Povo trabalhador não aceita escravidão!

Palavra de Dom Moacyr Grechi – Arcebispo Emérito de Porto Velho
Matéria 436 - Edição de Domingo – 07/09/2014

Novo seminário sobre tráfico de pessoas e trabalho escravo
está sendo realizado em Porto Velho este final de semana.

Povo trabalhador não aceita escravidão!

Setembro, mês da Bíblia, semana da Pátria, semana Nacional de Luta pela Reforma Política Democrática, Grito dos Excluídos!

Celebramos hoje com o nosso povo suas lutas e esperanças. Cristo foi um excluído por se aproximar dos pobres, doentes, discriminados da sociedade. Sua Boa Notícia foi de libertação. Pagou com a própria vida por ter feito esta opção. Seu exemplo e palavras nos fortalecem: “No mundo vocês terão aflições! Coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16, 33b).

A 27ª Romaria dos Trabalhadores que acontece em Aparecida tem como tema “Mãe negra Aparecida, padroeira deste chão, o povo trabalhador não aceita escravidão”. É o grito da Pastoral Operária e Migrante, é o grito de todas as famílias de trabalhadores.

Tema ligado à Campanha da Fraternidade de 2014, “Fraternidade e Tráfico Humano”.A escravidão apresenta-se de diferentes maneiras; em todas elas, os trabalhadores têm sua dignidade negada por meio de condições degradantes de trabalho ou por jornadas que vão além do que se pode suportar, sendo em alguns casos forçados a trabalhar sob violência, ameaça ou dívida fraudulenta. São tratados como mercadoria. A nova lei contra o trabalho escravo (PEC do Trabalho Escravo) tem como melhorar a vida de milhares de brasileiros hoje submetidos à escravidão. Este é um problema grave a ser enfrentado com coragem. Trabalho degradante é trabalho escravo, e trabalho escravo é crime.

Durante esta semana, mais de 400 organizações sociais, incluindo os movimentos e pastorais católicas, estão promovendo em todo o Brasil coletas de assinaturas para o Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Reforma Política e Eleições Limpas e recolhimento de votos para o Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político. As duas iniciativas, apoiadas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), buscam colocar em evidência debates sobre as necessárias mudanças políticas no país. (continua)

“No Brasil a política é exercida de uma forma pouco transparente, sem a participação do povo e, sobretudo, é extremamente cara, porque, em primeiro lugar, olha-se o interesse corporativista dos políticos”, afirma o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e a Educação da CNBB, dom Joaquim Giovani Mol Guimarães. Por isso, as comemorações da Independência do Brasil tem significado “muito especial” com a participação do povo brasileiro na coleta de assinaturas para poder aprovar um projeto de lei no Congresso Nacional que ajude a reformar o âmbito político do Brasil.

O projeto de lei de iniciativa popular pela Reforma Política e Eleições Limpas é organizado por uma Coalizão formada por mais de uma centena de entidades, entre elas a CNBB, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE).A proposta, protocolada no Congresso Nacional com o número 6.316 de 2013, tem o objetivo de afastar das eleições a influência do poder econômico sobre as candidaturas, proibindo o financiamento das campanhas com dinheiro privado; alterar o sistema eleitoral, implementando eleição em dois turnos, sendo o primeiro para escolha de uma proposta e o segundo para eleição da pessoa que a colocará em prática; fortalecer a participação das mulheres e demais grupos subrepresentados; além da regulamentação do artigo 14 da Constituição Federal, para intensificar os mecanismos de participação popular, como Projeto de Lei de Iniciativa Popular, do Plebiscito e do Referendo, mesclando a democracia representativa com a democracia participativa.

A outra iniciativa, como esclarecemos anteriormente, é promovida por centenas de movimentos sociais, busca a instalação de uma Assembleia Nacional Constituinte para mudar o sistema político no Brasil. O plebiscito popular serve para pressionar as instâncias governamentais a convocar um Plebiscito Oficial para ouvir a população sobre a convocação da Constituinte.

Estas celebrações, coletas, gritos e manifestações abrem o Mês da Bíblia, tempo especial que chama a nossa atenção para a importância da Bíblia em nossa vida. Momento propício para fortalecer a nossa fé, lembrando-nos da necessidade de conhecer a revelação de Deus contida na Bíblia, sobretudo a vinda do Messias, que é Jesus.

Bíblia, farol que ilumina e guia o caminho e aatuação da Igreja de Cristo (DAp 180); “alma da ação evangelizadora” (DP 372; DAp 248),Palavra encarnada que anima, inspira e interpela; que integra a fé com a vida.

A Bíblia faz parte da caminhada de nossas comunidades: conhecer, viver e celebrar a Palavrade Deus através dos grupos de reflexão, encontros nas famílias, nos quarteirões, nos círculos bíblicos, favorecem a vida e missão da comunidade eclesial e da rede de CEBs nas paroquias.

O Cristianismo é a religião da Palavra de Deus, não de uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo. Na Exortação apostólica “Verbum Domini”, de Bento XVI sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, anunciar a Palavra de Deus no mundo em que vivemos é nossa incumbência.

O compromisso com a justiça, a reconciliação e a paz tem sua raiz última e seu cumprimento no amor que Cristo nos revelou; todos os crentes tem que compreender a necessidade de traduzir em gestos de amor a Palavra escutada, porque somente assim torna-se crível o anúncio do Evangelho (C.Ramirez). O amor constitui-se em uma espécie de critério de verdade sobre a seriedade com a qual tomamos a palavra de Deus. Por isso, afirma-se no documento que “aquele que acredita ter entendido as Escrituras, ou alguma parte delas, e com essa compreensão não edifica esse duplo amor de Deus e do próximo, ainda não as entendeu” (VD 103).

O Mês da Bíblia tem contribuído eficazmente para o crescimento da animação bíblica de toda pastoral. Desde 2012 estamos aprofundando o tema “Discípulos missionários a partir dos Evangelhos”. Conforme a sequência do Ano Litúrgico, o Evangelho de Marcos em 2012, Lucas em 2013, Mateus neste ano de 2014 e João em 2015.Cada Evangelho está sendo relido na perspectiva da formação e do seguimento, destacando o que é específico de cada evangelista, bem como da comunidade que está por trás de cada Evangelho.

Mateus era um homem de Igreja, coordenador de comunidade, preparado e autorizado. Era pastor de almas, não escreveu de gabinete, mas no contexto da comunidade, ou seja, na realidade concreta dos seguidores de Jesus. Ele apresenta Jesus como: o Mestre da Justiça (Mt 3,15): a palavra e a ação de Jesus educam a comunidade para a prática de justiça e ensinam como realizar a vontade do pai.

Como o Messias (Mt 16,15): ele é a síntese de todas as promessas do AT. Como o Emanuel(Mt 1,23): que significa “Deus está conosco”. Como a Boa Nova: três pontos altos: o sermão da montanha; a sabedoria do Reino e as parábolas do juízo. E ainda, o comunicador do Pai: Deus está presente em Jesus, comunicando a palavra e a ação que libertam os homens e os reúne como novo povo de Deus.

O centro da Comunidade: a comunidade é o lugar onde se manifesta a Palavra de Jesus (Mt 28,20). A Semente do reino: semente do novo povo de Deus, povo que é o lugar onde se manifestam a presença, ação e palavra de Jesus.

A liturgia de hoje evidencia a comunhão e a caridade fraterna na comunidade eclesial, não só na mútua amizade (Or.Oferendas), como na oração, perdão e caridosa advertência (Ez 33,7-9;Sl 94;Rm 13,8-10;Mt 18,15-20). Nisto, a Igreja realiza a união com Cristo para sempre (Or.final) e se torna comunidade e sacramento de Salvação (J.Konings).

No cap.18 Jesus pronuncia o discurso sobre a Igreja; o evangelho de Mateus é o evangelho da Igreja; é o único evangelista que emprega o termo igreja (16,18; 18,17) e manifesta algumas dimensões da identidade e da vida eclesial. Jesus mostra a Igreja em seu dinamismo interior feito de opção pelo Reino, pela resposta ao chamado, pela fraternidade, misericórdia e perdão. A Igreja é comunidade dos missionários, seguidores de Jesus, que tem uma missão no mundo: ser comunidade enviada a proclamar o alegre anúncio do Senhor (28,18-20); é comunidade de irmãos, conforme o projeto de Deus (18,15-18). A grandeza da comunidade está no serviço, no perdão (18,21-22) e no testemunho.

Para Mateus, a Igreja é o verdadeiro povo de Deus, sinal visível da salvação para a humanidade. A Igreja se encaminha para o reino que é muito mais amplo que a própria Igreja. A Igreja termina sua missão histórica. O Reino permanece eternamente. É definitivo.

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