"Os números deixam evidente a forte
concentração da terra em poucas propriedades, especialmente no Norte e no
Centro-Oeste do país, realidade que se mantém desde os tempos do Brasil
Colônia", escreve Nilo Sergio S. Gomes, jornalista, pesquisador,
doutor em Comunicação, professor da ECO/UFRJ e editor do portal Porteira do
Mato, em artigo publicado por EcoDebate, 10-04-2017.
Eis o artigo.
Os dados apurados pelo Cadastro Ambiental Rural (CAR) revelam um Brasil rural maior do que as estimativas iniciais do próprio Serviço Florestal Brasileiro, do Ministério do Meio Ambiente. Além disso, os números deixam evidente a forte concentração da terra em poucas propriedades, especialmente no Norte e no Centro-Oeste do país, realidade que se mantém desde os tempos do Brasil Colônia.
O Cadastro foi criado a partir do novo
Código Florestal Brasileiro e regulamentado pela lei 12.651, de 25 de maio
de 2012, que trata da proteção da vegetação nativa, ampliando esta proteção, alterando
leis anteriores e aplicando as novas tecnologias digitais de informação para
monitoramento e mapeamento das áreas passíveis de serem cadastradas.
O CAR é um registro público
eletrônico nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, e quem não o
fizer até 31 de dezembro perderá acesso a créditos agrícolas de qualquer
modalidade. A lei determina que as instituições só concedam crédito a imóveis
cadastrados.
O tamanho do Brasil rural
Até 28 de fevereiro último foram cadastrados, em
todo o país, 402,7 milhões de hectares de terra, total acima do estimado pelo Ministério
do Meio Ambiente, que era de 397,8 milhões de hectares de áreas
cadastráveis. Isto porque os dados estavam defasados, pois baseados ainda no Censo
Agropecuário de 2006, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
Esses dados adicionados às Unidades
de Conservação, que têm
25,5 milhões de hectares distribuídas em 17,2 mil imóveis, o tamanho do Brasil
rural alcança 428,2 milhões de hectares de terra pertencentes a 4 milhões
de propriedades. Como cada hectare (ha) corresponde a 10 mil metros quadrados,
não é difícil saber o tamanho do Brasil rural.
Esses mais de 428 milhões de hectares pertencem,
por sua vez, a 4,01 milhões de propriedades rurais, o que já é uma primeira
evidência da concentração da terra, em um país com mais de 200 milhões de
habitantes. As regiões Norte e Sudeste já superaram as previsões
de áreas cadastráveis, e o Nordeste tem 75,4% de terras cadastradas. No Sul
e no Centro-Oeste os percentuais de cadastramento são acima de 90%.
Amapá, Roraima e Mato Grosso
lideram concentração
Segundo os dados do CAR, um dos estados
brasileiros com maior taxa de concentração
de terras é o
Amapá. Os 2,73 milhões de hectares de terra já cadastrados pertencem a
11,6 mil propriedades de terra. No Acre, quatro vezes maior, os 10,8 milhões de
hectares são propriedades de 47,73 mil imóveis. Calculemos os quase 11 milhões
de hectares acreanos divididos pelos quase 48 mil imóveis, e o resultado dará a
dimensão da concentração do latifúndio.
Em Roraima, já cadastrados 3,8 milhões de
hectares de terra, mais do que o dobro do estimado a partir do Censo do IBGE
de 2006, são 19.265 os proprietários desses imóveis rurais. No Amazonas,
com 24,5 milhões de hectares já inscritos no CAR, são 54,5 mil as propriedades.
No Nordeste, o caso da Bahia é exemplar: são 13,2 milhões de hectares (44,6% do
total cadastrável) para pouco mais de 138,6 mil imóveis. Vejam o mapa do
próprio Cadastro Ambiental Rural:
(Fonte:
CAR)
No Mato
Grosso do Sul já
foram cadastrados 27,37 milhões de metros quadrados, o equivalente a 90% do território
sujeito à inscrição no CAR, e toda essa terra pertence a 41,26 mil
proprietários. É muita terra para cada um, não? Diferentemente, o Sul e
o Sudeste brasileiro apontam outras espacialidades territoriais, que não
eliminam, mas atenuam a enorme concentração que se observa no Norte e no
Centro-Oeste.
Em Minas Gerais, por exemplo, já cadastrados
37,6 milhões de hectares (mais de 4 milhões de hectares acima do estimado), os
dados mostram 618,5 mil imóveis. No Rio Grande do Sul, os 17,6 milhões
de hectares (85,9% do total) distribuem-se por 474,5 mil propriedades. Em São
Paulo são 307,1 mil propriedades em 17,7 milhões de hectares.
Trabalho digno de elogios. Como mentira tem perna curta, aí está a verdade que todo brasileiro precisava saber. Agora, cabe ao governo adotar medidas e trabalhar com seriedade e determinação objetivando a destinação desses milhares de hectares existentes nas mãos de poucos e destiná-los a trabalhadores rurais desempregados pelo país afora, que fazem dos tapiris de lona seus lares.
ResponderExcluirTrabalho digno de elogios. Como mentira tem perna curta, aí está a verdade que todo brasileiro precisava saber. Agora, cabe ao governo adotar medidas e trabalhar com seriedade e determinação objetivando a destinação desses milhares de hectares existentes nas mãos de poucos e destiná-los a trabalhadores rurais desempregados pelo país afora, que fazem dos tapiris de lona seus lares.
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