4ª Festa Camponesa em Rondônia: diversidade e solidariedade


Reproduzimos a matéria de Renata Garcia, do Projeto Padre Ezequiel, relatando a IV Festa Camponesa de Rondônia. 

Abertura da IV Festa Camponesa de Rondônia. foto Renata Nóbrega
“Mais uma vez nos encontramos em festa para celebrar nossas vitórias e conquistas, para reafirmar nossa identidade enquanto camponeses e camponesas que somos”, com estas palavras a coordenação da Via Campesina, fez a abertura da 4ª Festa Camponesa que aconteceu em Ouro Preto d’Oeste, estado de Rondônia. 
Organizada pela Via Campesina, MPA, MST, CPT, MAB e CIMI e com apoio de diversos outras organizações sociais, a festa iniciou no dia 30 de agosto com o seminário sobre “Agroecologia e o Projeto Popular: Possibilidades e Desafios”; exposições, troca de sementes crioulas, feira e oficinas. No dia 31 de agosto teve um grande baile com a banda de forró Fulô do Cangaço e, para encerrar a festividade, no domingo de manhã, o1 de setembro, foi oferecido um café camponês aberto a toda a comunidade com mais de 15 produtos todos preparados pelas famílias camponesas. 

Para que a festa acontecesse houve a participação direta de mais de cinco mil famílias, que trabalharam desde a organização até a doação e preparação dos alimentos. 
Leila Denise Meurer, agricultora do município de Ariquemes, acredita que a maior motivação para participar da festa seja a possibilidade de encontro entre as pessoas e com a diversidade de produtos e sementes. Foram registrados mais de 400 tipos diferentes de sementes crioulas trazidas pelos agricultores de todos os municípios de Rondônia. “Aqui resgatamos a nossa cultura camponesa e nossa história da conquista da terra. Muitas pessoas se motivam a voltar a produzir quando encontram sementes que haviam perdido e que remetem às suas memórias da infância”.
De natureza comunitária e popular, coletiva e solidária, a Festa Camponesa busca a valorização da vida em todas as suas expressões e dimensões. Mas, também, é um espaço de reafirmação das lutas do campesinato: a luta pela reforma agrária, por políticas públicas que garantam a prática da agroecologia e pela garantia de que os bens da natureza não sejam tratados apenas como mercadoria. 

“Os movimentos sociais têm que disputar espaço com os projetos capitalistas, para de fato construir uma sociedade solidária em que estejam contemplados os elementos políticos, culturais, econômicos, sociais e o ambientais”, incitou Antônio Carneiro de Menezes, representante do estado do Mato Grosso na coordenação nacional do MST e palestrante do evento. 
Carneiro falou também sobre a reconceitualização do campo. “O campo não pode mais ser visto como há 30 anos. Precisamos acompanhar a evolução dos tempos. Ter internet nas casas, praças nos assentamentos que possibilitem a convivência, a cultura e o lazer para jovens, crianças e adultos, mas, sobretudo, precisamos de uma educação que de fato seja do campo e para o campo”. 
Na visão da socióloga Dalva de Oliveira, que trabalha com os movimentos sociais do campo, a quarta edição da Festa Camponesa teve a participação mais expressiva de jovens, que segundo ela, estão encontrando ali, um espaço de reafirmação sua identidade e realizar suas trocas simbólicas. “A ausência de políticas públicas para a educação de jovens que vivem no campo e falta de lazer são um grande incentivo à migração para as cidades”, pontua. 

Desafios da educação do campo em Rondônia 
Gerusa Rocha, 17, é estudante da Escola Família Agrícola (EFA) do Vale do Guaporé, e nunca havia participado de uma festa camponesa e se impressiona com quantidade de produtos diferentes expostos nas barracas. “Aqui tem coisas que eu nunca tinha visto na vida”. Gerusa conta que para estudar tem que morar a 700 quilômetros de sua família, pois, na vila em que seus pais vivem, dentro da reserva onde antes era o garimpo de cassiterita Bom Futuro, não tem escola e nem ônibus para transportar jovens e crianças para a cidade mais próxima. 
A educação do campo em Rondônia passa por diversos desafios tendo em vista que as escolas multi-seriadas e escolas pólos, criadas nos anos 90, estão sendo fechadas. 
Apesar das escolas terem sido institucionalizadas no campo, não foi considerado a quem ela se destinava, qual o contexto onde estava situada, as relações sociais, a forma de produção, a cultura e a necessidade de formação sócio-político-profissional das pessoas que estavam sendo beneficiadas, dificultando desta forma a permanência dos jovens e suas famílias em suas terras. 
“Precisamos de uma escola que resgate a auto-estima camponesa seus valores e saberes. Só assim conseguiremos manter as famílias produzindo no campo e garantindo a soberania alimentar do país”, ressaltou Matilde Oliveira.

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