FORMAÇÃO E COMPROMISSO DAS CPTs DA REGIÃO NOROESTE

FOTO: CPT/RO 18/07/2019

Nos dias 08 a 18 de julho, agentes da CPT da grande região Noroeste (AM, AC, RO, RR) e do Mato Grosso, concluíram a última etapa do curso de formação Educação e Diversidades Camponesas, em Porto Velho/RO. O curso foi organizado pela CPT em parceria com a UFG/GO, com a UNIR/RO e tem carga horária de um curso de extensão com certificação.

Nesta etapa foram contemplados os temas: Caminhos para a Amazônia e para uma Ecologia Integral, com a Professora Dra. Marcia Oliveira, enfatizando a construção do Sínodo para a Amazônia. O professor Fábio Py orientou as reflexões sobre Teologia e `Pedagogia do trabalho da CPT, trazendo elementos bíblicos que fundamentam a missão da pastoral e sua dimensão profética. A metodologia da educação popular e as práticas da CPT foram abordadas pelo professor Joseph Iborra, e o Professor Dr. Willas Dias Costa fez um panorama das questões camponesas contemporâneas na Amazônia.

Para concluir a formação, os/as agentes apresentaram suas sistematizações de experiências a partir de suas vivências nos seus respectivos Estados. Os/As cursistas também participaram do Seminário do Sínodo para a Amazônia na Catedral de Porto Velho, que contou com a presença de Dom Roque Paloschi e de vários membros de pastorais sociais. Finalizou-se a formação com a realização do seminário “Amazônia: novos desafios para os Povos desta Terra” organizado em conjunto com a UNIR, do Grupo de Pesquisa em Gestão do Território e Geografia Agrária da Amazônia – GTGA e CPT. Este Seminário problematizou os debates em torno de temas do atual contexto político social brasileiro. 
Maria Petronila Neto destacou que com os novos, velhos desafios, quem sofre são os povos que são empecilho para a máquina mortífera do capital: "A Amazônia continua sendo o local de saque". 
O número de conflitos e violência concentra-se nessa região, assim como a concentração de mais de 80% das áreas em disputa. A presença do Estado em cenários de violência também é destaque, como no caso do Massacre de Pau D'Arco no Pará, perpetrado por agentes do estado.
Para a igreja estão colocados vários desafios, dentre esses fechar as lacunas e assumir a luta das minorias que até então não são colocadas como interlocutores de um novo projeto de sociedade. Ao assumir a luta dos mais pobres, essa igreja se torna uma igreja que corre riscos e é caluniada por sua opção, que a opção do Evangelho: a opção pelos pobres!
Nesse contexto, o Sínodo para a Amazônia é luz, esperança e chamado a igreja para a escuta e o aprendizado a partir da realidade dos povos da Pan-Amazônia, construindo caminhos concretos para a Igreja na Amazônia, que possa estar atenta e comprometida com os gritos e as lutas de indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores, seringueiros, pequenos agricultores e campesinos. O Sínodo é um convite também para cada um de nós, de amazonizar a vida, amazonizar a casa comum!
Vindo da UFAM, professor Willas destaca que a Amazônia sempre foi um movimento de resistência. "A Amazônia se mantém forte e rebelde diante de tudo que acontece e esse espírito precisamos manter vivo"! As pessoas já vem se amazonizando ao longo do tempo, e dentro da academia esse processo se qualifica no encontro entre universidade e movimentos sociais. Diante dos desafios atuais e da conjuntura brasileira, apostar no conhecimento dos povos e suas experiências pode nos apontar caminhos e saídas.
O professor Ricardo Gilson da UNIR apresentou a cartografia dos Conflitos na Amazônia, enfatizando a biodiversidade étnica e cultural existente nessa região. Ainda explica que a agenda política é de acabar com as áreas protegidas e isso significa destruir esses espaços de reprodução da vida e da diversidade.
Os agentes econômicos buscam essas áreas protegidas para a exploração mais intensiva dos recursos naturais e da terra, que no capitalismo brasileiro, ainda serve de especulação. Assim, o debate da terra e do território faz um contraponto ao projeto de expansão das áreas de produção no mundo, colocando em foco a América do Sul e África. Nessas terras tem gente!!!
Nesse cenário, há um deslocamento dos conflitos por água para a Amazônia, especialmente em razão das hidrelétricas e da mineração. Ao mesmo tempo nós temos uma grande concentração de terra, e o avanço sobre áreas de terras públicas. Na Amazônia é onde está localizado o maior percentual de terras públicas, entre elas áreas protegidas. Se analisarmos a situação das terras indígenas, muitas estão ameaçadas por fazendeiros, madeireiros e mineradoras. Destacam-se a grilagem de terras, o roubo de madeira e o genocídio, principalmente nessa região norte de Rondônia e Sul do Amazônas. O subsolo de Rondônia e o mapeamento mineral, apontam novos desafios e conflitos.
Essas realidades vem se acirrando em toda a Pan-Amazonia, o que revela a importância do Sínodo para a Amazônia e para o trabalho da universidade, da CPT tanto no registro e memória dessa violência, quanto no protesto e resistência.
A formação prática e teórica de agentes de pastoral sempre foi uma prioridade para a Comissão Pastoral da Terra, uma pastoral de fronteira e imersa na vida e nas lutas dos povos do campo. Fundada nas bases da educação popular, a CPT é aprendiz das experiências de luta dos trabalhadores e trabalhadoras da terra, e tem o dever de estudar e aprofundar conhecimentos que permitam entender os processos que nos trouxeram a realidade atual, partilhar conhecimento e aprender da universidade, visualizar tendências e retomar sempre a mística do Deus dos Pobres e dos Pobres da Terra na construção de uma sociedade onde a justiça e o direito são frutos da luta desses mesmos pobres.


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