A XI Romaria da Terra e das Águas de Rondônia e a III Romaria do Padre
Ezequiel Ramin tiveram como tema: ‘Com os Pobres pela Terra, Água, Justiça e
Paz’ e o lema: “Vocês são Estrelas de Esperança”. As duas romarias reuniram
cerca de quatro mil pessoas, no domingo, 22, e aconteceram no quilômetro 70, em
Rondolândia-MT, local em que houve o martírio do padre Ezequiel, missionário
comboniano.
“É tempo de estiagem, mas o nosso solo está encharcado pelo sangue dos
mártires”, com estas palavras dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho, dá
início à caminhada de dois quilômetros rumo ao santuário do mártir. Ao
mencionar o sangue derramado no solo denuncia a violência, injustiça e ganância
que tiraram a vida do padre Ezequiel em 1985 e seguem tirando a vida de milhares
de pessoas no Brasil.
Esse tipo de violência bateu recorde, e atingiu o maior número desde
2003, com 70 assassinatos. O estado do Pará lidera o ranking de 2017 com
21 pessoas assassinadas, sendo 10 no Massacre de Pau D’Arco; seguido pelo
estado de Rondônia, com 17, e pela Bahia, com 10 assassinatos de acordo com o
Relatório da Violência no Campo em 2017, divulgado pela Comissão Pastoral da
Terra (CPT).
“Não queremos ser omissos nesse momento em que estão ocorrendo tantas
perdas de direitos no Brasil. Os dados da violência contra os pobres, os povos
originários, ribeirinhos e quilombolas são vergonhosos. Esta não é a vontade de
Deus. Estamos aqui porque queremos que o sonho de uma terra sem males seja a
nossa profecia e é por isto que não podemos deixar no anonimato os nossos
mártires”, afirmou dom Roque Paloschi em sua homilia.
Juventude que ousa
lutar
O desmatamento, uso indiscriminado de agrotóxicos, pecuária extensiva,
avanço do monocultivo de soja, arroz, milho e cana-de-açúcar, destruição
ambiental causada pelas usinas hidrelétricas e mineradoras e os conflitos no
campo em Rondônia e em toda a Amazônia Legal foram denunciadas durante
encenação apresentada por jovens do grupo de teatro do Assentamento 14 de
Agosto de Ariquemes. “O teatro é uma excelente ferramenta de formação. A
juventude precisa manter sua criatividade, ousadia e rebeldia para defender os
direitos e a democracia que estão ameaçados no Brasil”, enfatizou Dayane
Cristina Pinto Neves, romeira de Jaru.
Fila do Povo
Eva Canoé, umas das representantes dos povos indígenas na romaria, falou
sobre a importância do cuidado com a Casa Comum para garantir a preservação da
vida no planeta Terra e alertou “é a ganância que destrói a vida. Estas pessoas
se esquecem que a floresta, os rios e toda a natureza dão o sustento para nossa
vida. Precisamos aprender a viver em harmonia com a nossa mãe natureza”.
Adílio de Souza era presidente do Sindicato dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais de Cacoal em 1985 e acompanhava o padre Ezequiel Ramin
quando sofreram uma emboscada e o padre foi assassinado. Em seu depoimento ele
reforçou a importância de manter viva a memória do mártir, sua luta e seu sonho
de justiça.
Fé e Vida
Encerrando a celebração da romaria dom Roque questiona a todas e todos
os participantes: “como sairemos daqui hoje? Que respostas daremos aos apelos
que nos foram feitos? Precisamos viver a conversão ecológica e assumirmos a
responsabilidade de cuidar da nossa ‘Casa Comum’. Não podemos nos esquecer do
exemplo de vida que nos foi dado pelo Servo de Deus, padre Ezequiel Ramin, que
anunciou o Reino de Deus, denunciou as injustiças deste mundo e nos alertou “a
Fé segue de mãos dadas com a vida”.
http://arquidiocesedeportovelho.org.br/noticias/arquidiocese-1/nacionaisregionais/25-07-2018/xi-romaria-da-terra-e-das-guas-de-rondnia-e-iii-romaria-do-pe-ezequiel-ramin
Texto por: Renata Garcia
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