Natal e o triunfo da justiça!
"Para que a libertação se torne realidade, é preciso que a justiça triunfe e que cesse toda forma de exploração (Is 61,1-2a.10-11). É preciso reconstruir a cidade e reestruturar o campo, através de uma nova política agrícola". (...) "Derrubemos, sobretudo, em nossa sociedade, tudo o que atenta contra a dignidade humana, contra a vida e a beleza da criação".
policias no despejo e destruição das casas do Acampamento Monte Verde em Monte Negro Ro f. divulgação |
Palavra de Dom Moacyr Grechi – Arcebispo Emérito de Porto Velho
Matéria 450 - Edição de Domingo – 14/11/2014Natal e o triunfo da justiça!
Hoje, bem mais próximos da celebração do Natal, o testemunho fala mais alto. Nesse Domingo da Alegria, somos chamados a fazer uma parada, abrir o nosso coração para a verdade e renovar a nossa caminhada como seguidores de Cristo Jesus.
Refletimos anteriormente sobre a vigilância e a necessidade de mudança de vida. O profeta Isaías, enviado para proclamar a Boa Notícia da libertação, tem como destinatários os pobres, sempre receptivos, acolhedores, fraternos: “Eles serão chamados de carvalhos da justiça, plantação do Senhor Deus”.
Para que a libertação se torne realidade, é preciso que a justiça triunfe e que cesse toda forma de exploração (Is 61,1-2a.10-11). É preciso reconstruir a cidade e reestruturar o campo, através de uma nova política agrícola. Direito e justiça devem caminhar juntos; através deles haverá alegria, fidelidade a Deus, bênção e reconhecimento das nações: “Assim como a terra faz brota uma nova planta e o jardim faz germinar suas sementes, assim também o Senhor Javé faz brotar a justiça e o louvor na presença de todas as nações”.
Dar testemunho é a grande característica de João Batista narrada pelo evangelista João. Com a missão de preparar a vinda de Jesus, ele nos convoca a “endireitar o caminho do Senhor” (Jo 1,6-8.19-28).
Ao ser perguntado sobre quem ele era, pelas autoridades judaicas, responde-lhes: “Eu sou a voz que grita no deserto: aplainai o caminho do Senhor, conforme disse o profeta Isaías”. João é a voz anônima que faz ecoar, em meio à situação de opressão, vivida pelo povo, o grito da esperança. Ele prepara o povo para a chegada do Messias: “depois de mim, virá Aquele de quem não sou digno de desamarrar a correia das sandálias”. João tem consciência de seu papel, conhece o seu lugar na história da salvação, e comunica isso aos seus interlocutores. Ele vai à frente preparando os corações para o encontro com o Senhor; com seu brado diz ao povo que os seus temores podem cessar, pois Aquele que chega irá lhes fazer justiça.
Possa a Novena do Natal contribuir para que todos nós acolhamos a luz. Como João Batista, podemos transformar nossa vida em reflexo da luz verdadeira. É Jesus que deve brilhar por meio de nosso jeito de ser e agir. Que trevas existem em nós que precisam ser dissipadas?
Para João, dar testemunho da luz consistia em despertar o desejo e a esperança da vida, anunciar a possibilidade de uma vida plenamente humana, como alternativa ao regime das trevas. A fé cristã é alegria que perpassa toda a vida. Essa alegria não está nos caprichos de nossos estados de espírito, ou nos sucessos de nossas vidas.
A grande e verdadeira alegria é conhecer a Jesus e fazer com que outros o conheçam. Essa é a única e verdadeira alegria. João Batista, para quem a conversão consistia em voltar a viver o amor a Deus no próximo, pelo abandono do pecado, testemunha que ninguém, em qualquer condição humana, pode viver sem o amor de Jesus.
Paulo Apóstolo dirige sua mensagem aos cristãos de Tessalônica, dando orientações para a vida da comunidade. Pede que vivam sempre alegres e sejam gratos. Tendo por fundamento o amor fraterno, a comunidade não precisa temer. Pelo contrário, pode alegrar-se sempre, pois a alegria do cristão funda-se na fé no Senhor Jesus.
Suas palavras são uma exortação para sermos íntegros e irrepreensíveis, vivendo conforme a vontade do “Deus da paz”, que nos concede a santidade perfeita e nos sustenta nesta caminhada ao encontro do Senhor que vem (VP). Essa paz divina é muito mais do que a ausência de conflitos, não consiste em mera tranquilidade, mas está ligada à reconciliação definitiva com Deus e com as bênçãos messiânicas.
No início de dezembro, o papa Francisco reforçou a necessidade de cultivar a alegria cristã: Não serve uma Igreja reduzida a museu, nem sequer uma estrutura com um organograma perfeito, onde tudo está no lugar, tudo é claro, mas falta a alegria, a festa, a paz.
Assim como uma pessoa é consolada quando sente a misericórdia e o perdão do Senhor, também a Igreja faz festa, é feliz quando sai de si mesma. A alegria da Igreja é sair de si mesma para dar a vida, testemunhando a ternura do pastor, a ternura da mãe. Não sejamos “cristãos tristes, impacientes, desanimados, ansiosos”, mas busquemos “a consolação da ternura de Jesus e a sua misericórdia no perdão dos nossos pecados”.
Neste Advento, olhemos para Maria, aquela que sabe transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura. Ela é a serva humilde do Pai, que transborda de alegria no louvor.
É a amiga sempre solícita para que não falte o vinho na nossa vida. É aquela que tem o coração trespassado pela espada, que compreende todas as penas.
Como Mãe de todos, é sinal de esperança para os povos que sofrem as dores do parto até que germine a justiça.
Ela é a missionária que Se aproxima de nós, para nos acompanhar ao longo da vida, abrindo os corações à fé com o seu afeto materno. Como uma verdadeira mãe, caminha conosco, luta conosco e aproxima-nos incessantemente do amor de Deus.
Através dos diferentes títulos marianos, geralmente ligados aos santuários, compartilha as vicissitudes de cada povo que recebeu o Evangelho e entra a formar parte da sua identidade histórica.
Muitos pais cristãos pedem o Batismo para seus filhos num santuário mariano, manifestando assim a fé na ação materna de Maria que gera novos filhos para Deus. É lá, nos santuários, que se pode observar como Maria reúne ao seu redor os filhos que, com grandes sacrifícios, vêm peregrinos para vê-la e deixar-se olhar por Ela. Lá encontram a força de Deus para suportar os sofrimentos e as fadigas da vida. Como a São João Diego, Nossa Senhora de Guadalupe oferece-lhes a carícia da sua consolação materna e diz-lhes:
“Não se perturbe o teu coração. Não estou aqui eu, que sou tua Mãe?” (EG 286).
Com Maria, intensifiquemos nossa preparação para celebrar o natal de Jesus. Para acolher em nossas vidas esta nova visita de Jesus e participar de sua família, fazendo-a crescer e tornar-se ainda mais unida, precisamos obedecer à voz do Espírito que clama no deserto de nossos corações: Aplainem os caminhos do Senhor!
Derrubemos o muro da divisão de nossos lares; derrubemos tudo o que nos divide: os muros da discriminação, seja de raça, de gênero, de religião; os muros da indiferença, da passividade, da incredulidade...
Derrubemos, sobretudo, em nossa sociedade, tudo o que atenta contra a dignidade humana, contra a vida e a beleza da criação.
A proximidade do Natal convida-nos, não a lamentar os desafios e as dificuldades desta tarefa, mas a alegrar-nos, pois Deus, em seu Filho, continua vindo a nós, vindo sempre, caminhando conosco e dando-nos força a fim de colaborarmos na construção de um mundo mais livre e mais feliz (Ihu).
A fonte desta alegria esperançosa nós a encontramos no Cântico de Zacarias: “Graças ao misericordioso coração do nosso Deus, o sol que nasce do alto nos visitará, para iluminar os que vivem nas trevas e na sombra da morte; para guiar nossos passos no caminho da paz” (Lc 1,78-79).
Hoje, somos convidados a dar a nossa contribuição para o sustento do trabalho evangelizador da Igreja. O convite vem na forma da Campanha para a Evangelização, feita em todas as comunidades do Brasil, em base ao compromisso evangelizador de cada batizado.
Oremos nesta semana o Salmo 18 pedindo: “Vem, Senhor Jesus, fortalecer a nossa caminhada”: No céu se desdobra a glória de Deus! O firmamento proclama seu poder criador. Na sequência dos dias e das noites, flui um anúncio, transmite-se uma mensagem. Sem palavras nem discursos, não se ouve nenhuma voz. Entretanto, o seu murmúrio ecoa por toda a terra, o seu ritmo se propaga até os confins do universo. Lá armou o Senhor uma tenda para o sol. Como o herói alegre e destemido, assim é o sol quando se levanta, para percorrer o céu de um extremo ao outro. Nada há quem escape ao seu calor ardente.
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