As faces do trabalho escravo contemporâneo.
“ Você não tem direito a nada
Você não pode sair quando quiser
Você não pode beber água potável
quando tiver sede
Você não pode escolher o que fazer
depois do trabalho
Você só deve trabalhar e obedecer
ordens
Você está sob a vigilância de homens
armados"
É ASSIM... a vida de milhares de homens e mulheres hoje no Brasil.As faces do Trabalho Escravo Contemporâneo
Aos dias
19, 20, 21 de outubro de 2012, estiveram reunidos em Porto-Velho mais de 33
pessoas, em uma oficina sobre o Trabalho Escravo Contemporâneo.
Os trabalhos contaram com a assessoria do Pe. Ari Antonio dos Reis
– Assessor Nacional da Comissão para o
Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz da CNBB, Gabriel Souza Rodrigues – Secretário
da Comissão para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz da CNBB , e Juliano
da Silva Vilas Boas – da coordenação da
Campanha Nacional Contra o Trabalho Escravo, realizada pela Comissão Pastoral
da Terra-RO e Serviço Pastoral dos Migrantes . Também palestraram sobre o
assunto Bianor Salles Cochi – Auditor Fiscal do Trabalho, e Francisco Cruz –
Desembargador do trabalho.
Falar de escravidão hoje, não é falar de troncos, senzalas e
navios negreiros. A Escravidão agora, é dita moderna, em aspectos, mais
complexa e cruel que no passado. E ela existe! Em 21 ( vinte e um ) estados
Brasileiros foram constatados casos de trabalho em condições análogas a de
escravos. Dados indicam que mais de 25 mil brasileiros entram no ciclo da
escravidão anualmente. Internacionalmente a OIT reconhece que a escravidão
ainda vitima em torno de 12 milhões de pessoas.
Os dados são pavorosos, mais a indiferença é um fator agravante da
situação, a passividade como se não fossemos responsáveis. As pessoas não
sabem, ou se sabem não se importam e continuam a comemorar uma libertação que
efetivamente nunca aconteceu! Enquanto isso o trabalho escravo continua a
produzir vítimas, pessoas tendo suas
vidas roubadas por outras pessoas que desejam lucrar sobre sua degradação. Hoje
a escravidão também não escolhe raça ou cor, e as vítimas não se consideram
vítimas em muitos dos casos.Falar sobre o tema é de essencial importância, é
uma realidade triste e cruel, pela qual toda a sociedade deve ser
responsabilizada, pois contribui com ela direta ou indiretamente. São nossos
hábitos de consumo, o modelo de desenvolvimento adotado, a falta de Políticas
de Estado para erradicação da pobreza e das desigualdades sociais.
Ainda ousamos falar de dignidade da pessoa humana, o que estamos
fazendo para garantir que o Estado a tenha como real fundamento? São pessoas
que tem sua dignidade ferida, seus sonhos frustrados, sua auto-estima furtada,
sua vida aprisionada em favor de um dito progresso. Às custas de quem o
progresso acontece?
Essa oficina sobre trabalho escravo, teve entre seus objetivos,
fomentar a discussão sobre o assunto, trazer informações que proporcionem
desvendar a rede do trabalho escravo, dos fatores que a favorecem. É preciso
falar, informar: Trabalho escravo existe, e é uma vergonha, pois é a face da
ganância humana, que desrespeita a vida e usa as pessoas como mero objetos
descartáveis.
As ações de combate ao trabalho escravo, tem se mostrado ainda insuficientes.
Em 1995, o Brasil assumiu o problema, de lá até 2011 foram 43.635 escravos libertados, mas até os
dias atuais ele persiste. Há o agravante da reincidência no ciclo da
escravidão. Esses aspectos só evidenciam que é necessário formular ações que
possam combater o problema de forma efetiva, e que seja capaz de dar aos vitimados
a possibilidade de reinserção, pois foram resgatados, mas para onde foram?
A Campanha da Fraternidade de 2014 vai falar sobre o tema. É
preciso aproveitar esse momento para ampliar as discussões e fomentar
ações.
Não podemos continuar
indiferentes! A escravidão hoje não se utiliza de correntes de ferro, ela tem
mecanismos mais sutis, mas pode ser
identificada. Ainda precisamos compreender que essa é uma das consequências do
modelo desenvolvimentista adotado. E além da escravidão que priva da liberdade,
existe um sistema capitalista, que marginaliza e priva a grande maioria de uma
vida digna.
Agora é com cada um de nós! A conscientização e o trabalho de
todos é necessário para erradicar o Trabalho Escravo no país e no mundo, porque
esse problema também é de todos nós.
“Se você é capaz de
tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então
somos companheiros. Acima de tudo procurem sentir no mais profundo de vocês
qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo”
(Che Guevara).
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