QUILOMBOLAS DO FORTE PRÍNCIPE DA BEIRA
QUILOMBOLAS DO FORTE PRÍNCIPE DA BEIRA, EM RONDÔNIA, CONTINUAM COM GRAVES
AMEAÇAS AOS SEUS DIREITOS.
Em atrito territorial com o Exército, deslocamento de professores deixa
alunos sem aula e INSS nega reconhecimento da identidade quilombola de membros
da comunidade.
Apenas duas semanas após reunião
na comunidade com o Dr. Alexandre Miguel, procurador do MPF de Ji Paraná, a comunidade
remanescente de quilombo do Forte Príncipe da Beira, em Costa Marques,
Rondônia, continua enfrentando graves dificuldades para o reconhecimento de sua
identidade etnica e para sua permanência e reconhecimento do território
tradicional. A comunidade, situada na divisa do Brasil com a Bolívia, surgiu
com a construção de uma fortaleza pelos portugueses no século XVII e depois de
ser “redescoberta” pelo Marechal Rondon, convive com um batalhão do Exército de
Fronteira desde 1934.
Impedimento do estudo territorial quilombola.
A área de 22.000 h. que o
Exército considera como patrimônio é uma área de terra pública situada dentro
do território tradicional da comunidade, que foi certificada oficialmente como
remanescente de quilombolas em 28 de Junho de 2005 (Certidão nº 01420.001406/2005-44)
pela Fundação Cultural Palmares. O Exército tem impedido de forma ilegal a
realização por parte do INCRA do RTID (Relatório de Identificação e Delimitação
do Território) e negado o reconhecimento quilombola da comunidade. Faz anos que
a comunidade aguarda o posicionamento da Justiça Federal de Ji Paraná ao
respeito.
Dificuldades para realização de roças e notificações de expulsão.
Como em anos anteriores, o
comandante do Batalhão enviou este ano novas notificações a membros da
comunidade por realização de roças em áreas tradicionais da comunidade,
ameaçando com a expulsão da comunidade e com penas de desobediência à justiça
militar por supostos crimes ambientais. Segundo a comunidade, houve também ameaças
de prender tratores da Prefeitura e Emater se forem no local para preparar
roças para os membros da comunidade.
Negação de direitos de aposentadoria especial.
Mulheres da comunidade, que
sempre realizaram atividades agrícolas, têm visto negado o seu direito a
aposentadoria rural no INSS em São Miguel do Guaporé, segundo elas, por não
reconhecer a identidade de remanescentes de quilombolas da comunidade, nem
aceitar as declarações da Associação Quilombola do Forte Príncipe da Beira das
atividades de uma vida inteira de trabalho na roça. Não seria a primeira vez
que isso acontece.
Retirada de professores da Escola Municipal General Sampaio.
A escola está situada dentro de
uma área da comunidade que o quartel do Exército anexou. A comunidade já teve
muitas dificuldades por causa disso. Após ser municipalizada, a Escola da
Comunidade agora enfrenta dificuldades pela transferência dos professores
municipais locais para distritos distantes, deixando alunos do Forte sem aula. Pais
dos alunos tem se reunido mostrando sua contrariedade por ser a segunda vez que
isso acontece, prejudicando os alunos, e têm escrito à Prefeitura pedindo o
retorno da professora transferida.
Impedimento de atividades de turismo.
A comunidade está vendo com a
Prefeitura a possibilidade de retomada de atividades econômicas explorando o
potencial turístico da área, como eram realizadas antes de ser impedidas pelo Exército.
Pois o local recebe numerosos visitantes para conhecer um dos mais emblemáticos
patrimônios históricos do estado, a fortaleza construída no século XVII a mando
dos portugueses e que deu origem à comunidade quilombola local.
Reunião com o MPF, INCRA e outras autoridades.
Estes assuntos, como as
dificuldades sofridas para realizar reformas e manutenção das moradias da
comunidade, foram abordados em assembleia da comunidade o passado dia 16 de
maio de 2017 junto com o novo Procurador da República em Ji Paraná, Dr.
Alexandre Miguel. Ainda a comunidade
citou as dificuldades para abastecimento e saneamento da água, para asfaltar as
ruas e para realização de construções em preparação dos Festejos do Divino
Espírito Santo no Forte no ano de 2021. Representantes da Secretaria de Meio
Ambiente de Rondônia, SEDAM, declinaram se posicionar sobre a concessão de
licenças ambientais para o trabalho tradicional de roça dos membros da
comunidade.
Na presença dos responsáveis do
INCRA, William Coimbra e Antônio de Oliveira, este responsável nacional do
Brasil Quilombola, a comunidade reiterou o pedido do INCRA de realizar o RTID e
verem seu território titulado, o qual estaria facilitado por tratar-se de uma
área de terra pública. A reunião teve
também a presença de autoridades da prefeitura, do Pe. Claudemir, pároco de
Costa Marques e de membros da Comissão Pastoral da Terra.
Pela tarde junto com o presidente
da Associação Quilombola, Elvis C. Pessoa, houve reunião do MPF com o
comandante e outros oficiais do Exército, em busca de uma resolução das
dificuldades existentes. O Comandante esclareceu que as notificações não tinham
como objetivo expulsar nenhum membro da comunidade, e o Coronel Lourenço,
mostrou a disposição de resolver todos os problemas. Apesar das boas vontades
apresentadas, o afastamento de uma professora e as restrições do INSS aos
quilombolas do Forte foram sentidas como posteriores retaliações à luta da
comunidade por seus direitos.
30/maio/2017.
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