Defensor da vida, esperança dos pobres!

,,Estamos nos preparando para o IV Congresso da Comissão Pastoral da Terra que vai acontecer aqui em Porto Velho (julho/2015), ocasião em que a CPT comemora 40 anos. (...) Tendo como tema/lema: “Faz escuro, mas eu canto: memória, rebeldia e esperança dos pobres do campo”, o congresso vai celebrar a caminhada das comunidades rurais, sua luta contra as injustiças e em defesa da terra e promoção da vida.,,

Palavra de Dom Moacyr Grechi – Arcebispo Emérito de Porto Velho
Matéria 445 - Edição de Domingo – 09/11/2014



Defensor da vida, esperança dos pobres!

Deus se manifesta Defensor da Vida dos pobres e excluídos. Ele, o aliado dos sofredores empobrecidos, sempre denunciou, por meio dos profetas, a exploração da religião (VP); sempre ouviu o clamor dos marginalizados.

Jesus, ao encontrar no templo “vendedores e cambistas”, exploradores do povo, que colocavam Deus na sua corrupção, colocando-O distante dos pobres (Ihu), não concorda com essa situação e expulsa-os do templo. O tempo messiânico encontra sua plenitude na morte e ressurreição de Jesus. Ele aboliu os sacrifícios do Templo, manifestando-se contrário a essa religião opressora e inaugurou na sua Páscoa um novo Templo!

O evangelho de São João (Jo 2,13-22) está no contexto da celebração de hoje: “Festa da Basílica de São João de Latrão”, catedral de Roma, mãe de todas as nossas igrejas. Através de sua consagração (dedicação) celebramos todas as construções religiosas que dão visibilidade as nossas comunidades e são lugares de encontro com Cristo. “A Igreja é nossa casa”! (DAp 246).

Jesus revela-nos que o “Templo de seu Corpo” supera seus limites materiais para se estender ao “corpo constituído” dos crentes, à Igreja e, através dela, à humanidade inteira. A Presença de Deus não se encontra “nem em Jerusalém nem nesta montanha” (Jo 4,19s), mas em todo lugar.

Celebramos, portanto, a própria Igreja que é o Corpo do Cristo e o Templo do Espírito recordando que o verdadeiro templo de Deus é aquele formado de pedras vivas e que tem como alicerce o próprio Jesus. Somos “a construção de Deus” (1Cor 3,9c-11.16-17). Com Cristo, somos o lugar onde Deus reside: “se alguém me ama a ele viremos e nele estabeleceremos morada” (Jo 14,23). “Sei que Deus mora em mim como sua melhor casa” (Adélia Prado).

Cristo, Defensor da Vida dos pobres e excluídos, não permita que sejamos insensíveis ao grito da fome, ao clamor dos povos indígenas, à agonia da terra.

Grito da Fome: A Semana da Solidariedade (7-14/11), promovida pela Cáritas Brasileira acontece no contexto da campanha mundial “Uma família humana: pão e justiça para todas as pessoas”.

“Ecoa o grito de tantos irmãos e irmãs nossos que, em diversas partes do mundo, não têm o pão de cada dia”, escreve o papa Francisco ao diretor geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, por ocasião da Jornada Mundial da Alimentação. Apesar dos avanços em muitos países, os últimos dados continuam apresentando uma situação inquietante, agravada pela diminuição geral das ajudas públicas ao desenvolvimento; 805 milhões de pessoas no mundo sofrem de fome.

Para o papa, “há um aspecto importante do problema que ainda não recebeu a devida consideração nas políticas e nos planejamentos de ação: quem sofre a insegurança alimentar e a desnutrição são pessoas e não números, e, precisamente por causa da sua dignidade como pessoas, elas estão acima de qualquer cálculo ou projeto econômico”.

Clamor dos povos indígenas: A garantia dos territórios aos povos indígenas é um direito conquistado e consignado na Constituição Federal, com árdua luta de muitas pessoas da sociedade brasileira. Infelizmente, interesses econômicos têm impedido a demarcação das terras indígenas, que é a concretização do direito constitucional. Por isso, grande parte dos povos indígenas do Brasil continua vivendo exilada de suas terras devido ao esbulho e à violência histórica cometida contra suas comunidades.

Questionar as demarcações das terras indígenas no poder judiciário tem sido uma estratégia utilizada com vistas a retardar ou paralisar as ações que visam a garantia de acesso dos povos originários aos seus territórios tradicionais. Enquanto aguardam a demarcação de suas terras, várias comunidades indígenas ficam acampadas à beira de rodovias ou nas poucas áreas de mata nos fundos de propriedades rurais, sem direito à saúde, à educação, a água potável, sofrendo ações violentas.

A Igreja, através da CNBB, divulgou esta Nota no dia 23 de outubro, manifestando sua preocupação em relação aos direitos dos povos indígenas, após a decisão da 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal-STF que anulou os efeitos da Portaria Declaratória nº 3.219/2009, do Ministério da Justiça, que reconhece a Terra Indígena Guyraroká, do Povo Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, como de ocupação tradicional indígena. Lamentou, igualmente, a anulação, pela mesma 2ª Turma do STF, da Portaria 3.508/2009 que declara a Terra Indígena Porquinhos, no Maranhão, como de posse permanente do grupo indígena Canela-Apãniekra.

Com a CNBB esperamos que não haja retrocesso na conquista dos direitos indígenas, especialmente quanto à demarcação de seus territórios. Concluir o processo de demarcação das terras indígenas é saldar uma dívida histórica com os primeiros habitantes de nosso país e decretar a paz onde há graves conflitos que vitimam inúmeras pessoas. E que Deus nos dê forças para garantir os direitos dos povos indígenas e de todos os brasileiros, superando toda atitude de abandono e descarte das populações originárias (CNBB).

A agonia da terra: O relatório sobre mudança climática, apresentado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, em Copenhague, afirma que 95% das mudanças climáticas foram causadas pela atividade humana. A Terra caminha para um aumento de pelo menos 4ºC até 2100, com grandes secas, inundações, aumento do nível do mar e extinção de muitas espécies, além da fome, populações deslocadas e conflitos potenciais. O relatório alerta que os danos causados por estas mudanças poderão ser irreversíveis, mas ainda há formas de evitá-los. Segundo o secretário-geral da ONU, o relatório mostra que o mundo está mal preparado para os riscos das mudanças no clima, especialmente os pobres e mais vulneráveis, que contribuíram menos para este problema.

O papa Francisco, dirigindo-se aos participantes do Encontro Mundial dos Movimentos Populares (27-29/10), incluiu o tema terra: No início da criação, Deus criou o homem para ser guardião da sua obra, confiando-lhe o encargo de cultivá-la e protegê-la... Camponeses (que) guardam a terra, cultivam-na e o fazem em comunidade. Preocupa-me o desenraizamento de tantos irmãos que sofrem por este motivo e não por guerras ou desastres naturais. A monopolização de terras, a deflorestação, a apropriação da água, os pesticidas inadequados, são alguns dos males que arrancam o homem da sua terra natal. Esta dolorosa separação não é só física, mas também existencial e espiritual, porque existe uma relação com a terra que coloca a comunidade rural e o seu peculiar estilo de vida em decadência evidente e até em risco de extinção.

E, em comunhão com a luta e a causa dos movimentos populares, o papa se expressou: Tendes os pés na lama... o vosso cheiro é de bairro, de povo, de luta! Queremos que a vossa voz seja ouvida, a qual, normalmente, é pouco escutada. Talvez porque incomoda, talvez porque o vosso grito incomoda, talvez porque se tem medo da mudança que vós pretendeis, mas sem a vossa presença, sem ir realmente às periferias, as boas propostas e os projetos que muitas vezes ouvimos nas conferências internacionais permanecem no reino da ideia.

Não se pode enfrentar o escândalo da pobreza promovendo estratégias de contenção que só tranquilizam e transformam os pobres em seres domesticados e inofensivos. Como é triste ver que, por detrás de presumíveis obras altruístas, o outro é reduzido à passividade, é negado ou, ainda pior, escondem-se negócios e ambições pessoais: Jesus defini-los-ia hipócritas. Mas como é agradável quando se veem em movimento povos e, sobretudo os seus membros mais pobres e os jovens. Então sim, sente-se o vento de promessa que reacende a esperança num mundo melhor. Que este vento se transforme em furacão de esperança.

Estamos nos preparando para o IV Congresso da Comissão Pastoral da Terra que vai acontecer aqui em Porto Velho (julho/2015), ocasião em que a CPT comemora 40 anos. Foram os conflitos na Ama­zônia, que se avolumavam a cada dia, que levaram a Igreja a constituir uma comissão para interligar e assessorar os trabalhos que diversas dioceses faziam para apoiar agricultores e famílias do campo, que tinham seus direitos desrespeitados e sofriam violências. Tendo como tema/lema: “Faz escuro, mas eu canto: memória, rebeldia e esperança dos pobres do campo”, o congresso vai celebrar a caminhada das comunidades rurais, sua luta contra as injustiças e em defesa da terra e promoção da vida.

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