Rondônia: Cinco mortes por conflitos agrários em 2012.
Adelino Ramos, no ano da morte. Foto gentedeopiniao |
- Gilberto Tiago Brandão, morreu atirado (o dia 24/02/12) e pouco depois (o dia 01/03/12) também foi assassinada outra liderança do Acampamento Canaã 2, da Fazenda Paredão, de nome Ercias Martins de Paula, em Machadinho do Oeste.
- Dinhana Nink (Nova Califórnia, Porto Velho), (30/03/12) morreu na Ponta de Abuná em relação ao conflito com madeireiros no Assentamento Gedeão, no município de Lábrea AM, corroborando a situação de impunidade da região do Sul de Amazonas e região vizinha de Rondônia. Ela tinha apresentado boletim de ocorrência por ameaças contra Jheferson Arraia Silva, e a mãe dele Suzy Arraia Silva.
- O Professor Renato, (09/04/12) da LCP (em Jacinópolis, Nova Mamoré) segundo as informações da LCP, não desmentidas, teria sido assassinado numa blitz noturna da policia civil, após a morte de um policial civil e mais seis pessoas, relacionadas com roubo de gado na região. Após a morte, a casa do professor foi basculhada e foi tratado de "terrorista" por fontes policiais. No momento não se conhecem suspeitos do homicídio.
- De José Barbosa da Silva (em Seringueiras, 15/05/12), foi atirado sendo confundido com uma liderança do Acampamento Paulo Freire 3, é o único homicídio do qual principal suspeito, Martimar Pereira de Miranda, o Tim, está preso (enquanto não conseguir a fiança de 4.000,00 $R), segundo agricultores da região. Um comparsa que estava na moto do suposto assassino segue em liberdade.
A atuação de pistoleiros no interior do acampamento tem sido denunciada desde o ano passado, quando em agosto duas lideranças foram atingidas por disparos.
A origem da maioria das mortes deste ano são os acampamentos de posseiros e sem terra, em áreas disputadas de terras públicas. Porém a impunidade de ameaças e pistolagem parece ser a marca registrada de todas elas. Depois que nosso governador não obteve as competências que desejava sobre as terras de Rondônia, parece que renunciou a tentar manter a justiça nelas. A polícia foi rápida em apreender lideranças como o presidente do sindicato de Vilhena, porém parece mais devagar quando a violência atinge os posseiros e sem terra. O Cone Sul, Buritis, Seringueiras, Ariquemes continuam sendo das áreas mais atingidas. E também a Ponta de Abunã.
A Ponta de Abunã, frente de penetração do Sul de Amazonas
Em Vista Alegre do Abuná, um dos suspeitos de envolvimento na morte de Adelino Ramos é o irmão mais velho de Ozias Vicente, Luiz Vicente Machado. O cumprimento da ordem de busca e capturade Jobs Vicente, Ozias Vicente, Luiz Vicente e o madeireiro conhecido como Ceará Popó", solicitada pela Ouvidoria Agrária Nacional, poderia ter evitado a morte de Adelino. As ordens foram cumpridas depois, a exceção de Luiz Vicente Machado, que conseguiu fugir.
Logo após Ozias Vicente foi libertado, na região foi atribuído a ele, no dia 21 de dezembro de 2011 o assassinato dum pequeno agricultor conhecido apenas como "Mineiro" nas proximidades do Seringal João Bento, Linha 02 no Sul de Amazonas, município de Lábrea, perto da Vista Alegre do Abuná, Rondônia. A morte aconteceu por problemas de terras.
Quando no dia 15 o próprio suspeito foi também morto, o homicídio foi atribuído a queima de arquivo. Não faltou muito para que o juiz de Direito José Gonçalves da Silva Filho, da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Porto Velho, determinou a extinção do processo pela morte de Adelino Ramos. O que aconteceu com o segundo suspeito da morte, que se falou no começo? Não houve mandantes?
O certo é que o irmão de Ozias, Luiz Vicente Machado, tido por muitos como o organizador e mandante das mortes do irmão, incluída a de Adelino Ramos, passou a ameaçar as novas lideranças do Assentamento Florestal Curuqueté, de onde Adelino era líder na sua morte. O novo presidente do PAF Curuqueté, eleito poelas famílias doas assentados, passou também a sofrer ameaças. M. O. que já tinha fugido em Porto Velho, ameaçado pelos dois irmãos pouco antes da morte de Ozias, passou a ser jurado de morte por Luiz Vicente Machado. Nunca mais voltou a morar no local, desde janeiro que está fugido.
Denunciadas as ameaças e solicitada a proteção na Secretaria de Direitos Humanos, M. O. desistiu de continuar no Curuqueté para preservar a vida. Após sofrer o mês passado em Abril um intento de assassinato na última visita dele ao Assentamento Florestal, onde foi reconhecido Luiz Vicente Machado, ele voltou andando, escondendo-se na mata, os 73 km. distantes de Vista Alegre do Abunã. Após registrar boletim de ocorrência na Delegacia de Extrema. Resgatado pela polícia civil, fez declarações no Ministério Público Federal de Porto Velho, e na Ouvidoria Agrária Nacional ele apresentou denúncia da situação do Assentamento. Agora ele está tentando conseguir um lote em outro assentamento, onde possa continuar vivendo. Os pistoleiros não foram presos.
O resultado é que eles continuam sendo os donos do Curuqueté, um assentamento florestal já aprovado, onde tem lugar para 110 famílias, está sem lideranças e totalmente esvaziado. Apenas uma dúzia de famílias morando lá, após terem sofrido ameaças em janeiro de que morreriam todos: "Do mamando ao caducando".
As autoridades de segurança de Amazonas e de Rondõnia jogam um ao outro as responsabilidades por intervir na região. As terras e a madeira que provocam os conflitos ficam no Amazonas, porém a maioria de mortes está acontecendo em Rondônia, e o Estado de Rondônia quem tem a responsabilidade de punir os culpados e por enquanto o único que mantém efetivos na região.
O sindicato da CTB realizou este sábado 27 de Maio de 2012 em Ji Paraná (RO) homenagem a Adelino Ramos, secretário de políticas agrárias do sindicato. Segundo João Peres, Rede Brasil Atual " Este ano, pessoas próximas a Adelino se reuniram com a ministra a ministra Maria do Rosário para pedir ajuda na federalização do caso. A visão é de que, livre das pressões locais, a apuração e a consequente punição teriam mais chance de êxito. Mas, como a titular da Secretaria de Direitos Humanos lembrou à época, este dispositivo, embora previsto na Constituição, só foi autorizado uma vez até hoje, o que diminui a esperança de que os culpados venham, algum dia, a cumprir pena pelo crime."
A principal fonte do problema da região, a extração clandestina de madeira, que depois é legalizada como se fosse de planos de manejos, não é abordada. Continua impune o saque de madeira nobre destinada a exportação como o ipê, de áreas como o Parque do Mapinguari, o próprio Assentamento Curuqueté, e a grilagem e desmatamento de terras adentrando desde Rondônia a fronteira agrícola no interior do Amazonas.
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