Confronto de Santa Elina: a versão da Liga
Acusada a CPT RO em diversos comentários de publicar uma única versão do confronto entre movimentos sociais em Santa Elina, em Corumbiara, recolhemos a nota divulgada pela Liga dos Camponeses Pobres, que hoje achamos no site do Movimento Estudantil Popular Revolucionário. Nele as afirmações realizadas correspondem a versão da Liga dos Camponeses Pobres, segundo os quais: "Queremos por fim dizer a Fetagro que nunca usamos e nunca usaremos de intimidação ou de ameaça contra famílias de trabalhadores, principalmente de camponeses pobres". Celebramos e apoiamos este desejo de resolver todo confronto pela via pacífica. Veja a continuação o documento na íntegra.
"Fetagro criminaliza a luta dos camponeses de Santa Elina"
Jaru, 19 de julho de 2011
Em nota publicada no dia 16 de julho último a Fetagro (Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Rondônia) afirma que, um de seus diretores, o secretario de Meio Ambiente Teófilo Santana esteve na fazenda Maranata (uma das três partes em que foi desmembrada a fazenda Santa Elina) e relatou situações de ameaças a “lideranças dos acampamentos Rio das Pedras, Zigolândia e Cambará” por parte de integrantes da LCP. Teria dito ainda ter presenciado “homens portando armas em reuniões” e que também teria visto “um grupo fortemente armado que estaria na divisa da fazenda ameaçando as pessoas que encontravam pela frente”.
Ainda na nota a Fetagro exige a “desocupação da área pela policia” e “exclusão das famílias do processo de reforma agrária”. Por fim pedem “com a máxima urgência a presença da Policia Civil, da Policia Federal que efetue o desarmamento das lideranças e acampados da LIGA para evitar mais um massacre, só que dessa vez entre trabalhadores.”
Diante destas acusações a LCP vem a público esclarecer que:
1. No final de 2005 famílias remanescentes de Santa Elina organizadas pelo Codevise – Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina, iniciaram uma campanha pela indenização das vítimas e corte da fazenda. Esta campanha foi realizada em todo estado de Rondônia através de entrevistas em rádios, televisão, matérias na imprensa escrita, panfletos, atos públicos e palestras na Universidade Federal de Rondônia e Acre. Em 2007 a campanha foi retomada com o objetivo de divulgar para todo o país que passados 12 anos as vítimas seguiam lutando por seus direitos.
2.Em agosto de 2007 as vítimas ficaram 23 dias acampados em Brasília. Foram várias reuniões com junto a Secretária Especial de Direitos Humanos, Comissão de Direitos Humanos e Gabinete da presidência da República em que ficou acordado uma série de medidas, entre elas a indenização e o corte da fazenda. Mas numa reunião aqui em Rondônia com a presença de 440 vítimas e familiares o ministro de direitos humanos Paulo Vanucci sem ouvir ninguém passou por cima do que fora acordado e nomeou a Fetagro como intermediadora entre as vítimas e o governo. A Fetagro na época embolsou 94 mil reais para fazer o levantamento dos que teriam direito a indenização. Até hoje não sabemos o que foi feito sobre isso.
3.Cansados de esperar, famílias mobilizadas pelo Codevise e LCP ocupam a fazenda Santa Elina em maio de 2008. Famílias dos acampamentos Rio das Pedras, Zigolândia e Cambará que estavam há anos em barracos de lona nas cidades de Corumbiara e Cerejeiras se juntam ao acampamento do Codevise. Alguns elementos chamados de “lideranças” pela Fetagro, conhecidos como Sandro Paulo, Pelé Branco, Vera e Bob logo foram expulsos por votação da maioria numa assembléia do acampamento em 2008 por usarem de mentiras e manipulações, por não aceitarem as regras discutidas e decididas coletivamente dentre as quais, a proibição do uso de bebidas alcoólicas dentro do acampamento. Mesmo expulsos usaram a luta dos acampados para arrecadar recursos junto a população de Corumbiara e Cerejeiras em proveito próprio.
4. Estes bandidos se escondiam atrás da sigla MAP, “um movimento” criado nos escritórios do Incra em Pimenta Bueno como forma de abocanhar recursos do governo federal via projetinhos de reforma agrária. Antes de serem expulsos, foram usados pelo Incra de Rondônia, principalmente pelo superintendente Carlino Lima( PT) para desmobilizar as famílias em 2008, fazendo promessas de terras em outras áreas e convencendo uma parte delas a retornarem para os barracos de lona na cidade. Para fazer este papel sujo receberam do Incra o repasse de 50 mil reais, 400 cestas básicas e lonas. Curioso é que ao contrário dos camponeses que foram iludidos e acabaram saindo da área, estes elementos todos melhoraram de vida.
5.Os sindicatos dos trabalhadores rurais de Corumbiara e Cerejeiras em conluio com estes bandidos há tempos usam estes acampados como massa de manobra para seus interesses eleitoreiros e pessoais. Existem também boatos de que funcionários do Incra de Colorado do Oeste estariam vendendo lotes antes mesmo da área da fazenda ser desapropriada. Este é o triste fim de toda esta burocracia petista, encastelada nas estruturas de sindicatos e governo, usam de um passado de participação na luta popular para enganar incautos, pois na prática reproduzem em menor escala a corrupção e os desmandos dos altos círculos de poder. Essa gente já deu provas suficiente de que para galgarem os mais subalternos postos na máquina administrativa do velho Estado burguês-latifundiário lançam mão de todo tipo de intrigas, maquinações e mentiras.
6. Desde 1995 quando os camponeses acampados na fazenda Santa Elina protagonizaram uma heroica resistência ao massacre realizado pela policia militar e bandos armados de latifundiários da região sul de Rondônia, abriu-se uma luta entre dois caminhos no movimento camponês em todo o Brasil, particularmente em Rondônia. De um lado o caminho da Reforma Agrária falida do governo, do oportunismo eleitoreiro, da conciliação de classes. De outro lado o caminho da Revolução Agrária, da luta combativa contra todo tipo de oportunismo e pela destruição do latifúndio.
7.O episódio de Santa Elina repercutiu mundialmente, e teve como um dos seus mandantes o então governador Valdir Raupp (PMDB). O PT que possuía cargos no governo estadual se viu obrigado a romper a aliança com o PMDB para manter as aparências, principalmente pela forte pressão de suas bases nas áreas rurais. Hoje ironicamente o mesmo PT, a Fetagro e os sindicatos de trabalhadores rurais que se posicionaram contra o chamado massacre de Corumbiara estão novamente aliados com o PMDB e fazendo parte do governo estadual, chegando inclusive a fazer campanha eleitoral para Raupp e Confúcio Moura, notórios representantes dos grandes latifundiários em Rondônia.
8. Diante da ocupação da fazenda em 1995 o MST, CPT e Fetagro foram o principal expoente do oportunismo, negando apoio aos acampados. O MST foi mais baixo ainda delatando o nome de lideranças do acampamento para a polícia. Hoje podemos dizer que este papel é desempenhado com desenvoltura pela Fetagro, que tem como cacique o ex-deputado Anselmo de Jesus (PT). Os ataques e falsas acusações contra a LCP deixam claro o objetivo de criminalizar a luta dos camponeses. Fazem coro com a política do governo federal de tratar toda luta do povo como caso de polícia, em especial a luta pela terra.
9.Durante a ocupação em 2008 os acampados sofreram vários ataques de bandos armados do latifúndio, nunca a Fetagro ou os sindicatos exigiram que a polícia fosse desarmar estes bandos! Também no ano passado um grupo paramilitar contratado no Mato Grosso fez a segurança da fazenda Maranata. Tampouco a Fetagro escreveu uma única linha pedindo ação das “autoridades”! Em julho de 2010 o Codevise e a LCP mobilizaram as famílias e retomaram a fazenda Santa Elina. A atitude do Incra, do ex deputado Anselmo e da Fetagro foi a mesma a de exigir o uso da policia para desocupar a área e a prisão das lideranças.
Queremos por fim dizer a Fetagro que nunca usamos e nunca usaremos de intimidação ou de ameaça contra famílias de trabalhadores, principalmente de camponeses pobres. Este foi um dos motivos de termos rompido com o MCC que acaudilhado por Adelino Ramos degenerou em banditismo, extorsão, mandonismo e todo tipo de prática mafiosa contra os trabalhadores em várias tomadas de terra e assentamentos de Rondônia. Prática que sempre foi acoitada pelo PT, Fetagro, por setores da Igreja Católica e por último pelo PCdoB.
Na nossa opinião é a Fetagro quem está ameaçando e intimidando as famílias ao exigirem a desocupação da área pela polícia. É a Fetagro quem está ameaçando ao dedurar e exigir prisão de camponeses e lideranças. Ao mesmo tempo é a Fetagro quem covardemente mente sobre a existência de camponeses armados para justificar todo tipo de repressão policial.
As famílias que estão há mais de uma ano nas terras da fazenda Santa Elina, já cortaram os lotes, construíram casas, montaram escola, arrumaram estradas e possuem uma grande produção. São motivos de sobra para estarem decididas a repelir qualquer tentativa oportunista da direção da Fetagro e seus sindicalistas de atacar seus interesses e sua justa luta.
SAIU UMA MATÉRIA NO SITE WWW.RESISTENCIACAMPONESA.COM
ResponderExcluirlink: http://www.resistenciacamponesa.com/noticias/415-lcp-celebra-9-de-agosto-vermelho-em-corumbiara