CARTA DE PORTO VELHO DA COMISSÃO PASTORAL DA TERRA


Mensagem da XIV Assembleia Regional da Comissão Pastoral da Terra de Rondônia

Inspirados pelas luzes do Concílio Vaticano II, que completa agora 50 anos, e da Conferência Episcopal Latino-americana de Medellín, nós, agentes pastorais, juntamente com camponeses e camponesas presentes na XIV Assembleia da Comissão Pastoral da Terra de Rondônia, confirmando nossa fidelidade ao Deus dos pobres, aos pobres da terra e à terra de Deus, nos dirigimos respeitosamente aos irmãos e irmãs camponeses, indígenas, quilombolas, aos outros povos tradicionais e aos membros da CPT e das igrejas cristãs.

Partilhamos as alegrias e as esperanças, no compromisso com as tristezas e as angústias da Amazônia. Celebramos com entusiasmo a presença fraterna ecumênica das igrejas Luterana, Presbiteriana e da Assembleia de Deus, presença aliás que caracteriza a CPT de Rondônia.
Nos alegra a participação de diversos movimentos sociais de trabalhadores rurais de todo estado de Rondônia, comprometidos com a defesa das florestas e das águas, e da vida dos povos indígenas e comunidades tradicionais. Engajados na produção de alimentos saudáveis, na agroecologia e no cuidado com o bioma amazônico.

Saudamos a diversidade dos povos da terra e da água: camponeses, índios, quilombolas, ribeirinhos, acampados, assentados, colonos e aqueles escravizados, que na condição de sujeitos de sua própria caminhada, de rosto sofrido e ao mesmo tempo portadores de grande esperança.

Rondônia foi destaque na publicação “Conflitos no Campo – Brasil 2012”, com nove camponeses assassinados e inúmeras lideranças perseguidas e presas. O aumento da violência no campo coincide com o crescimento de famílias que buscam terra para trabalhar. Denunciamos a inoperância do Estado na apuração destes fatos, dificultando o acesso à justiça pelos camponeses. Denunciamos também a criminalização de todos que lutam pela terra de viver e trabalhar.

Aceitamos o chamado a exercemos a missão samaritana junto às famílias camponesas atingidas pela violência do capital e do Estado, articulados em defesa do agro-hidro-negócio. Constata-se por parte desse governo a execução de ações destinadas a enfraquecer a luta, cooptando sobretudo as lideranças populares. Nos comprometemos a estar ao lado das famílias camponesas, despejadas de suas terras, à beira da estrada, e das lideranças ameaçadas de morte e presas.

Reconhecemos que neste caminho, infelizmente alguns agentes e camponeses vão tombando à sua margem, vencidos pelo cansaço, pela falta de confiança em si mesmo, pela desunião e pela intriga que nos afasta uns dos outros sem podermos mais nos apoiar e impede nossa união de classe, prejudicando a organização das lutas camponesas.
Atentos aos novos sinais dos tempos, tomamos a liberdade de exortar vocês, companheiros e companheiras, parentes, irmãos e irmãs de luta, a levar em conta o clamor das ruas, como um apelo a ingressar nessa nova caminhada vitoriosa na luta pela reforma agrária e pela defesa da vida.

Enquanto Comissão Pastoral da Terra nos comprometemos a recuperar o vigor profético de nossa ação missionária. Vamos construir uma nova história para o Brasil que queremos, ao lado dos povos da terra e das águas da Amazônia. Bem aventurados os camponeses e camponesas, os povos indígenas, os ribeirinhos, os quilombolas e as comunidades tradicionais, enfim, os homens e as mulheres da Amazônia.

Voltemos para o Deus da justiça, do amor aos pobres e libertador dos oprimidos e assim concretizemos, com sua ajuda nossas esperanças, nossa utopia, assumindo a mística do Bem Viver para todos e para sempre.

“Não tenham medo, diz o Senhor, continuem a falar e não se calem, porque Eu estou com vocês” (cf At, 18,9)

Porto Velho, 07 de julho de 2013.

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