Aumento de doenças e mortes pelas usinas do Madeira

Epidemia de dengue em 2010 em Porto Velho.
O que no ano passado todo o mundo sabia e ninguém queria reconhecer: Porto Velho sofreu em 2010 um surto de dengue, registrando oficialmente 6.552 casos, a maioria deles em janeiro. Mais de 5.500 casos acima dos 1.046 reconhecidos em 2009, enquanto que em 2008 foram 2.328. Este incremento de perto do 300%  confirma que houve incremento de doenças e uma verdadeira epidemia facilitada pela construção das usinas do Madeira.
Com a chegada de milhares de operários não aclimatados ao hiverno amazônico, não era a primeira vez que isso acontecia na história de Porto Velho. Nos inícios da cidade, uma epidemia de malária dizimou os construtores da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, motivando em 1910 a vinda de Osvaldo Cruz à Rondõnia para propor o tratamento. Neste início de 2011 Porto Velho está de alerta temendo novo surto, desta vez do perigoso virus tipo 4 da doença.
Camposanto de Mutum Paraná ficará alagado.
Dificuldades com aumento de mortes.
Assim mesmo, o que o ano passado era rumores insistentes, de dificuldades no IML com corpos de pessoas chegadas a Porto Velho por motivo das usinas, agora são confirmadas, mesmo depois de ampliada a capacidade do local. Segundo reportagem do Diário da Amazônia de 15/02/11, o responsável da necropsia do IML de Porto Velho, Josué Zetolis, reconhece agora as dificuldades enfrentadas com o aumento de corpos de pessoas falecidas, entre as chegadas de todos os cantos do Brasil para a construção das hidrelétricas. Os cadáveres considerados indigentes representam uma média de 05 por mês. Muitos deles devem ser enterrados como indigentes depois de 30 dias de espera de reconhecimento o falta de algum familiar que os identifique ou reclame. Isso não resulta fácil, pois muitos dos parentes dos finados moram longe. Não é o caso dos trabalhadores falecidos contratados pelas empresas construtoras das usinas, pois "estas se responsabilizam pelos mortos que fazem parte dos seus quadros com os transportes dos corpos", faz questão de pontualizar a reportagem. "Esses que começaram a aparecer correspondem a trabalhadores que se aventuram pela região em busca de emprego".
Assim o Diário da Amazônia cita o caso do "jovem Pedro Henrique Almeida de Jesus, de 21 anos, que saiu de Luizãnia (GO) para Porto Velho em busca de emprego atraído pela grande oferta com a construção civil em Rondônia o ano passado". Sempre segundo a reportagem, a família somente soube do falecimento do jovem a través de uma ligação anônima, após oito meses sem notícia dele. Agora "o corpo de Pedro Enrique estava há 17 dias no Instituto Médico Legal a espera da família e poderia ser considerado indigente."
Nestes dias mais três copos estão na mesma situação e os corpos poderiam ser enterrados sem parentes ou doados a universidade. Um deles é dum jovem conhecido apenas como Baiano, encontrado afogado num balneário da BR 364. O segundo Marcelo Silva Barros, vítima de homicídio com facadas, e outro de um homem que também morreu por agressão o dia 02 de janeiro, no distrito de Jacy-Paraná. Esta é a localidade mais próxima á Barragem de Jirau e que concentra maior número de violência e de problemas em decorrência da construção das hidrelétricas.
Remoção das sepulturas que devem ficar alagadas.
Não somente os moradores das comunidades diretamente atingidas devem ser realojados. Também devem ser removidos os falecidos dos ribeirinhos enterrados nas comunidades a serem alagadas pelas hidrelétricas. Tanto em Jirau como nas comunidades afetadas por Santo Antônio, os restos dos corpos enterrados nos camposantos são removidos e trasladados a outros cemitérios, provocando um penoso constrangimento aos familiares dos falecidos. Somente de uma única família ribeirinha da Cachoeira do Teotônio, um membro dela  teve que supervisar a exumação e mudança de local dos restos mortais de 11 familiares. O passado dia 05 de fevereiro a empresa ESBR publicava anuncios pedindo para os parentes de falecidos entrar em contato, sendo previstas a remoção das sepulturas das localidades de Mutum Paraná, Cical, Palmeiral, Dois Imrãos, Jirau, e dos Ramais do Caldeirão de Baixo, do Arrependido, de Furnas, Caiçara, da Prainha, Primavera, Caldeirão de Cima e São Lourenço.
Com as barragens nem os mortos ficam em paz.

Fonte: Diário da Amazõnia do dia 15/02/2011.

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