Carta de Rondônia sobre Violência e Conflitos Agrários em Rondônia
Os movimentos sociais no campo, em Audiência Pública sobre a violência e os
conflitos agrários em Rondônia, realizada 20 de junho de 2017, na cidade de
Porto Velho, vêm manifestar seu repúdio e preocupação com a situação social, agrária e territorial na Amazônia, onde
a violência e a grilagem de terras públicas,
tradicionalmente ocupadas pelos povos e comunidades tradicionais amazônicas, alcançam
patamares alarmantes de violência,
com o total apoio do atual governo brasileiro no processo proposital de negligência às questões demandadas por
indígenas, seringueiros, quilombolas, ribeirinhos, camponeses, agroextrativistas,
posseiros, sem terra e grupos socialmente organizados pelo direito à terra.
Rondônia concentrou 40% das
mortes no campo de todo o Brasil em 2015 e 2016 e este ano já registrou 14
mortes. A este cenário de violência contribuem as recentes medidas provisórias
que alteram o marco jurídico das terras públicas, principalmente as áreas protegidas
e os assentamentos rurais, que visam legalizar a grilagem de terras e instituir um
cenário de insegurança no campo em todo Brasil, evidenciando as questões
agrárias na Amazônia e diretamente no Estado de Rondônia. Sob tais aspectos os
movimentos sociais reunidos nesta Audiência reiteram sua manifestação contra esses
atos "ditos legais" do governo brasileiro e agora já aprovado no Congresso o Projeto de Conversão de Lei nº 12/2017, ao instituir em seu artigo 102 a doação
de terras da União para o Governo de Rondônia incorre em um atentado à
garantias já estabelecidas e em possibilidade de, uma vez mais, legitimar
processos de grilagem de terras públicas no Estado de Rondônia. Previne-se que
tal ato fragilizará e destruirá as possibilidades políticas de Reforma agrária,
significando enormes prejuízos sociais em especial àqueles demandados pelos
Movimentos Sociais do campo. Além de justificar e legalizar a grilagem de
terras públicas, contribuirá para o aumento da violência, marca e mancha da
questão agrária no Estado. Nítida pois, a cumplicidade do Estado brasileiro se
permanecer esta situação, uma vez que, este mesmo Estado torna-se e toma parte
ativa nestes processos de saque e violência.
Consoante as reivindicações dos grupos de camponeses
e povos e comunidades tradicionais amazônicas nesta Audiência, constatou-se a preocupação frente a institucionalização da grilagem e
especulação imobiliária contínua da terra, aos sucessivos crimes ambientais,
devastação de florestas, ameaças e perseguição por agentes do Estado, atos de
violência e assassinatos de lideranças do campo, pistolagem e milícias armadas,
inclusive com participação de forças policiais, prisões e criminalização de lideranças.
Por outro lado, impunidade na invasão de terras indígenas, Unidades de
conservação, expropriação dos territórios e das áreas de plantio de pequenos
agricultores, com despejo de centenas de famílias de pequenos camponeses, impedindo
acesso aos recursos hídricos e a produção de alimentos. Registra-se ainda, a
morosidade nas ações de governo quanto às políticas de infra-estrutura e
consolidação dos assentamentos, sobretudo no Estado de Rondônia.
COMISSÃO PASTORAL DA TERRA- CPT-RO
MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TERRA-MST
MOVIMENTO DOS ATINGIDOS POR BARRAGENS - MAB
GRUPO DE PESQUISA GESTÃO TERRITORIAL E GEOGRAFIA AGRÁRIA DA AMAZÔNIA - GTGA/UNIR:
ORGANIZAÇÃO DOS SERINGUEIROS DE RONDÔNIA - OSR
PASTORAIS SOCIAIS DA ARQUIDIOCESE DE PORTO VELHO
CÁRITAS BRASILEIRA - REGIONAL NOROESTE
ASSOCIAÇÃO DOS SERINGUEIROS DE MACHADINHO
ASSOCIAÇÃO DOS PEQUENOS PRODUTORES RURAIS NOVA CANAÃ DE VILHENA
ASSOCIAÇÃO DE PRODUTORES DO VALE DO PIRACOLINO - ASPROVAP
ASSOCIAÇÃO DOS PEQUENOS PRODUTORES RURAIS DO VIVEIRO DO PIRACOLINO
ASSOCIAÇÃO UNIÃO DA VITÓRIA - ASCUV
ASSOCIAÇÃO ÁGUAS CLARAS - APRAC
ASSOCIAÇÃO FLOR DA SERRA - APPRFS
ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES RURAL DO VALE DO RIO AVILA - ASPROVA
ASPEM - GLEBA CORUMBIARA
ASSOCIAÇÃO DOS PEQUENOS PRODUTORES RUAIS NOSSA SENHORA APARECIDA - ASPRINSA
Ante esta ofensiva do governo brasileiro
contra a terra e território, contra os bens da natureza, no sentido de
mercantilizar os bens da vida, conclamamos às pessoas e instituições a somarem
as forças na resistência que se caracteriza pelo saque e pela destruição dos
bens públicos. Em especial, reivindicamos ao Ministério Público Federal,
Defensoria Pública da União e outros Órgãos afins, para que promovam, no campo
da justiça, medidas cabíveis contra os desmandos legislativos direcionados pelo
governo e sobretudo pela Frente Parlamentar Agropecuária, a chamada Bancada
ruralista. De igual forma, conclamamos também à estes Órgãos que acionem o
Conselho Nacional de Justiça no sentido de atuar junto ao Poder Judiciário no
Estado, sobretudo em relação ao tratamento jurídico dispensado de forma
protetiva à grandes grileiros e especuladores imobiliários. Neste sentido,
igualmente, que haja mais compromissos deste próprio Poder em agir quanto à
investigação dos crimes contra camponeses, lideranças e defensores dos
movimentos sociais do campo.
A nível interno, a crise político-social em
que o país está imerso, a Carta que ora assinamos contra as mudanças impostas, assumimos o desafio de construir uma rede de
mobilização conjunta associada a uma pauta de enfrentamento envolvendo todos os
segmentos sociais que lutam pela terra, ocupação das rádios comunitárias, redes
sociais, universidades, associações comunitárias, entre outros meios de
mobilização. Dessa forma, poderemos ir além das denúncias, colocando em prática
ações concretas de esclarecimento político e social, ao fato que avizinha outra
manifestação política, a qual devemos agir para mudarmos este cenário, em curso
e já anunciado, de impunidade. Vamos todos juntos lançar mão do nosso destino e
partilhar nossas forças.MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TERRA-MST
MOVIMENTO DOS ATINGIDOS POR BARRAGENS - MAB
GRUPO DE PESQUISA GESTÃO TERRITORIAL E GEOGRAFIA AGRÁRIA DA AMAZÔNIA - GTGA/UNIR:
ORGANIZAÇÃO DOS SERINGUEIROS DE RONDÔNIA - OSR
PASTORAIS SOCIAIS DA ARQUIDIOCESE DE PORTO VELHO
CÁRITAS BRASILEIRA - REGIONAL NOROESTE
ASSOCIAÇÃO DOS SERINGUEIROS DE MACHADINHO
ASSOCIAÇÃO DOS PEQUENOS PRODUTORES RURAIS NOVA CANAÃ DE VILHENA
ASSOCIAÇÃO DE PRODUTORES DO VALE DO PIRACOLINO - ASPROVAP
ASSOCIAÇÃO DOS PEQUENOS PRODUTORES RURAIS DO VIVEIRO DO PIRACOLINO
ASSOCIAÇÃO UNIÃO DA VITÓRIA - ASCUV
ASSOCIAÇÃO ÁGUAS CLARAS - APRAC
ASSOCIAÇÃO FLOR DA SERRA - APPRFS
ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES RURAL DO VALE DO RIO AVILA - ASPROVA
ASPEM - GLEBA CORUMBIARA
ASSOCIAÇÃO DOS PEQUENOS PRODUTORES RUAIS NOSSA SENHORA APARECIDA - ASPRINSA
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