Indígenas reiteram oposição à Usina de Tabajara
Mapa da Terra Teharim elaborado por Telma Monteiro |
No Simpósio Energia e Mineração em Terras e Rios dos Povos Originários, na UNB, em Brasília, lideranças indígenas entregaram uma carta à Subprocuradora Geral da República, Deborah Duprat, em que manifestam, em nome de dez etnias da região do Município de Humaitá-Amazonas, seu desacordo com a construção da hidrelétrica Tabajara, no município de Ji-Paraná, em Rondônia.
A informação é do blog de Telma Monteiro, conhecidas ambientalista, que também transcreve declarações de indígenas tenharim e jiahu sobre o pedágio da transamazônica e a morte de Ivan Teharim após ter colaborado com Ibama e Polícia Federal numa operação contra madeireiros na T.I. Marmelos.
Na carta de 18 de Março de 2014, a Organização dos Povos Indígenas do Alto Madeira-OPIAM que representa dez etnias da região do Municipio de Humaitá-Amazonas, literalmente afirmam:
- "Vimos através desta nos manifestar a Vossa Senhoria que nos não estamos de acordo com a instação da Hidreletrica Tabajra que esta no Plano de Governo para ser construida no Municipio de Ji-Paraná Estado de Rondônia, onde vai afetar diretamente duas etnia do municipio de Humaitá-Amazonas sendo os territorios dos Povos Indigenas Tenharin e Jiahui na Transamazonica devido que ate o presente momento nao fomos ouvidos e nem se quer consultado e no senario que encontramos hoje as Hidreletricas afetam diretamente nossos territorios e as empresas e governo nao estao se importando com os impactos culturais, sociais e ambientais, ate o momento no licenciamento que a empresa esta fazendo nao se quer convocou as comunidades indigenas que estarao sendo afetada, assim nos manifestamos ao contrario da instalçao e construçao desta hidreletrica e as demais construidas no Brasil por conta do modelo que tem sido emplemantado na lideraçao para construçao, devido que nem se quer estao levando em consideração os direitos dos povos inddigenas originario de nosso pais e nem levando em consideraçao o que a Constituição Federal em seus artigos 231 e 232 dos direitos aos povos indigenas."
Um depoimento sincero sobre os Tenharin e Jiahui, por Telma Monteiro
"Algo jamais mencionado nas notícias publicadas, mesmo em blogs sérios, diz respeito ao fato de o cacique Ivan Tenharin, um Cacique Patriarca Tradicional, ter morrido um mês depois de ter colaborado com a Polícia Federal e o Ibama numa operação na Gleba B da TI Marmelos. Ele acompanhou a operação em fazendas que estavam extraindo madeira ilegal e foi visto pelos madeireiros. Isso não foi investigado, embora na região coisas como essa possam fazer toda uma diferença", afirma Telma Monteiro, em artigo publicado por Combate Racismo Ambiental, 22-03-2014.
Algo jamais mencionado nas notícias publicadas, mesmo em blogs sérios, diz respeito ao fato de o cacique Ivan Tenharin, um Cacique Patriarca Tradicional, ter morrido um mês depois de ter colaborado com aPolícia Federal e o Ibama numa operação na Gleba B da TI Marmelos. Ele acompanhou a operação em fazendas que estavam extraindo madeira ilegal e foi visto pelos madeireiros. Isso não foi investigado, embora na região coisas como essa possam fazer toda uma diferença.
Essa e outras informações me foram dadas durante uma longa e franca conversa que tive com duas jovens lideranças, uma da etnia Tenharin, Angelisson Japi’i Tenharin, da Gleba A da TI Marmelos e comMoangathu Jiahui da terra indígena Jiahui, também cortada pela Transamazônica.
Nos sentamos debaixo de uma árvore frondosa e a conversa fluiu sem que eu precisasse fazer muitas perguntas. Ambos estiveram presentes desde o atropelamento do cacique Ivan Tenharin até os momentos dramáticos que culminaram com a revolta contra os indígenas e contra o pedágio na Transamazônica, nos dias 25 e 27 de dezembro de 2013.
Moangathu Jiahui tem trinta anos. É líder geral do povo Jiahui, coordenador geral da Organização dos Povos Indígenas do Alto Madeira (OPIAM) e é acadêmico de engenharia ambiental. Um líder geral tem a função de coordenar as ações de todo o território. A terra Jiahui tem 98 indígenas. Angelisson Japi’i Tenharin, tem 24 anos e é secretário geral da OPIAM e abandonou os estudos. O território Tenharin tem uma população de 800 indígenas.
“A morte do cacique Ivan Tenharin não foi acidente”, afirmaram os dois. “Não houve perícia”. QuandoMoangathu chegou ao local do atropelamento, o cacique ainda estava vivo e só depois de uma hora ele foi levado de ambulância para Humaitá. O hospital não tinha condições de realizar uma cirurgia intracraniana para tirar o coágulo que se formara. Então o cacique foi levado para Porto Velho, mas morreu 30 minutos depois de chegar lá, quando se preparava para a cirurgia.
Moangathu me contou que quando foi avisado do atropelamento se dirigiu imediatamente para o local onde já estava um Tenharin. Ele encontrou o cacique Ivan Tenharin numa posição arrumada, sem escoriações, deitado de costas, pés juntos e ao lado dele estava um pedaço de pau.
O curioso, me comentou, é que ele procurou o capacete e o encontrou escondido atrás de uma moita, cerca de seis metros do acidente. A moto não tinha um arranhão, a não ser o retrovisor quebrado. Mas não houve perícia e também esses os detalhes foram ignorados pela polícia.
Depois da morte do cacique Ivan Tenharin, os clãs e famílias, aproximadamente mil indígenas, tiveram uma conversa na aldeia. Trataram do sepultamento e da necessidade de esclarecimento dos fatos que levaram à morte. Estavam tristes e magoados e resolveram cobrar providências das autoridades.
A primeira medida foi ir à Humaitá, procurar a Funai. Não encontraram o servidor que estava respondendo pelo expediente. Em seguida pediram para a Polícia Federal investigar todas as dúvidas sobre o “acidente”. Depois de mais de uma semana cobrando providências, nada aconteceu. Não houve qualquer manifestação da polícia civil ou da polícia militar. Foram 20 dias transcorridos sem investigação. As pistas se perderam.
Cansados de esperar, os indígenas recorreram ao exército, 54º BIS ou 54º Batalhão de Infantaria de Selva, em Porto Velho.
O pedágio
Havia ainda outras questões que ainda não estavam claras para mim. A cobrança do pedágio, por exemplo. Aproveitei a oportunidade para pedir que Moangathu Jiahui e Japi’i Tenharin contassem como se dava a cobrança do pedágio na Transamazônica e qual era o arranjo entre eles.
As grandes carretas pagavam R$ 70, os caminhões R$ 30, as caminhonetes R$ 20, os veículos de passeio R$15 e as motos R$ 10. Mas, o mais interessante é a forma como se arrecadava e como os recursos eram distribuídos.
Os Tenharin e Jiahui formaram 36 grupos de sete famílias. Cada grupo de sete famílias se responsabilizava pelo pedágio durante quinze dias. Arrecadava em média R$ 20 mil nesses quinze dias, que eram divididos entre as famílias do grupo, o que resultava em aproximadamente R$ 2.800 por família. Cada grupo, portanto, só voltaria ao pedágio somente 18 meses depois.
Esse valor seria a grande “fortuna” que os indígenas arrecadavam com o pedágio, que eles chamam de compensação pelos problemas causados em suas terras e suas vidas, com a construção da Transamazônica. Cada família deveria viver com seus “magníficos” R$ 2.800 durante um ano e meio.
Para reforçar o orçamento, alguns indígenas têm emprego na aldeia, na escola, como agentes de saúde e ganham um salário mínimo. Houve um momento em que eles até assumiram participar, por breve período, da venda de madeira clandestina. Depois de tanto denunciar o corte ilegal em suas terras e não conseguirem que as autoridades tomassem as devidas providências, aderiram ao ilegal para chamar a atenção. A tentativa durou muito pouco, já que começaram a ser explorados e ameaçados pelos madeireiros. Mas a extração de madeira ilegal em seus territórios continua.
Comentários
Postar um comentário
Agradecemos suas opiniões e informações.