Mais legal que isso, impossível
Notícia - 11 - nov - 2012
Terra Legal, programa do governo federal feito para
regularizar terras na Amazônia, abriga fazendeiro que usa trabalho escravo para
desmatar
Há dois meses, chegava à Justiça
Federal de Santarém, no Pará, um pedido de prisão de Eleandro Perin. A carta
vinha do Ministério Público Federal. Dias antes, durante a operação Labareda na
região, o Ibama havia responsabilizado o fazendeiro por dois crimes:
desmatamento ilegal e uso de trabalho análogo ao escravo. As acusações, porém,
não eram as únicas em seu histórico: antes disso, ela já havia sido autuado
duas vezes pelo Ibama – também por exploração ilegal de floresta – e teve sua
propriedade embargada.
Apesar disso, em 2009, Eleandro teve
sua fazenda Vitória, que ocupa 1.122 hectares em Altamira (PA) e que, portanto,
não faz dele um pequeno agricultor, regularizada pelo programa Terra Legal. O
programa estabelece que o limite das áreas para titulação seja de até 15
módulos fiscais. Eleandro possui uma de 14,95 módulos.
Veja o infográfico:
Veja o infográfico:
Capitaneado pelo Ministério do
Desenvolvimento Agrário, o Terra Legal veio ao mundo após a aprovação, em 2009,
da Medida Provisória 458, que ficou conhecida como MP da Grilagem. O objetivo
anunciado era o de regularizar antigas ocupações legítimas na Amazônia, dando
prioridade a pequenos produtores e a comunidades locais. Mas, como já havia
sido previsto por movimentos sociais e ONGs, o programa está também
beneficiando criminosos ambientais.
“Estão usando a justa causa dos
pequenos agricultores e da agricultura familiar para beneficiar aqueles que
desmatam a floresta apostando na impunidade.”, diz Marcio Astrini, coordenador
da campanha Amazônia do Greenpeace.
“Não vieram para legalizar as terras
dos agricultores familiares, mas dos latifundiários”, afirmou Raimundo de Lima
Mesquita, coordenador Regional da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do
Estado do Pará. (Fetagri) sem se surpreender com o fato de o programa beneficiar
quem desrespeita a lei: “Aqui, ninguém perde nada por ter desmatado”.
Denúncia
O caso de Eleandro não deve ser
o único. Por isso, o Greenpeace encaminhou na quinta-feira uma denúncia ao Ministério Público
Federal pedindo uma auditoria imediata sobre todos os
beneficiados do Terra Legal com mais de 10 módulos rurais – cerca de 1000
hectares – na região. A falta de governança é tanta que os órgaos
públicos não trocam informações sobre o caso, e o Ibama sequer sabia que
Eleandro Perin era um beneficiário do programa.
“Na Amazônia, a falta de governanca e
ações descoordenadas dos órgãos oficiais causam situações como a denunciada.
Neste ambiente, programas como o Terra Legal e o novo Código Florestal –
que concede anistia a quem desmatou – seguirão a mesma receita, de premiar quem
vem, há anos, destruindo as florestas brasileiras”, diz Astrini.
Nos últimos dois meses, o
desmatamento na Amazônia voltou a crescer, se comparado com o mesmo período do
ano passado. Só em agosto, houve um aumento de mais de 200% nas derrubadas.
Não é à toa que, em poucos meses,
mais de 600 mil brasileiros assinaram pelo projeto de lei de iniciativa popular
do desmatamento zero. A sociedade está cansada de
ver o governo passando a mão na cabeça de quem destrói nosso maior patrimônio
ambiental.
No último mês de março, o Greenpeace
e outras organizações lançaram uma aliança nacional pela lei de iniciativa
popular do desmatamento zero. A exemplo da Lei da Ficha Limpa, a ideia é
coletar o maior número de assinaturas possível para enviar a proposta ao
Congresso.
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