Conflito e violência no campo: Rondônia registra seu décimo assassinato em 2017
O Estado de Rondônia é o primeiro
no ranking em números de assassinatos e violência no campo, e não nos parece claro
que as autoridades e os Órgãos competentes, desejem mudar esse quadro. Pelo ao
contrário, o que vem sendo presenciado constantemente são as denúncias dos
trabalhadores apontando o Estado como o promotor desta violência através de
suas forças policiais. Esta constatação fica mais
evidente ainda quando se ouve o relato dos sujeitos coletivos retratando a face
cruel desta violência.
As Patrulhas da Polícia Militar nas áreas de conflito
agrário, que deveriam servir para evitar e reduzir a violência do campo, na
realidade estão sendo utilizadas para promover ainda mais a violência,
reprimindo qualquer reivindicação por reforma agrária, conforme relatos obtidos
junto aos camponeses.
Este parece ser o teor da morte
de Paulo Sérgio Bento Oliveira, na Linha 76 de Mirante da Serra, no dia 16 de
Maio de 2017. Esta se tornou a décima morte de camponeses em Rondônia durante o
período de cinco meses de 2017, num ritmo bem parecido aos de 2015 e 2016.
Nestes dois últimos anos, foram registrados pela CPT-RO, 41 assassinatos de
camponeses no Estado, ou seja, 40% dos casos registrados pela CPT em todo
Brasil nestes dois anos, o pior foco de violência agrária do país.
Os camponeses do acampamento
Fidel Castro, acusam o Grupo de Operações Especiais – GOE, de executarem a
tiros, Paulo Sérgio, e ainda de realizarem outros atos de violência e abusos de
poder na região, como por exemplo as apreensões de veículos de forma abusiva e
revistas em condições humilhantes. Afirmam ainda que desde o ano passado vêm
denunciando envolvimento de policiais militares em milícias armadas (pistolagem),
realizando segurança privada da fazenda Boi Oitenta, imóvel este que eles
reivindicam. Reclamações sobre as blitz e atuação amedrontadora da GOE se
repetem em outros acampamentos da comarca de Ouro Preto e Ji Paraná. Os
representantes do Acampamento Fidel Castro 2 tinham denunciado a semana passada,
através de uma carta manuscrita, fatos semelhantes ao vice-governador de
Rondônia, narrando especialmente ameaças e constrangimentos sofridos por uma
acampada das mãos de uma patrulha da GOE.
Testemunhas contestam a afirmação
da polícia alegando confronto. Segundo os trabalhadores, Paulo fugiu da blitz
porque estava com IPVA de sua moto atrasado e que houve uma caçada a tiros pelo
pasto, sendo que a vítima não estava armada. Os camponeses acusam ainda os
policiais de terem retirados o corpo de forma irregular, incendiando o local e
apagando quaisquer vestígios para perícia.
Em protesto, no mesmo dia os
acampados se manifestaram em Mirante da Serra pedindo a apuração destas
denúncias. Por enquanto o delegado da polícia civil de Ouro Preto prometeu
investigar e apurar esta versão.
Não podemos aceitar que estes
atos de violências possam ser vistos apenas como um ato isolado. Tudo parece
ser muito bem planejado, executado e monitorado, na certeza plena da impunidade
e do acobertamento dos crimes do campo que atingem os camponeses, neste caso
provocado diretamente pelo Estado e por aqueles que têm como principal
obrigação, evitar e conter a violência.
Comissão pastoral da Terra,
Regional de Rondônia, Porto Velho, 19/05/2017.
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