Este é o tema escolhido pelos jesuítas vinculados
às obras e serviços da PAAM (Preferência Apostólica Amazônia) dos Jesuítas
do Brasil para celebrar a Semana do Meio Ambiente. Na chamada para as inúmeras
atividades da programação, a comissão organizadora recorda que o Dia Mundial do
Meio Ambiente é celebrado anualmente no dia 5 de junho. A data foi recomendada
pela ONU (Organização das Nações Unidas) no ano de 1972, na Conferência de
Estocolmo – reunião marco na tentativa de melhorar as relações dos humanos com
o planeta e chamar atenção das pessoas e dos governos sobre as questões
ambientais, assim como sobre os cuidados necessários para preservar os recursos
naturais.
Neste ano, excepcionalmente por causa do
isolamento social imposto pela pandemia do coronavírus, as atividades da semana
do meio ambiente (01 a 06 de junho) não serão presenciais, o que fez com que a
equipe de organização refizesse o cronograma transformando a programação em atividades
virtuais. Desta forma, conforme o padre jesuíta Paulo Tadeu Barausse,
coordenador do SARES (Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação
Socioambiental), muitas atividades estão sendo realizadas à distância com
diversos seguimentos da sociedade, gerando podcasts informativos segmentados e
produção de conteúdo para as redes sociais.
O destaque da programação no dia 5 de junho, será
uma Live
no Facebook da PAAM com o Procurador Regional da República
Felício Pontes, encarregado pela defesa dos direitos dos Povos e Comunidades
Tradicionais da Amazônia.
Autor de extensa obra científica na área socioambiental, com destaque para o
livro Povos da floresta: cultura, resistência e esperança, publicado pelas
Edições Paulinas e a REPAM (Rede Eclesial Pan-Amazônica) em 2018. Trata-se de
uma coletânea de artigos organizados pela jornalista Osnilda Lima e
prefácio do Bispo emérito do Xingu e presidente da Repam-Brasil, dom Erwin
Krautler, conta com artigos que apresentam o modo de viver dos povos
indígenas e das comunidades tradicionais, para retirá-los da invisibilidade
forçada a que estão submetidos e que permite que tantas atrocidades sejam
cometidas contra os povos da Amazônia.
O destaque “amazonizar é necessário e urgente”
refere-se a uma urgente convocatória em defesa da Amazônia.
Historicamente, a primeira convocação para ‘amazonizar’ de que temos registro,
data de 1986, numa carta pastoral de Dom Moacyr Grechi da Diocese de Rio
Branco, no Acre, na qual convocava o povo a assumir a causa da Amazônia e
a defesa de seus povos. Desde então, ‘amazonizar’ vem se tornando sinônimo
de convocação em defesa da Amazônia amplamente
refletida durante todo o processo do Sínodo Especial para a Amazônia realizado
entre 2017 e 2019.
No processo sinodal o vocábulo ‘amazonizar’, mais
que um neologismo, tornou-se sinônimo na busca de conhecimento do Bioma Amazônia com sua
biodiversidade exuberante e, ao mesmo tempo, com suas fragilidades que se não
forem respeitadas, podem colocar em risco o equilíbrio climático de todo o
planeta. Isso ocorre porque a floresta é a grande produtora das chuvas da
América Latina e a grande reguladora do clima e das correntes de ar. A
destruição da floresta implica na diminuição das chuvas ou na sua má
distribuição provocando secas irreparáveis em algumas regiões e enchentes em
outras de forma simultânea.
Conhecer a Amazônia implica
também em se aproximar dos saberes e da diversidade dos Povos desta região,
especialmente dos povos Indígenas, suas lutas por uma ecologia integral, seus
sonhos e esperanças que contribuem para a caracterização da diversidade
sociocultural, política e econômica da Amazônia.
A convocatória ‘amazonizar’ implica em reconhecer
as lutas e resistências dos Povos da Amazônia que enfrentam
mais de 500 anos de colonização e de projetos desenvolvimentistas pautados na
exploração desmedida e na destruição da floresta e dos recursos naturais sob
risco de colocar em extinção milhares de espécies que nem mesmo foram
devidamente conhecidas.
‘Amazonizar’ naquela perspectiva da convocatória,
representa o esforço pela convivência com a Amazônia, com o modo
de serde seus povos, quando colocam seus recursos naturais para o uso coletivo.
Os bens da floresta e das águas compartilhados num modo de vida não capitalista
adotado e assimilado milenarmente numa relação de convivência baseada na
reciprocidade e na cumplicidade: “eu cuido da terra e a terra cuida de mim”
como nos ensinam os nossos ancestrais que nos recordam também que “tudo está interligado,
nesta casa comum”, como também afirma o Papa Francisco na sua Encíclica Laudato
Si´.
A convocatória ‘amazonizar’ é o despertar de todo
o povo em defesa da Amazônia,
seu bioma e seus povos ameaçados em seus territórios, injustiçados, expulsos de
suas terras, torturados e assassinados nos conflitos agrários e
socioambientais, humilhados pelos poderosos do agronegócio e dos grandes
projetos econômicos desenvolvimentistas que não respeitam os limites da
natureza nem a sua preservação.
No número 42 da Exortação Pós-Sinodal ‘Querida Amazônia’ o Papa Francisco, afirma que “se o cuidado das
pessoas e o cuidado dos ecossistemas são inseparáveis, isto torna-se
particularmente significativo lá onde a floresta não é um recurso para
explorar, é um ser ou vários seres com os quais se relacionar. A sabedoria dos
povos nativos da Amazónia inspira o cuidado e o respeito pela criação, com clara
consciência dos seus limites, proibindo o seu abuso. Abusar da natureza
significa abusar dos antepassados, dos irmãos e irmãs, da criação e do Criador,
hipotecando o futuro. Os indígenas, quando permanecem nos seus territórios, são
quem melhor os cuidam, desde que não se deixem enredar pelos cantos das sereias
e pelas ofertas interesseiras de grupos de poder. Os danos à natureza
preocupam-nos, de maneira muito direta e palpável, porque, dizem eles, “somos
água, ar, terra e vida do meio ambiente criado por Deus”. Por conseguinte,
pedimos que cessem os maus-tratos e o extermínio da “Mãe Terra”. A terra tem
sangue e está sangrando, as multinacionais cortaram as veias da nossa “Mãe
Terra”. Afirma o Papa Francisco.
Por tudo isso, “amazonizar é necessário e urgente”
nesta semana do Meio Ambiente celebrada na Amazônia e em tantas outras partes do mundo que aos poucos
vai se despertando para o cuidado do planeta.
Texto publicado em 3 de junho de 2020
https://www.facebook.com/paamsj/videos/572135080108036
*Marcia Oliveira é doutora em
Sociedade e Cultura na Amazônia (UFAM),
com pós-doutorado em Sociedade e Fronteiras (UFRR); mestre em Sociedade e
Cultura na Amazônia, mestre
em Gênero, Identidade e Cidadania (Universidad de Huelva - Espanha); Cientista
Social, Licenciada em Sociologia (UFAM); pesquisadora do Grupo de Estudos Migratórios
da Amazônia (UFAM);
Pesquisadora do Grupo de Estudo Interdisciplinar sobre Fronteiras: Processos
Sociais e Simbólicos (UFRR); Professora da Universidade Federal de Roraima
(UFRR); pesquisadora do Observatório das Migrações em Rondônia (OBMIRO/UNIR).
Assessora da Rede Eclesial Pan-Amazônica - REPAM/CNBB e da Cáritas Brasileira.
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