Mulheres contra as Barragens.



Em luta por direitos e pela construção de um novo projeto energético popular, entre os dias 4 e 7 de abril, cerca de 500 mulheres atingidas por barragens vindas de 16 estados brasileiros estiveram reunidas em Brasília para o Encontro Nacional das Mulheres Atingidas por Barragens.
O evento, organizado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), teve o objetivo de discutir e analisar a realidade e as consequências da construção das barragens na vida das mulheres, traçar um plano de ação para que elas sejam ativas na luta e na organização e denunciar a violação de seus direitos no processo de construção de barragens. O encontro culminou em atos públicos pela Esplanada e em uma audiência com a Presidenta Dilma.Um dos debates que marcou o encontro foi a constatação de que o processo de construção de hidrelétricas agride principalmente as mulheres. Este fato remete ao relatório da Comissão Especial “Atingidos por Barragens”, aprovado pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana e lançado durante o encontro. O relatório reconheceu que as mulheres são atingidas “de forma particularmente grave e, via de regra, encontram maiores obstáculos para a recomposição de seus meios e modos de vida; [...] não têm sido consideradas em suas especificidades e dificuldades particulares”, e por isso “têm sido vítimas preferenciais dos processos de empobrecimento e marginalização decorrentes do planejamento, implementação e operação de barragens”.Cleonira dos Santos, atingida pela barragem de Barra Grande, na região sul, ilustra o caso: “As mulheres sofreram mais pressão que os homens no processo de resistência à implantação da barragem. Como muitas delas eram analfabetas, a empresa responsável pela obra as pressionava para assinarem documentos sem terem acesso ao conteúdo”, declarou. Além disso, tiveram mais dificuldades para conquistar o direito de reassentamento por não terem, em sua maioria, documentos que comprovassem sua vinculação com a terra. “No meu reassentamento tem seis rapazes [solteiros] e nenhuma moça. Da minha comunidade, uma só conseguiu indenização.”
Ativistas  do movimento internacional da luta contra as represas também estiveram presentes no encontro brasileiro. Representantes do movimento mexicano, Miriam Jimenez Agredano, e da Patagônia Argentina, Moira Ivana Millán, assim como a vice-ministra de Minas e Energia do Paraguai, Mercedes Canese, foram presenças marcantes no encontro.Mercedes Canese defendeu a necessidade de um projeto de integração energética entre os países da América Latina. “A América Latina é muito rica em recursos naturais, tanto renováveis quanto não-renováveis, mas mal distribuídos. É necessário fazer um projeto de integração energética porque há países que tem menos recursos que outros”, afirmou.Segundo ela, há muitos países na região cujo consumo de energia é pré-industrial, como o Paraguai, que usa a maior parte de sua energia para a calefação e produção de alimentos. O país, que divide sua produção energética com o Brasil (por meio da usina de Itaipu) e com a Argentina, exporta oito vezes mais energia do que importa.Moira Millán, representante dos indígenas mapuches da Patagônia Argentina, afirmou que um dos resultados do encontro das mulheres será uma agenda de trabalho comum e uma articulação mais efetiva entre as organizações latino americanas que lutam contra os projetos de apropriação dos rios através de construção barragens.“Trago a voz das mulheres de meu povo que sofrem a agressão das transnacionais com os megaprojetos extrativistas”, disse Moira. Ela destacou particularmente a luta que vem se desenvolvendo no sul da província argentina de Chubut onde existem projetos de construção de seis barragens sobre o rio Carrelenfú, cuja estimativa é de inundar 11 mil hectares de floresta.

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