Construtores do desenvolvimento social!

Palavra de Dom Moacyr Grechi – Arcebispo Emérito de Porto Velho
Matéria 473 - Edição de Domingo – 24/05/2015

Com o microfone, Dom Benedito Araújo,
bispo de Guajará Mirim e novo administrador apostólico de Porto Velho,
em 2013, na assembléia da CPT Rondônia em Porto Velho. foto cpt ro

Construtores do desenvolvimento social!

A Solenidade de Pentecostes e a Festa da Padroeira de Porto Velho, Nossa Senhora Auxiliadora, neste domingo, marcam um novo tempo de esperança.

Hoje, saudamos cada pessoa com as mesmas palavras de Jesus: “A paz esteja convosco”! Saudamos o novo Administrador Apostólico, Dom Benedito Araújo, saudamos os presbíteros e seminaristas, religiosos e missionários; saudamos de modo especial, as famílias com seus jovens e crianças, e todas as comunidades que se dirigem ao Campo da 17ª. Brigada, em caravana, romaria e procissão, para celebrar o Espírito Santo e o nascimento da Igreja missionária.

Aqui, nesta cidade abençoada e em cada comunidade ribeirinha, rural e dos municípios mais distantes, vamos renovar o mistério deste grande dia e reviver aquela mesma experiência espiritual dos primeiros discípulos, transformando este local em um grande Cenáculo. 

Inspiram nossa reflexão as palavras de João Paulo II: ao falar da “perenidade do Pentecostes” afirmava: “temos o direito, o dever e a alegria de dizer que o Pentecostes continua” e de reavivar a expectativa de uma renovada efusão do Espírito Santo. Assídua e concorde na oração com Maria, Mãe de Jesus, ela não cessa de invocar: desça o vosso Espírito, ó Senhor, e renove a face da terra (Sl 103,30)!

O lema deste ano: “O Espírito me consagrou para servir” (Lc 4,18) está em sintonia com a Campanha da Fraternidade, cujo lema é “Eu vim para servir” (Mc 10,45) e o tema “Fraternidade: Igreja e sociedade”. É também sequencia do lema de Pentecostes do ano 2014: “O Espírito do Senhor está sobre mim” (Lc 4,18-20).

Jesus confiou aos apóstolos a missão de construir o Reino de Deus no coração dos homens e mulheres deste mundo. Com a morte e ressurreição de Jesus, Deus cumpriu sua promessa de enviar o Espírito Santo (At 2,1ss). Assim, receberam a força salvadora que impele os discípulos missionários de Jesus a anunciar este Reino e a chamar as nações a fazerem parte dele (TB/CF n.138).

“Essa festa toda missionária alarga o nosso olhar para o mundo inteiro” e nos faz compreender que somos “Igreja em missão” (J.Paulo II), “missão que se encarna nas limitações humanas” e se manifesta “na sede de participação de numerosos cidadãos, que querem ser construtores do desenvolvimento social e cultural” (EG 67).

A ordem social e o seu progresso devem, pois, reverter sempre em bem das pessoas, já que a ordem das coisas deve estar subordinada à ordem das pessoas e não ao contrário; essa ordem, fundada na verdade, construída sobre a justiça e vivificada pelo amor, deve ser cada vez mais desenvolvida e, na liberdade, deve encontrar um equilíbrio cada vez mais humano. O Espírito de Deus, que dirige o curso dos tempos e renova a face da terra com admirável providência, está presente a esta evolução. E o fermento evangélico despertou e desperta no coração humano uma irreprimível exigência de dignidade (GS 26).

Ao celebrar a beatificação do arcebispo Dom Oscar Romero (23/5), assassinado em El Salvador, no dia 24 de março de 1980, fazemos memória de suas palavras: A verdadeira paz só pode ser construída sobre a justiça social. O meu trabalho consistiu em manter a esperança do meu povo. Se há um pouco de esperança, o meu dever é alimentá-la. O maior perigo diante de tanta violência é que fiquemos insensíveis. Eu tento pensar diante de Deus que um só morto representa uma grave ofensa e que, todas as vezes que um homem ou uma mulher morre, é como matar novamente Jesus Cristo. Rezo ao Espírito Santo, para que me faça caminhar nas estradas da verdade; eu sei apenas que a sua graça guia a Igreja e torna fecunda sua palavra. Confio no Espírito Santo e procuro ser seu instrumento, amando e servindo sinceramente o povo, a partir do Evangelho.

Não deixemos que nos roubem a esperança, faz um apelo o papa Francisco na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (n.86). Somos todos discípulos missionários. A força santificadora do Espírito atua em nós, a partir do batismo e nos impele a evangelizar. O povo de Deus é san­to em virtude desta unção, o Espírito guia-o na verdade e o conduz à salvação (EG 119; LG 12).

A nova evangelização deve implicar um novo protagonismo; cada cristão é missionário na medida em que se encontrou com o amor de Deus em Cristo Jesus; esta convicção transforma-se num apelo dirigido a cada cristão para que ninguém renuncie ao seu compromisso de evangelização, porque, se uma pessoa experimentou verdadeiramente o amor de Deus que o salva, não precisa de muito tempo de preparação para sair a anunciá-lo (EG 120).

Neste Pentecostes, “somos chamados a crescer como evangelizadores”; deixemos que os outros nos evan­gelizem constantemente; sejamos um teste­munho mais claro do Evangelho; que encontremos o modo de comunicar Jesus que cor­responda à situação em que vivemos e que hoje cada um possa reafirmar a sua fé profunda e sólida no Espírito Santo: espírito de justiça, verdade, santidade.

Assim, nos anima o papa: o teu coração sabe que a vida não é a mesma coisa sem Ele; pois bem, aquilo que descobriste, o que te aju­da a viver e te dá esperança, isso é o que deves comunicar aos outros. A nossa imperfeição não deve ser desculpa; pelo contrário, a missão é um estímulo constante para não nos acomodarmos na mediocridade, mas continuarmos a crescer. O testemunho de fé, que todo o cristão é chamado a oferecer, implica dizer como São Paulo: “Não que já o tenha alcançado ou já seja perfeito; mas corro para ver se o alcanço, lançando-me para o que vem à frente” (Fl 3,12-13; EG 121).

O Evangelho de hoje (Jo 20,19-23) tem especial significado: a comunidade recebe o mesmo Espírito que animou Jesus. Ele se apresenta no meio da comunidade e saúda: “A paz esteja com vocês!” Fortificada pela presença de Jesus, a comunidade está pronta para a mesma missão que ele recebeu: “Como o Pai me enviou, assim também eu envio vocês”. Quem vai garantir a missão da comunidade será o Espírito Santo. “Tendo falado isso, Jesus soprou sobre eles, dizendo: Recebam o Espírito Santo!” Aqui nasce a comunidade messiânica. O Espírito, então, liberta-nos de tudo o que impede a graça de Deus de atuar em nós. De agora em diante, batizados no Espírito Santo como Jesus, os cristãos têm o encargo de continuar o projeto de Deus (VP). Qual é, portanto, a missão de nossa comunidade? Mostrar onde está a vida e onde se aninha a morte; promover a vida e quebrar os mecanismos que procuram destruí-la; conscientizar as pessoas e desmascarar os interesses ocultos dos poderosos. Assim, os cristãos provocam o julgamento de Deus. Tarefa ímpar das comunidades cristãs, nem sempre fiéis a essa vocação. O que significa, por exemplo, não perdoar os pecados dos latifundiários, dos corruptos, dos políticos que utilizam o poder para defender seus interesses? Não é missão da comunidade, como não era a de Jesus, julgar os homens. Seu julgamento não é senão o de constatar e confirmar o juízo que o homem faz de si próprio diante do projeto de Deus (J. Mateos).

Com a leitura dos Atos dos Apóstolos (At 2,1-11) celebramos a nossa vocação missionária e aprendemos que a experiência de Pentecostes não se limita a um evento, é uma experiência contínua, por isso relata novas descidas do Espírito Santo, pois, o Espírito Santo sopra onde quer, sobre quem quer, em favor do Reino de Deus. Entregando seu Espírito, Deus realiza com a comunidade cristã a nova e definitiva aliança, na consecução do projeto divino, confiado agora aos que sonham com a humanidade livre de todas as formas de opressão, violência e morte. O Espírito Santo é o principal protagonista da evangelização. É quem garante a unidade da fé em Jesus Cristo na diversidade de línguas e culturas. 
Paulo Apostolo na 1ª Carta aos Coríntios (1Cor 12,3b-7.12-13)afirma que ninguém possui plenamente o Espírito; ninguém é privado dele! A comunidade é o corpo de Cristo! Em Deus não há divisão, mas harmonia. É pelo Espírito Santo que reconhecemos a Jesus Cristo como Senhor e salvador. É ele quem nos une num só corpo e distribui os dons diversos para a edificação da comunidade (VP).

De Deus provém somente o que é bom para os seus filhos. A diversidade revela a magnanimidade e a criatividade divinas. A graça de Deus não pode ser acolhida de forma egoísta. Por isso, todo dom desdobra-se em serviços concretos em favor do bem comum. Não importa o tipo de ministério, pois, sendo graça divina, todos têm a mesma importância. O que deve brilhar é o projeto comum, que, em nossa comunidade, é o mesmo projeto de Jesus. Congregados num mesmo Espírito, formamos um só corpo, somos Igreja.

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