RONDÔNIA: UM CLAMOR QUE VEM DA FLORESTA
“A justiça não tarda, ela chega no momento certo”
Frase dita por um seringueiro da Resex Rio Cautário.
José Pantoja: Presente!
Assembleia extraordinária da Associação dos Seringueiros do vale do Guaporé /Aguapé - Costa Marques, Rondônia.
Manhã de muito frio, olhar triste, porém cheio de bravura, convicção, indignação e revolta pela covarde morte do irmão José Pantoja.
Nada seria impedimento para que pouco a pouco, o antigo barracão de reunião construído na comunidade Canindé, começasse a
ser lotado. Em direção a ele peregrinavam pelos caminhos da floresta, crianças, mulheres e homens seringueiros, castanheiros e moradores do lugar, outros buscavam o rio
como um caminho para lá chegarem.
Fazia
tempo que uma comoção geral não pairava sobre
aquelas terras longínquas, o peso da tristeza abalava a todos, um forte
sentimento de perda estava latente, afinal, José Pantoja Bezerra o lendário
recordista do corte de borracha de toda a comarca de Costa Marques havia
tombado, era um exemplo de trabalho humano.
A
covardia, arma da mais perversa natureza, resolvera lhe visitar no entardecer do
dia 17 de junho de 2017. Desta vez, através de uma equipe de fiscais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, que armada como se fosse um destacamento de Capitães do Mato a serviço da corôa consumara este triste episódio. José Pantoja perdeu a vida atingido por dois tiros, após uma visita imposta por agente do ICMBIO, seu corpo jogado às águas do rio Cautário
barbaramente, sendo encontrado somente no dia seguinte.
A morte deste valoroso seringueiro é mais um
desfavor cometido por agentes do ICMBIO aos povos extrativistas do Brasil. Num sistema de
política de preservação voltado a punir os pequenos e premiar os grandes, a
exemplo do novo código florestal.
Pantoja
era um seringueiro do velho tipo, trabalhador, desbravador dos castanhais,
cauchos e seringais das primeiras décadas de criação da reserva, um homem nato
do lugar e filho da floresta, que preferia viver no último seringal da Unidade
de Conservação, podendo de lá sentir, enxergar e viver melhor a contemplação da
natureza, assim era este seringueiro.
As
laterais, fundo e centro do barracão agora repleto de extrativistas dava a
dimensão do problema, ali se reuniam amigos, amigas e os antigos camaradas da
produção, queriam reclamar, reivindicar e clamarem por justiça em mais uma
assembleia geral extraordinária na Reserva Cautário. Entidades como a Comissão
Pastoral da Terra, Organização de Seringueiros de Rondônia, Associação dos Seringueiros
do Vale do Guaporé – AGUAPÉ e outras organizações entre o povo estavam, buscavam
juntos construírem saídas a dor de todos.
Os
moradores vinha de várias comunidades: Vitória Régia, Ouro fino, Jatobá,
Canindé, Laranjal; compareciam em peso expressando a dor e revolta pelo bárbaro
crime acontecido ao memorável seringueiro. Depoimentos falavam por si, em uma
só voz, justiça era a palavra que se ouvia do início ao fim da reunião, no
lugar denotava-se tristeza, revolta, indignação, decepção, exigia-se a verdade
e a prisão imediata dos responsáveis pelo ato.
A
discussão fora feita amplamente: as vozes ecoavam denúncias; arbitrariedade no
trabalho dos agentes do governo; indiferença na presença quase que coercitiva
do órgão ICMBIO nas localidades. Ficava claro como a comunidade era tratada, o
povo que sempre deu sentindo à própria existência da floresta e do órgão, fora
desmerecido no seu valor e na humanidade de sua história; assim foram, os
desabafos expressados nas falas simples daquela gente guardiã da floresta.
Após
quase sete horas de discussões e intervenções, uma carta denúncia estava feita,
produto de um dia de trabalho, reivindicava justiça, exoneração e punição aos responsáveis pela morte de José Pantoja, destacando a real intenção do chefe do órgão naquele município. Enfileiradas
como se estivessem numa grande fila indiana, famílias inteiras do lugar se
espremiam para assinar ansiosamente o documento final que dava voz aos seus
clamores.
A
carta segundo as entidades presentes no ato será enviada a capital federal do
Brasil, aos órgãos da Justiça Nacional, bem como, entidades de luta em defesa
dos Direitos Humanos pelo país a fora.
Equipe da CPT-RO, presente na Assembleia Extraordinária da Aguapé,
em 18 de julho de 2017.
barbaridade do órgão federal com a população do rio cautario.
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