FETAGRO registra 18 anos do Massacre de Corumbiara e cobra justiça social às vítimas
Registramos com atraso o relato da Fetagro sobre os 18 anos do Massacre de Corumbiara. Nela relatam o testemunho de Genadir Ribeiro, hoje presidente do sindicato de Corumbiara, que já foi conselheiro da CPT RO: "o massacre continua até hoje", diz fazendo referência as vítimas, entre elas irmãos da própria família. O dia 29 de agosto uma audiência pública será celebrada na Assembléia Legislativa para tratar das indenizações às vítimas.
No sindicato de Corumbiara em homenagem ao vereador Nelinho, irmão de Genadir Ribeiro. foto cpt ro
Um dos piores registros da história do Estado de Rondônia completa 18 anos nesta sexta-feira. O Massacre de Corumbiara, conflito agrário ocorrido no dia 9 de agosto de 1995 entre trabalhadores (as) rurais e policiais militares na área da fazenda Santa Elina, no município de Corumbiara, região Sul do Estado, ficou conhecido internacionalmente e marcou a história de luta pela conquista da terra em Rondônia.
Naquele dia, cerca de 600 trabalhadores rurais ocupantes da área, considerada improdutiva, foram surpreendidos durante a madrugada com o ataque de pistoleiros armados e soldados da Polícia Militar. Um violento confronto foi desencadeado, resultando em mortes, torturas, insultos e humilhações aos trabalhadores e trabalhadoras.
Segundo Genadir Ribeiro, presidente do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Corumbiara e irmão de três vítimas do episódio, “o massacre continua até hoje”. “Há muitas pessoas, sobreviventes, que carregam graves seqüelas físicas e psicológicas da tragédia vivida”, relatou. Genadir perdeu um irmão assassinado por defender os acampados e outros dois irmãos, que eram acampados da área, ainda carregam as lembranças do ataque e torturas vividas. “Amanhã é um dia de muita reflexão; de relembrar a morte de trabalhadores que lutavam por dias melhores, por um pedacinho de terra”, disse o dirigente.
Mas estes 18 anos foram, ainda, de muita luta para muitos trabalhadores rurais vítimas da tragédia ocorrida. Lutou-se pela desapropriação da fazenda para fim de reforma agrária e por indenização aos graves danos. Uma conquista foi alcançada no início de 2011, 16 anos após, com o assentamento de 417 famílias, nas áreas denominadas Zé Bentão e Maranatá, terras desmembradas da antiga Fazenda Santa Elina. E apesar da área ter sido adquirida pelo governo federal e destinada à reforma agrária, as famílias ainda aguardam a implantação de infraestrutura como estrada e energia elétrica.
Outra batalha que está sendo enfrentada é pela indenização das famílias das vítimas, e que no próximo dia 29, espera ganhar aliados com a realização de uma Audiência Pública, na Assembléia Legislativa do Estado. A audiência é uma solicitação da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Rondônia (FETAGRO), do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do município de Corumbiara e do presidente da Câmara Municipal de Corumbiara, vereador Valdinei Antônio Coelho (Nenzinho) para tratar sobre o assunto.
A FETAGRO tem estado à frente de ações que façam justiça aos vitimados do massacre, e entre as ações está o pedido de indenização das vítimas, por meio de processo judicial ajuizado em janeiro de 2011, mas que até hoje não foi concluso. Para o presidente da entidade, Fábio Menezes, “um dos desafios dessa audiência pública é fazer com o que o judiciário defina como favorável a instrução e julgamento do processo de indenização e que o estado repare essa enorme divida social”. A Federação intermedeia a ação de indenização para 204 vítimas, que não receberam assistência do poder público e muitas estão impossibilitadas de trabalharem devido as seqüelas de torturas físicas e psicológicas a que foram submetidas.
Fábio Menezes ressalta ainda a necessidade de aplicação da Lei 786, de junho de 1998, que prevê pagamento de pensão mensal as famílias dos assassinados, mas que não tem sido cumprida. “Penso que esta Lei poderia abranger a todas as vítimas e não somente aos que perderam seus familiares, pois tem vítimas que sofreram e sofrem até hoje com seqüelas como problemas psicológicos, pulmonares, cardíacos, após os horrores sofridos. Estaremos pautando essa mudança junto à Assembléia Legislativa”, afirmou.
O vereador Nenzinho destacou a importância de realizar a audiência como um momento de debate e encaminhamentos sobre a situação em que ainda vivem as vítimas do massacre, por acreditar que a retomada da discussão com os poderes, entidades e sociedade pode gerar medidas e ações que assistam às vítimas. “Nossa esperança é de que agora, com a audiência, consigamos agilizar o trâmite do processo de indenização. Não dá mais para esperar. Dezoito anos já se passaram e as famílias ainda estão desassistidas”, protestou.
Para o dirigente Genadir Ribeiro, a expectativa é conseguir sensibilizar as autoridades para a importância e necessidade das indenizações, que poderão contribuir para que as vítimas e familiares vivam em condições melhores. “A indenização não vai reparar o dano causado, mas acreditamos que amenizará um pouco o sofrimento das pessoas”, disse.
Fonte: Assessoria FETAGRO
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