Bispos manifestam apóio e solidariedade ao Movimento Sem Terra (MST)
Publicamos a declaração do representante dos Bispos do Brasil no IV Congresso do MST em Brasília, no qual esteve presente uma boa representação de militantes do estado de Rondônia. Vejam também nesta postagem um resumo das propostas do IV Congresso do MST resumidas na fala de Emir Sader.
Dom Guilherme Werlang na RFomaria da Terra de RS. foto cpt rs |
- Em tudo o que for justo segundo os princípios do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja, caminharemos juntos na construção de um Brasil democrático, livre e sem corrupção".
São as palavras dirigidas ao Movimento sem Terra por Dom Guilherme Antônio Werlang, MSF, Bispo Diocesano de Ipameri-GO, Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço, a Caridade e a Paz da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), no IV Congresso do Movimento Sem Terra (MST) em Brasília o dia 13 de fevereiro de 2014. Dom Guilherme declarou:
- "Manifestamos o apoio e solidariedade ao MST nestes trinta anos de história, embora em dados momentos não tenhamos assinado todos os métodos e posturas e agradeço pela contribuição dada a luta pela partilha e justiça social, princípio da fé cristã e do pleno exercício da cidadania.
No pronunciamento do representante dos Bispos do Brasil, Dom Guilherme já tinha destacado a grande participação de católicos e agentes de pastoral dentro do MST:
- "Temos a alegria de saber que muitos agentes leigos de pastoral, religiosas, religiosos, padres e bispos ajudaram a construir a história do MST e de outros Movimentos Sociais, movidos não por ideologias, mas pela fé e palavra do Evangelho e ainda hoje continuam sua militância. Esta trajetória não será esquecida".
Também anunciou que a CNBB, que já tinha publicado em 1980 o 1º documento da Igreja no
Brasil sobre a questão agrária: “A Igreja e os Problemas da Terra”, e a preocupação eclesial
- "Que deu origem aos 22 de junho de 1975 foi criada a Comissão Pastoral da Terra. Desta, nasceram diversos Movimentos Sociais relacionados com a questão agrária. Por meio da CPT, voz profética no Brasil, a justiça social na terra e o combate à violência no campo passaram a ser denunciados diante do Estado brasileiro e em órgãos internacionais. Foi ainda por meio da mesma CPT que o MST e outros Movimentos Camponeses encontraram o apoio necessário e solidário da Igreja, embora seja necessário registrar que sempre respeitando a independência e liberdade de ambas as partes, tanto nos métodos, ideologias ou princípios evangélicos e doutrinais".
Também anunciou que:
"Na
próxima Assembleia Geral da CNBB a ser realizada no mês de maio temos a firme
intenção de aprovar um novo e atualizado documento oficial da CNBB: “Igreja e
Questão Agrária no Início do Século XXI”. O documento é uma palavra dos Bispos
para o Povo de Deus e a sociedade em geral, elaborada em comunidade de fé,
tendo em vista profeticamente animar e anunciar, como também denunciar graves
injustiças ainda vigentes sobre os “povos da terra, das água e das florestas”.
A sempre prometida reforma agrária não foi prioridade de nenhum dos governos
democráticos".
Ainda manifestou a preocupação dos bispos com a situação dos indígenas e comunidades tradicionais:
- "Nossos irmãos indígenas, quilombolas e das comunidades tradicionais passam por situação difícil, pois seus territórios não estão sendo reconhecidos e seguidamente tenta-se solapar as garantias constitucionais de posse destes territórios. Faz-se um jogo teatral ao demarcar as terras desses povos sem, no entanto, legitimar a posse para os mesmos".
E a preocupação com a atitude do Congresso brasileiro sob domínio da banacda ruralista:
- Tenta-se agora mudar a Constituição passando para o Congresso o poder de novas demarcações de terras, Congresso esse sob o domínio da Bancada Ruralista. Se por um lado houve alguns avanços na afirmação de direitos, de outro, sente-se que os conflitos aumentam. É uma realidade que preocupa a todos nós, Igrejas e Movimentos Sociais. Não é este o Brasil que queremos.
Encontro do
MST 13-02-13 – Fala de dom Guilherme
1. A CNBB tem, desde sua
criação, o princípio de se posicionar profeticamente e de forma firme e
propositiva sobre temas pertinentes da realidade brasileira. A reflexão sobre a
questão agrária segue este viés. Tem, reiteradas vezes, se manifestado sobre a
problemática agrária considerando que a Igreja, com sua presença pastoral em
todos os recantos de nosso país, procura estar atenta à realidade dos povos do
campo e das florestas. Nestes mais de trinta anos, tempo da história do MST,
sua palavra se fez solidária e, ao mesmo tempo, crítica, reafirmando os valores
fundamentais contidos nas sagradas escrituras e no magistério eclesial.
2. Há mais de 30 anos, em
1980, a XVIII Assembleia Geral da CNBB aprovou o 1º documento da Igreja no
Brasil sobre a questão agrária: “A Igreja e os Problemas da Terra”. Já bem
antes, bispos individualmente publicavam cartas pastorais onde exigiam a
reforma agrária. A difícil situação em que viviam os trabalhadores e
trabalhadoras do campo brasileiro interpelava a Igreja e exigia seu compromisso
e sua palavra. Assim, aos 22 de junho de 1975 foi criada a Comissão Pastoral da
Terra. Desta, nasceram diversos Movimentos Sociais relacionados com a questão
agrária. Por meio da CPT, voz profética no Brasil, a justiça social na terra e
o combate à violência no campo passaram a ser denunciados diante do Estado
brasileiro e em órgãos internacionais. Foi ainda por meio da mesma CPT que o
MST e outros Movimentos Camponeses encontraram o apoio necessário e solidário
da Igreja, embora seja necessário registrar que sempre respeitando a
independência e liberdade de ambas as partes, tanto nos métodos, ideologias ou
princípios evangélicos e doutrinais.
3. De lá para cá a sociedade
brasileira passou por muitas transformações. Foram importantes mudanças
políticas, como o fim do regime da ditadura militar e o processo de
redemocratização do País, que culminou com a promulgação da Constituição
Federal, em 1988.
4. Na próxima Assembleia Geral da CNBB a ser
realizada no mês de maio temos a firme intenção de aprovar um novo e atualizado
documento oficial da CNBB: “Igreja e Questão Agrária no Início do Século XXI”.
O documento é uma palavra dos Bispos para o Povo de Deus e a sociedade em
geral, elaborada em comunidade de fé, tendo em vista profeticamente animar e
anunciar, como também denunciar graves injustiças ainda vigentes sobre os
“povos da terra, das água e das florestas”. A sempre prometida reforma agrária
não foi prioridade de nenhum dos governos democráticos. Ter no Brasil um limite
máximo da propriedade ainda é um sonho quase utópico e que somente acontecerá
por lei de iniciativa popular.
5. Este 6º Congresso Nacional do MST que celebra
seus 30 anos de criação e seus aliados é significativo e ocorre em um momento
grave para a nossa nação. A propriedade da terra continua concentrada nas mãos
de poucos; O novo Código Florestal está muito aquém do desejado pela Igreja e
pequenos agricultores; nossa população está ingerindo veneno no lugar de
alimentos e água. No ar respiramos agrotóxicos. Empresas transnacionais estão
se apropriando da nossa biodiversidade e das sementes. Toda a cadeia produtiva
está na mão de poucos grupos transnacionais a serviço do grande capital. A
violência no campo tem aumentado e diante dessa o Estado é ágil em punir os
pobres, criminalizar os Movimentos Sociais e muito lento para punir os grandes
proprietários e mesmo os mandantes de assassinatos de líderes camponeses,
indígenas e quilombolas.
6. Nossos irmãos indígenas, quilombolas e das
comunidades tradicionais passam por situação difícil, pois seus territórios não
estão sendo reconhecidos e seguidamente tenta-se solapar as garantias
constitucionais de posse destes territórios. Faz-se um jogo teatral ao demarcar
as terras desses povos sem, no entanto, legitimar a posse para os mesmos.
Tenta-se agora mudar a Constituição passando para o Congresso o poder de novas
demarcações de terras, Congresso esse sob o domínio da Bancada Ruralista. Se
por um lado houve alguns avanços na afirmação de direitos, de outro, sente-se
que os conflitos aumentam. É uma
realidade que preocupa a todos nós, Igrejas e Movimentos Sociais. Não é este o
Brasil que queremos. Conforme a CNBB junto com a sociedade brasileira refletiu
na 5ª Semana Social Brasileira, temos que reconstruir o Estado para que este
esteja a serviço dos cidadãos e cidadãs e não do capital e de seus detentores.
7. O MST pautou a história
do Brasil nos últimos trinta anos, pela resistência e teimosia e denunciar um
modelo injusto e anunciar outra possibilidade de relação com a terra e relação
entre os entes sociais. Temos a alegria de saber que muitos agentes leigos de
pastoral, religiosas, religiosos, padres e bispos ajudaram a construir a
história do MST e de outros Movimentos Sociais, movidos não por ideologias, mas
pela fé e palavra do Evangelho e ainda hoje continuam sua militância. Esta trajetória não será esquecida. Ela
está escrita na mente e nos corações daqueles e daquelas que fizeram parte
deste movimento ou que com ele dialogaram. Mesmo que a história de viés
elitista desconheça e rejeite, esta marca fica assentada na mente dos que
sonham com um Brasil melhor para todos e todas.
8. Pedimos que os
companheiros e companheiras do MST tenham a ousadia e coragem de continuar esta
luta. E, neste caminho se abram em diálogo aos novos atores sociais, outros
protagonistas que buscam um Brasil melhor. Tenham a humildade de reconhecer que
também houveram erros metodológicos, o que em nada diminui as conquistas e o
idealismo da luta. Aproximem-se dos aliados históricos na perspectiva de unirem
forças no processo. O pensar diferente não é sinal de rompimento, mas a
condição de exercitarmos a tolerância e o espírito democrático. Lutar pela
justiça no campo implica em lutar pela democracia, e no dia a dia somos instados
a mostrar esta convicção cidadã.
9.
Manifestamos o apoio e
solidariedade ao MST nestes trinta anos de história, embora em dados momentos
não tenhamos assinado todos os métodos e posturas e agradeço pela contribuição
dada a luta pela partilha e justiça social, princípio da fé cristã e do pleno
exercício da cidadania. Em tudo o que for justo segundo os princípios do
Evangelho e da Doutrina Social da Igreja, caminharemos juntos na construção de
um Brasil democrático, livre e sem corrupção.
Dom
Guilherme Antônio Werlang, MSF
Bispo
Diocesano de Ipameri-GO
Presidente
da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço, a Caridade e a Paz
O MST NOS SEUS 30 ANOS
Por Emir Sader,
Rio de janeiro, 15 de fevereiro de 2014.
Todos presentes em um ginásio de Brasilia – dos sem terrinha a um senhor de 105 anos. Se reuniram para o VI Congresso do MST, que comemora os 30 anos do movimento camponês mais conhecido no mundo.
Mais conhecido por estar no país que tem a maior extensão de terras cultiváveis, mas que, ao mesmo tempo tem milhões de gente sem terra para trabalhar. Por estar em um país que continua importando alimentos, tendo, paralelamente terras ociosas, trabalhadores lutando por ter acesso a elas.
Mas, sobretudo, pela natureza especial de um movimento que não luta apenas pela erra mas por espaços para construir comunidades de vida solidaria. Tanto é assim que, logo que conseguem obter um pedaço de terra para construir seus assentamentos, a primeira coisa que fazem é definir onde vai ser construída a escola.
Escolas orientadas pelo pensamento de Paulo Freire, para quem a alfabetização tem que ser, ao mesmo tempo, a forma de construção da consciência social. Mas o MST não se limita a esse trabalho. Eles alfabetizaram, no campo do Brasil, muito mais do que qualquer instancia estatal – seja o Ministerio da Educacao ou outra instancia. E continua esse trabalho de lutar contra os 14 milhões de analfabetos, inclusive nas cidades, junto a governo progressistas, buscando criar territórios livres do analfabetismo, apoiados no método cubano Yo si puedo.
A natureza original do movimento, a que orienta suas ações centrais é a luta pela reforma agraria, em um país que nunca a realizou. Mesmo com os extraordinários avanços sociais dos governos Lula e Dilma, essa questão permanece pendente.
Durante o Congresso, o MST organizou uma das suas mais lindas marchas, que andou pelas avenidas de Brasilia, com suas bandeiras vermelhas e seus cantos luta, passando em protesto, pela Embaixada do Governo dos Estados Unidos, e em frente das sedes dos centros dos poderes da Republica, incluindo um protesto no STF, que teve de suspender suas atividades,chamando atenção sobre suas reivindicações. No dia seguinte foram recebidos, no Palacio do Planalto, pela Presidenta Dilma Rousseff.
O MST levou suas reivindicações mais urgentes, como o assentamento de 100 mil familias acampadas à espera de que sejam desapropriadas fazendas, para que possam ter acesso à terra e criar mais comunidades de trabalho e de vida. Conseguiram que a Presidenta se comprometesse a assentar este ano no minimo 35 mil deles, cifra significativa diante do que foi conseguido pelo MST nos tres anos do governo
Mas o Brasil de hoje não é o mesmo de há 30 anos, quando o MST foi fundado. E não houve apenas mudanças positivas, como aquelas da situação social da imensa maioria da população. Desde então o agronegócio consolidou uma posição privilegiada na produção e exportação de soja (transgenica), enquanto as politicas sociais do governo melhoraram também a situação dos trabalhadores do campo, mas sem avançar na reforma agraria.
Neste seu VI Congresso nacional, o MST atualiza sua visão e suas propostas, lançando um Programa Agrario que inclue uma concepção mais ampla da que tinha, a da uma Reforma Agraria Popular. “O Programa de Reforma Agraria Popular não é ainda um programa socialista”, afirma o MST, ainda que os objetivos estratégicos de sua luta seguem tendo como horizonte o socialismo. Hoje eles lutam “por um novo projeto de pais, que necessita ser construído com todas as forças populares, voltadas para atender os interesses do povo brasileiro” Buscam acumular forças com outros setores da sociedade brasileira para derrotar as oligarquias rurais e a classe dominante burguesa.
O conceito de “popular”, diz o MST, busca identificar a ruptura com uma reforma agraria clássica “que se dá no marco da luta de resistencia contra o avanço do modelo de agricultura capitalista e como forma de reinserir a Reforma Agraria na agenda de luta dos trabalhadores”.
Os novos desafios que se coloca o MST são resumidos como:
a) “A reforma agraria popular deve resolver os problemas concretos de toda a população que vive no campo;
b) A reforma agrária tem como base a democratização da terra, mas busca produzir alimentos saudáveis para toda a população;
c) O acumulo de forças para esse tipo de reforma agraria depende agora de uma aliança consolidada dos camponeses com todos os trabalhadores urbanos. Sozinhos os sem terra não conseguirão a reforma agraria popular;
d) Ela representaria um acumulo de forças para os camponeses e toda a classe trabalhadora na construção e duma nova sociedade.
SEMPRE DO LADO ERRADO DA HISTORIA LAMENTAVEL SEM VISAO E ISSO
ResponderExcluirPor esses motivos não vou mais a Igreja, tenho minha crença e isso me basta.
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