização, artesãos do perdão,
especialistas da reconciliação, peritos da misericórdia” (papa Francisco).
Na abertura
da porta Santa de Bangui, Republica Centro-africana, o papa, transformando-a na
“capital espiritual da súplica pela misericórdia do Pai”, pediu paz,
misericórdia, reconciliação, perdão, amor para o mundo inteiro, de modo
particular, para os países que sofrem a guerra.
Na reflexão
anterior, falamos da perenidade do Advento e da necessidade de entrar no
deserto e caminhar, pois a nossa libertação ainda não está concluída. O 3º
domingo do Advento, denominado Domingo Gaudete (Alegrai-vos!), demonstra que Cristo
Ressuscitado quer renascer ainda hoje, através de nós, a fim de nos libertar
definitivamente.
Não é na
tristeza e no medo que devemos andar e sim, na alegria e na esperança, pois, Deus
precisa de nós para expressar a sua misericórdia e a sua justiça, cada vez que
causamos situações de violência e injustiças na sociedade e na Igreja, todas as
vezes que despojamos as pessoas de sua dignidade e quando condenamos à exclusão
os pequenos e feridos da vida, impedimos que Deus seja Deus, retardamos a nossa
libertação e impedimos que Cristo nasça hoje (Gravel).
A liturgia
deste domingo tem como centro a construção de uma nova história. O nascimento
do Deus pobre desmascara a sociedade que se regula pela injustiça, corrupção, ganância,
abuso de poder.
Se a palavra
do Batista a partir do deserto tocou o coração das pessoas, o seu apelo à
conversão e ao início de uma vida mais fiel a Deus despertou em muitos uma
pergunta concreta: O que devemos fazer? E esta é a pergunta que aparece três
vezes no evangelho deste domingo e brota sempre em nós quando escutamos uma
chamada radical e não sabemos como concretizar a nossa resposta.
“O que
devemos fazer” neste momento grave da vida do país, quando chega até nos “o grito
de dor desta nação atribulada, a fim de cessarem as hostilidades e não se
permitir qualquer risco de desrespeito à ordem constitucional”? E a resposta,
extraída da Nota da CNBB sobre o momento nacional: Nenhuma decisão seja tomada sob o impulso da paixão política ou
ideológica. Os direitos democráticos e, sobretudo, a defesa do bem comum do
povo brasileiro devem estar acima de interesses particulares de partidos ou de
quaisquer outras corporações. É urgente resgatar a ética na política e a paz
social, através do combate à corrupção, com rigor e imparcialidade, de acordo
com os ditames da lei e as exigências da justiça.
O Natal que está para chegar marca a presença de Deus em nosso
meio, “pequeno resto” que procura manter-se fiel ao Senhor (VP). Conosco Deus
quer construir nova história e nova sociedade (Sf 3,14-18a). No evangelho de
hoje aprendemos os requisitos básicos para construir a nova história: partilha,
justiça, fim aos abusos do poder
Para o jesuíta,
pe. Johan Konings, a exigência de mudança deve ser inspirada pela esperança e
pela alegria pelo bem que Deus sempre nos proporciona. A conversão
dos indivíduos e da sociedade exige deixar de lado toda injustiça, mesmo
aquela que faz parte dos costumes de nossa sociedade, como sejam o ágio, a
extorsão, os subsídios ilegais etc. Se fosse hoje, João Batista ensinaria
certamente a pagar imposto e taxas sociais; tudo isso faz parte da conversão
para receber, com Jesus, o Reino de Deus (Lc 3,10-18).
O que devo
fazer para viver a alegria da proximidade de Deus, de um jeito mais limpo e
tornando o mundo mais limpo com suas estruturas mais de acordo com o evangelho
e o Reino?
O mais
decisivo e realista é abrir o nosso coração a Deus olhando atentamente as necessidades
dos que sofrem. João Batista sabe resumir-lhes a sua resposta com uma
fórmula genial pela sua simplicidade e verdade: “Quem tiver duas túnicas, dê
uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça a mesma coisa”. Quando começaremos
a abrir os olhos do nosso coração para ter uma consciência mais viva dessa
insensibilidade e escravidão que nos mantêm, submetidos a um bem-estar que nos
impede ser mais humanos? (Pagola).
Se a
dinâmica missionária de João Batista de lutar por justiça como preparação à vinda
do Senhor, inspira e anima nossa missão de anunciadores e preparadores para a
chegada de Jesus, Paulo Apóstolo, ao exortar os filipenses, pede que nos
alegremos, pois a alegria faz parte da experiência cristã e deve estar presente
neste tempo de espera do Senhor. Alegria que traduzimos em atos de
solidariedade e de misericórdia, acolhendo aqueles que nos rodeiam e jamais
fechando o nosso coração ao amor e ao perdão (Fl 4,4-7).
Nesta
semana, iniciando a tradicional Novena de preparação para o Natal, em família e
na Comunidade, queremos reafirmar que a Novena do Natal é
uma das grandes riquezas da caminhada pastoral da Arquidiocese. Multipliquemos
os grupos e famílias, através do alegre convite de participação.
Nossa Novena do Natal em Família, no 1º dia, tem como tema o
Seguimento de Jesus: “Imediatamente deixaram as redes, foram acolhidos por
Jesus e o seguiram”. O 2º dia reflete os sinais do Advento, o cuidado e a presença
de Deus que nos acolhe sempre e jamais nos abandona.
No 3º dia,
diante do presépio, contemplaremos o testemunho dos seguidores de Jesus,
principalmente do missionário São Francisco Xavier e renovaremos o compromisso
de pertença à Igreja de Cristo que tem por missão “pregar o Evangelho a todos”.
“Todos verão a salvação de Deus” é o tema do 4º dia da Novena, que reflete o mistério
da encarnação do Filho de Deus, a partir da missão de João Batista.
O 5º dia
fala da Maria: “Alegra-te cheia de graça, o Senhor está contigo”. Já o 6º dia nos
leva a celebrar Nossa Senhora de Guadalupe: “Bendita és tu entre as mulheres e
bendito é o Fruto do teu ventre”! No 7º dia somos convidados a nos alegrar com
a proximidade do Senhor em nossas vidas: “Alegrai-vos”! “O Senhor está próximo”!
O 8º dia tem
como tema a cultura do encontro e o encontro entre Jesus, Maria, Izabel e João
Batista, que podem ser confirmados pela acolhida e pertença a uma comunidade
eclesial: “Como posso merecer que a Mãe do meu Senhor me venha visitar”? O 9º e
ultimo dia da novena reforça a acolhida e pertença: “Hoje nasceu para vós um
Salvador”!
Somos
chamados a acolher Jesus que quer nascer em nossa casa, junto às famílias
desalojadas, aos migrantes, aos povos indígenas, aos atingidos pelas barragens,
às famílias isoladas pela chuva, expulsão, lama e inundação. Vem, Senhor Jesus!
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