Natal: um novo projeto de Vida!
Palavra de Dom Moacyr Grechi – Arcebispo Emérito de Porto Velho
Matéria 449 - Edição de Domingo – 07/11/2014
N Sra de Guadalupe |
Nesta segunda semana do Advento o convite à conversão e a uma mudança de vida, se faz mais intenso. É tempo de vencer as resistências e pôr-se em caminhada, celebrando a presença salvadora de Deus. O apelo nos chega através de João Batista, o Precursor de Cristo (Mc 1,1-8): “Preparai o caminho, endireitai as suas veredas, Ele vai chegar.”.
João Batista é o homem do deserto, da solidão em Deus, do absoluto. O próprio silêncio de João já é um grito de denúncia profética ao nosso mundo marcado pelo consumismo hedonista. Sua atividade profética é marcada por uma palavra e um gesto: conversão e batismo. O mais importante de sua missão é o anúncio de que virá alguém que é “mais forte” do que ele (Lit/Bh). João Batista é voz emprestada à verdadeira Palavra; torna-se síntese da expectativa, da espera e da preparação de toda a humanidade, em vista da vinda do Senhor.
Toda conversão supõe um processo de transformação permanente e integral, o que implica o abandono de um caminho e a escolha de outro. A expressão conversão pastoral remete acima de tudo a uma renovada conversão a Jesus Cristo, que consiste no arrependimento dos pecados, no perdão e na acolhida do dom de Deus (At 2,38s) Trata-se de uma conversão pessoal e comunitária. Há muitos batizados e até agentes de pastoral que não fizeram um encontro pessoal com Jesus Cristo, capaz de mudar sua vida para se configurar cada vez mais ao Senhor. Alguns vivem o cristianismo de forma sacramentalista sem deixar que o Evangelho renove sua vida. Outros até trabalham na pastoral, mas perderam o sentido do discipulado e esqueceram a força missionária que o seguimento de Jesus implica (CNBB doc 104,51-52).
Na liturgia, o evangelista Marcos tem certeza de que Jesus é uma Boa Notícia para Israel e para toda a humanidade, e esse fato não está isolado no tempo ou na história (Mc 1,1-8). O profeta Isaias anuncia a esperança para o povo em tempo de exílio (Is 40,1-5.9-11); apresenta Deus como um pastor que “apascenta o rebanho, reúne os cordeiros com a força dos seus braços e carrega-os no colo”. Infunde-nos coragem, pois no processo de conversão, o mais difícil nem sempre é a experiência do “retorno do exílio”. Às vezes, consegue-se dar um basta na situação que nos prende e escraviza, contudo, somente dizer um “não” à servidão ou ao pecado, não é suficiente, uma vez que no processo de maturação da vida cristã, o necessário é transformar o “não” em um “sim” e construir um novo projeto de vida mais ético e espiritual.
O Apóstolo Pedro fala do tempo de Deus e do Dia do Senhor (2Pd 3,8-14): “mil anos são como um dia…”. A paciência faz parte da pedagogia de Deus: Ele quer que todos se convertam e que ninguém se perca. À dimensão da conversão, tão fortemente presente na espiritualidade do Advento, soma-se a alegre esperança de que a vinda de Deus em nossa história é o cumprimento da promessa da antecipação de “novos céus e uma nova terra”.
Além de João Batista, Maria é personagem central no Advento. Nesta semana celebramos a solenidade da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria (8/12) e Nossa Senhora de Guadalupe (12/12).
Sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto. Esta dinâmica de justiça e ternura, de contemplação e de caminho para os outros faz dela um modelo eclesial para a evangelização. Hoje nós lhe pedimos que nos ajude, com a sua oração materna, para que a Igreja se torne uma casa para muitos, uma mãe para todos os povos, e torne possível o nascimento dum mundo novo (EG 287-288).
A Santíssima Virgem de Guadalupe está ligada de modo especial ao nascimento da Igreja na História dos povos da América que através dela chegaram a encontrar Cristo. A aparição da Santíssima Virgem ao índio Juan Diego na colina do Tepeyac teve uma repercussão decisiva na evangelização. Tal influxo supera amplamente os limites da nação mexicana, alcançando o continente inteiro. A América reconheceu no rosto mestiço da Virgem de Guadalupe o grande exemplo de evangelização perfeitamente inculturada. Pio X proclamou Nossa Senhora de Guadalupe “Padroeira de toda a América Latina”; Pio XI “Padroeira de todas as Américas”; João XXIII “Missionária Celeste do novo mundo” e “Mães das Américas”; João Paulo II pediu que a solenidade da Virgem de Guadalupe, “Mãe e Evangelizadora da América” fosse celebrada no dia 12 de dezembro, em todo continente Americano.
O Ano da Paz, que começou com o Advento, convoca cada pessoa a ser Construtor da Paz,superando a violência em todos os níveis.
O 1º passo é uma reflexão pessoal e comunitária sobre os motivos de tantos acontecimentos violentos. Violência que se manifesta na forma da morte de pessoas, na falta de ética na gestão da coisa pública, na impunidade. A violência, a falta de paz, provém do desprezo aos valores da família, da escola na formação do cidadão, do desprezo da vida simples. A violência, segundo Dom Leonardo Steiner, é a decadência do conviver, fruto da exclusão, da rejeição. Falta de amor nas relações. A paz é fruto da participação de todos na construção de uma sociedade em que todas as pessoas, famílias podem viver, educar os filhos e ter oportunidade de futuro. Paz significa a possibilidade de realização, de maturação, de plenificacão dos membros de uma comunidade.
O 2º passo é apoiar as iniciativas nesse sentido, participando das comemorações dos 66 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, redigida pela Organização das Nações Unidas (10/12/1948).
Participando também, no dia 12 de dezembro, no auditório do Ministério Público de Rondônia, em Porto Velho, ao evento alusivo ao Dia Internacional Contra a Corrupção, a partir das 14 h (inscrições: www.mpro.mp.br).
Muitos participam da Campanha Mundial contra a fome que tem como tema: “Uma Família Humana: pão e justiça para todas as pessoas”. A Caritas nesta campanha está desenvolvendo o Projeto “10 Milhões de Estrelas” como forma de provocar a solidariedade, formando uma verdadeira constelação humana pela Paz e contra a fome e a pobreza extrema. Além da ajuda concreta, há um ato que identificará os participantes dessa iniciativa: o acender de velas na noite de Natal, nas casas, nas praças, nas ruas, nas comunidades, nas praias, nos cantos e recantos das cidades e dos campos. Para a Caritas, este “será um gesto de nossa solidariedade, uma prática de sensibilização da sociedade e de todas as pessoas como uma só família humana. Quanto mais forem as estrelas, mais iluminarão. A cada ano, essa ação será repetida coletivamente, num pedido de paz e unidade, por outro mundo que já estamos construindo”.
No próximo domingo (14/12), 3º do Advento, será realizada a Coleta nacional da Campanha para a Evangelização, cujo lema neste ano é: “Cristo é nossa paz” (Ef 2,14). Abramos nosso coração para este gesto de partilha, tão próprio deste tempo em que os corações se abrem ainda mais à solidariedade.
Na Turquia, o papa Francisco orou pela PAZ. Com ele, oremos também:
Através das palavras do profeta Zacarias, o Senhor deu-nos mais uma vez, o fundamento que está na base da nossa tensão entre um hoje e um amanhã, a rocha firme sobre a qual podemos mover juntos os nossos passos com alegria e esperança; este alicerce rochoso é a promessa do Senhor: “Eis que eu salvo o meu povo do Oriente e do Ocidente, na fidelidade e justiça” (Zc 8,7-8).
”Está aqui a semente da paz” (Zc 8,12); está aqui a semente da alegria. Aquela paz e aquela alegria que o mundo não pode dar, mas que o Senhor Jesus prometeu aos seus discípulos e lha deu como Ressuscitado, no poder do Espírito Santo. André e Pedro ouviram esta promessa, receberam este dom. Eram irmãos de sangue, mas o encontro com Cristo transformou-os em irmãos na fé e na caridade.
E nesta oração de vigília, quero, sobretudo, dizer: irmãos na esperança! E a esperança não desilude! Que grande graça e que grande responsabilidade poder caminhar juntos nesta esperança, sustentados pela intercessão dos Santos irmãos Apóstolos André e Pedro!
E saber que esta esperança comum não desilude, porque está fundada, não sobre nós e as nossas pobres forças, mas sobre a fidelidade de Deus.
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