Ruptura com o passado e início de uma nova vida!

Palavra de Dom Moacyr Grechi – Arcebispo Emérito de Porto Velho
Matéria 456 - Edição de Domingo – 25/01/2015


Ruptura com o passado e início de uma nova vida!

25 de janeiro marca a conversão de Saulo no caminho de Damasco, marcando uma ruptura com toda sua vida passada e o início de uma vida radicalmente nova e diferente, tornando-se o referencial básico para tudo o que viria depois em sua vida, transformando-o no grande discípulo-missionário de Jesus Cristo.
O que aconteceu com Paulo Apóstolo não foi somente uma experiência de Deus que o levou a mudar de vida e a tornar-se seguidor de Jesus, mas foi uma mudança extremamente radical e fora de qualquer lógica humana. E esta conversão ele experimentou da forma mais clara e contundente possível como iniciativa de Deus (Pe. Emer L. Carlos). 
Celebramos, portanto, a vocação de um apóstolo que, fazendo experiência direta de Jesus ressuscitado, determinou a expansão da mensagem de Jesus até os confins da terra. Como Jesus ressuscitado envia a todos em missão, enviou Paulo a anunciar todas as coisas que viu e ouviu a todos os povos, pois a missão de Jesus, hoje, é a mesma missão dos fiéis em favor de toda a humanidade. Formando comunidades comprometidas com os valores do evangelho, continuamos hoje o projeto de Deus, limitados aos esquemas deste mundo, relativizando o que é passageiro, mas procurando transformar as relações, tendo em vista o absoluto do reino de Deus.
A Liturgia deste 3º Domingo (TC) convida-nos à conversão lembrando-nos o quanto Deus nos ama e nos chama à vida plena e verdadeira, mesmo quando nos enveredamos pelos caminhos do mal (Jn 3,1-5.10). O Senhor nos convoca a experimentar o amor de Deus, que é um amor universal, fonte de bondade, de misericórdia e de perdão. Através da história do profeta Jonas, há um chamado e um envio.
O Evangelho de Marcos confirma a necessidade de conversão dos que querem aderir ao Reino, no seguimento de Jesus: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,14-20).
Converter-se significa, acima de tudo, aderir ao projeto anunciado por Jesus. Converter-se é sair do fatalismo que nos faz acreditar que não valemos muito. Não podemos pensar que o mundo nunca vai ser diferente. Diante de nos o exemplo de André, Simão, Tiago e João. Eles decidiram acreditar no Evangelho. Investiram tudo no seguimento de Jesus. Transformaram-se em evangelhos vivos e com sua vida e suas palavras, atraíram muitos outros para a mesma proposta de vida. Tornaram-se “pescadores de homens” (Léo Z.Konzen).
Enquanto a mensagem de Jonas logrou êxito por causa do medo, a mensagem de Cristo solicita conversão pela fé na boa-nova. Enquanto na história de Jonas a aceitação da mensagem faz Deus desistir de seus planos e a história continua como antes, no Novo Testamento vemos que a proclamação da boa-nova exige fé e participação ativa no Reino cuja presença é anunciada (VP).
O “Reino” é uma realidade que Jesus começou e que já está decisivamente implantada na nossa história. Não tem fronteiras materiais e definidas; mas está acontecendo e se concretizando através dos gestos de bondade, de serviço, de doação, de amor gratuito que acontecem à nossa volta e são um sinal visível do amor de Deus nas nossas vidas.
Reino que precisa de colaboradores que saibam cativar as pessoas que necessita do carinho de Deus. Esse cuidado de Deus é aceito na conversão e na fé: conversão para sair de uma atitude não sincronizada com seu amor e fé como confiança no cumprimento de sua promessa.
Deus quer proporcionar ao mundo sua ternura e sua graça. Não quer a morte do pecador, e sim que ele se converta e viva. Jesus convida à conversão porque o Reino de Deus chegou (Konnings).
Por isso pedimos ao Senhor, juntamente com o papa Francisco, a graça de que o nosso coração seja simples, luminoso com a verdade que ele nos dá, e assim possamos ser amáveis, compassivos, compreensivos com os outros, de coração aberto com as pessoas, misericordiosos. Possa o Senhor Deus conceder-nos a graça da luz interior, que nos convença de que só ele é a rocha; e que ele nos acompanhe no caminho, nos alargue o coração, para que possam entrar os problemas de muitas pessoas, e nos conceda a graça de nos sentirmos pecadores.
“O tempo é breve”. Para o Paulo Apóstolo, as realidades e valores deste mundo são passageiros e não devem ser absolutizados (1Cor 7,29-31). Deus convida cada cristão, em marcha pela história, a viver de olhos abertos para o mundo futuro, dando prioridade aos valores eternos, convertendo-se aos valores do “Reino”. Assim, o cuidado de viver bem o casamento, como qualquer outra realidade humana, como o trabalho, o estudo, o dia-a-dia, o bem-estar etc., é uma maneira de relativizar, se este “viver bem” significa: conforme a vontade de Deus, procurando em primeiro lugar seu Reino e sua justiça.
A Igreja não se anuncia a si mesma nem tem um fim em si mesma, mas está a serviço do Reino, exatamente como Jesus fez durante sua vida. Trata-se de anunciá-lo e fazê-lo acontecer, sem resumir a fé ao culto ou à oração, mas envolvendo-os no compromisso com uma nova sociedade, mais humana e solidária. Afinal, o Reino de Deus realiza-se em novas relações: de filiação estabelecida com Deus e de fraternidade estabelecida entre as pessoas (VP).
A Carta Encíclica “Lumen Fidei” convida-nos a refletir a glória de Deus, pois, “a luz de Jesus brilha no rosto dos cristãos como num espelho, e assim se difunde chegando até nós, para que também nós possamos participar desta visão e refletir para outros a sua luz, da mesma forma que a luz do círio, na liturgia de Páscoa, acende muitas outras velas”.
A fé transmite-se por assim dizer sob a forma de contato, de pessoa a pessoa, como uma chama se acende noutra chama. Os cristãos, na sua pobreza, lançam uma semente tão fecunda que se torna uma grande árvore, capaz de encher o mundo de frutos.
A transmissão da fé, que brilha para as pessoas de todos os lugares, passa também através do eixo do tempo, de geração em geração. Dado que a fé nasce de um encontro que acontece na história e ilumina o nosso caminho no tempo, a mesma deve ser transmitida ao longo dos sécu­los. É através de uma cadeia ininterrupta de tes­temunhos que nos chega o rosto de Jesus (LF 37-38).
Através das manifestações cristãs dum povo evangelizado, o Espírito Santo embeleza a Igreja, mostrando-lhe novos aspectos da Revelação e presenteando-a com um novo rosto. Pela inculturação, a Igreja introduz os povos com as suas culturas na sua própria comunidade, porque cada cultura oferece formas e valores positivos que podem enriquecer o modo como o Evangelho é pregado, compreendido e vivido (EG 116).
Certamente somos chamados a crescer como evangelizadores. Devemos procurar simultaneamente uma melhor formação, um aprofundamento do nosso amor e um testemunho mais claro do Evangelho. Neste sentido, todos devemos deixar que os outros nos evangelizem constantemente; isto não significa que devemos renunciar à missão evangelizadora, mas encontrar o modo de comunicar Jesus que corresponda à situação em que vivemos.
Somos todos chamados a dar aos outros o testemunho do amor de Deus que, sem olhar as nossas imperfeições, nos oferece a sua proximidade, a sua Palavra, a sua força, e dá sentido à nossa vida. A nossa imperfeição não deve ser desculpa; pelo contrário, a missão é um estímulo constante para não nos acomodarmos na mediocridade, mas continuarmos a crescer. O testemunho de fé, que todo o cristão é chamado a oferecer, implica dizer como São Paulo: “Não que já o tenha alcançado ou já seja perfeito; mas corro para ver se o alcanço, lançando-me para o que vem à frente” (Fl 3,12-13; EG 121). 
Que o Senhor nos dê coragem para “sair ao encontro das pessoas, das famílias, das comunidades para compartilhar o dom do encontro com Cristo, que tem preenchido nossas vidas de sentido, verdade e amor, alegria e esperança”! 
Coragem “para nos convertermos em uma Igreja cheia de ímpeto e audácia evangelizadora”, que “abraça com o amor de Deus a todos e especialmente aos pobres e aos que sofrem”. Ajude-nos a companhia sempre próxima, cheia de compreensão e ternura de Maria Santíssima. Que nos ensine a sair de nós mesmos no caminho de sacrifício, de amor e serviço, como fez na visita a sua prima Isabel, para que, peregrinos no caminho, cantemos as maravilhas que Deus tem feito em nós, conforme a sua promessa (DAp 548-554).

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