Visita ao canteiro de obras da Barragem de Santo Antônio do Rio Madeira


Aproveitando a visita dum grupo de padres da Arquidiocese de Porto Velho, na semana passada, dia 26 de Abril, teve a oportunidade de entrar no canteiro de obras da Barragem de Santo Antônio, no Rio Madeira.

A primeira parte da visita foi no local onde selecionam e treinam os trabalhadores para a construção da usina, em parceria da Uniron (Universidade de Rondônia) e a Odebrecht. Eles querem que acreditemos que com o “Programa Acreditar” capacitando a mão de obra local, 70% dos operários na construção da usina são da região.

Contra o que o povo de Porto Velho comenta, eles desmentiram que exista grande rotatividade entre os operários, muitos dos quais não ficam mais de três meses e já são mandados embora.

Entre outras pérolas, a instrutora do programa disse que “O Norte agora é o celeiro de construção de hidroelétricas do Brasil, pois o que dava para se fazer no Sul já foi feito” Por isso eles pretendem que Porto Velho se torne também “um celeiro de mão de obra qualificada para a construção de usinas,” para no futuro também continuar a exportar barragens e barrageiros para toda a Amazônia.

Outra surpresa foi descobrir o Carlinhos, agente da CPT Rondônia até inícios do ano passado, entre os recepcionistas que selecionava operários para trabalhar na construção da usina.

Porém enfim, em ônibus contratado pela empreiteira, fomos para o canteiro de obras mesmo. O Sr. Valdemar Camata (se lembro bem) era o nosso cicerone de relações públicas. Com muito conhecimento e capacidade ele foi repassando para toda a equipe as informações, e respondendo inclusive algumas perguntas capciosas dos presentes.


O objetivo era gabar a capacidade do rio, dos mais caudalosos do mundo, para produzir até 1.500 Megawats na época da seca. Imaginem na época das águas! Tudo com retorno previsto de até 4 bilhões de reais por ano de benefício para os investidores na empreitada (o lucro não é nada desprezível, não acham?).

Aproveitando a viagem, alguém maldoso (devo manter o sigilo) se aproximou dum padre para dizer que o que nos contavam “era tudo mentira”, e que ali o pessoal trabalhava feito escravo por uma mixaria.

Porém voltando a apresentação do Sr. Camata, questionado sobre problemas ambientais e sociais, algumas das respostas:

- Sobre os paus e madeiras que descem pelo rio, a Usina de Jirau teria que providenciar um sistema de interceptação, sem que pelo momento se saiba o que fazer com eles.


- Apresentando o fato que as propriedades atingidas foram valorizadas em 2008 e que hoje os preços imobiliários aumentaram muito (pela especulação provocada pelas próprias hidrelétricas), ele reconheceu que as indenizações dos atingidos teriam que ser revisadas, se queriam conseguir o que eles já tinham. Apesar de que providenciar o título das terras para eles não é trabalho das construtoras (Odebrecht e Andrade Guatiérrez), mais da concessionária “Santo Antônio Energia”.

- Questionado sobre as escadinhas de peixes serem insuficientes, para as espécies migratórias que sobem pelas cachoeiras, ele afirmou que “A natureza vai resolver o caminho para eles” (sic).

- Confirmou que a proposta de construção de eclusas para barcos, uma futura hidrovia, permanece intacto no atual projeto (tal vez para 2012 ou 2013) e incluso mostrou onde possivelmente seria construído o canal e as eclusas, cortando a curva do rio.

- A construtora está querendo para o próximo ano que as 14 turbinas do canal da Ilha de Santo Antônio (na margem esquerda do rio) já estejam funcionando o próximo ano.

A chegada da chuva fez terminar rapidamente a conversa, impedindo também a realização de boas fotografias, pelo qual passamos ao almoço oferecido junto aos operários, que foi bem gostoso.


Algumas impressões:

- Os policiais do Batalão Forestal almoçavam junto com os operários.

- Uso de milhares de copos descartáveis por dia talvez poderia ser evitado.

- Preocupação com a proliferação de dengue de malária, com propaganda incentivando o uso de repelente e outras medidas preventivas.

- Apesar de existir uma área de descanso e de lazer para depois do almoço, alguns trabalhadores ficavam deitados no chão, se queriam tirar uma soneca.

Um jovem duma comunidade quilombola de Costa Marques, que mora em Porto Velho desde 2002, me procurou para conversar. Ele me conhecia de lá e me contou que está trabalhando no canteiro da barragem faz uns meses. O ônibus recolhe ele às 5,30 de manhã e sai do canteiro de obras às 17 horas da tarde. Perguntei para ele se sabia de acidentes na obra, ele respondeu que o turno de noite parece mais perigoso e que soube da queda de um companheiro da altura de três metros, sem graves conseqüências.

Para não ser maniqueísta, como o nosso coordenador das Pastorais Sociais nos lembra todo dia à CPT, devo dizer que este daqui é um simples relatório de divulgação, do que lembrei e anotei no meu caderno, que não pretende ser exato. Parabéns pela política de transparência da construtora.
E para terminar, mais uma anedota que o Sr. Camata nos contou: Muitas pessoas da região “não estão costumados a trabalhar” e um operário decidiu processar a empresa construtora “por danos morais”. Quando questionado pelo juiz ele disse que lá (no canteiro da construção da barragem) era obrigado a trabalhar das sete da manhã até o meio dia e depois do almoço até as 5 da tarde, “E isso todo dia!” Parece que o trabalhador perdeu o processo trabalhista.

Porém eu fiquei pensando que a qualidade de vida dos nossos indígenas e ribeirinhos, antes da chegada dos barrageiros, em realidade era bem melhor.

Josep Iborra Plans, Zezinho
Coordenação Colegiada da CPT Rondônia


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Comentários

  1. eles realmente mente procurem um cidadão que perdeu a perna eles botaram no CAT que foi o dedo mindinho o pelido dele é maranhão deve esta sofrendo represália da empresa porque reclamou no mpt e colocou na justiça o consorcio santo Antonio pensa que na amazônia só tem analfabeto o nome dele é walber Jose lopes esta no site o combatente vejam no mte no mpt no sindicato não só tem inimigo de trabalhador funcionários dos consorcio

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