Jirau: Nota do CIMI Rondônia

18/03/2011 - 15:39 - Hidroelétricas: confirmação de conflitos e impactos

As hidrelétricas em construção na Amazônia Brasileira ameaçam devastar as populações tradicionais, entre elas populações indígenas, a exemplo das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau no Madeira que estão sendo construídas próximas a territórios de quatro povos indígenas em situação de isolamento e risco, os quais desconhecem que grande parte de suas terras está ameaçada e sujeita a destruição. A política indigenista do governo que deveria prever meios para garantir a proteção desses povos livres tem em seu primeiro plano os grandes projetos. Em nome de um “desenvolvimento” continua ferindo e matando culturas milenares antes mesmos da sociedade mundial ter conhecimento dessas culturas, em contradição a Constituição Federal de 1988 e a OIT que rege ser o Brasil um País Pluriétnico. A triste situação provocada pelos operários na Usina Hidrelétrica de Jirau está confirmando as conseqüências trazidas por estes megas empreendimentos, que além de desrespeitar as populações locais (ribeirinhos, indígenas, quilombolas...) não trata com dignidade os operários que dia a dia com sua mão de obra arriscam suas vidas tendo as condições de trabalho e remuneração de forma muito simbólica. E ainda são taxados de bandidos e vândalos.

Com indignação repudiamos a atitude do governo em usar da segurança pública estadual e nacional para dar segurança a empresa que não pode perder lucros em nome do progresso, enquanto que trabalhadores vivem em situação de superexploração; salários baixos; longas jornadas de trabalho; sem atendimento adequado de saúde; transporte de péssima qualidade; falta de segurança e como resultado ainda são ameaçados de demissão; esta é a realidade da vida dos operários na hidrelétrica do Jirau. Tal atitude do governo cria mais tensões para a sociedade rondoniense, pois o governo que deveria propor segurança para o povo e melhores condições de trabalho para os operários através dos poderes Judiciário, Legislativo e Executivo convoca a força nacional para calar a voz popular que grita por justiça e direitos que lhes são garantidos por lei.
As hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau no rio Madeira têm sido palco de ocorrência de desrespeito a legislação trabalhista: denuncia de trabalho análogo ao escravo, impactos ambientais e sociais, transgressões aos direitos das comunidades tradicionais, causando colapso dos espaços públicos (hospitais, ruas, escolas, postos de saúde...), alto custo de vida, tendo a taxa do transporte coletivo um das mais altas do país. A insegurança e o medo estão tomando conta dos moradores da capital.
A provocação dos trabalhadores no Jirau soma-se com tantas outras provocações em nível de país e de mundo e comprova que os grandes projetos só trazem propagandas ilusórias para a grande massa popular, a exemplo da taxa de energia elétrica em Rondônia, uma das mais caras do país, bem como o crescente desemprego.
Dentro de todos os dados já anunciados na mídia, acreditamos que os operários são tão vítimas quanto às populações tradicionais, entre elas os povos indígenas, e toda a biodiversidade fauna e flora.
O que nos deixa ainda mais indignados é o fato da mídia sempre está a serviço dos que detém o poder, omitindo a verdadeira situação e posição dos trabalhadores.
O Conselho Indigenista Missionário Regional Rondônia, na defesa da vida, une-se nesse momento trágico aos operários do Jirau, que nas suas manifestações conclamam por justiça e direito e exige que a voz dos trabalhadores seja ouvida e tenha tratamento digno e humano.
Não podemos aceitar que num país “democrático”, “popular” com leis que rege o respeito humano, ainda prevaleça o modelo de escravidão e exploração entre patrões e operários.
Porto Velho, 18 de março de 2011.
Cimi Regional Rondônia



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