Abençoada crise

Não sei como vamos nos dar em Rondônia com a crise mundial atual. Sempre os mais humildes acabam pagando mais caro. Porém por enquanto, a crise parece estar brecando um pouco o avanço do agro e hidronegócio.
A retirada massiva de capital especulativo tem feito cair o real e subir o dólar e o euro. Para nós, que trabalhamos com as migalhas da solidariedade dos países mais desenvolvidos, pelo menos o câmbio melhora, e as ajudas alcançam para um pouco a mais.
Tomara a crise também dê um pouco de fôlego para as comunidades resistir o avanço das multinacionais. A primeira hidrelétrica do Rio Madeira já começou em Porto Velho. Porém a segunda está demorando mais. Seja por brigas entre as empresas, seja por dificuldades financeiras, parece. Se atrasarem, muitos ribeirinhos ficaram um pouco aliviados. Também os indígenas isolados, antes de se encontrarem com as águas do Madeira alagando suas florestas. Nem sequer a existência deles tem sido reconhecida. E tem alguns que os chamam de selvagens.
Selvagem é este povo sem escrúpulos, este modelo que condena o povo ribeirinho a contaminação de mercúrio, a perder suas fontes de subsistência, a ver suas casas e terras alagadas.
Aqui na região, os que conhecemos o rio estamos acreditando que o Madeira vai dar o seu troco as hidrelétricas. Aconteceu com a construção da estrada Madeira-Mamoré, que hoje ficou engolida pela floresta. O rio todo ano muda de canal e abre novos braços e cortes, mudando a navegação. Poucos anos de vida vão ter os reservatórios com todos os sedimentos que chegam dos Andes bolivianos e peruanos. O Rio Madeira foi chamado assim pelos portugueses, pela imensa quantidade de paus e de madeiras arrastadas pela correnteza, que formam um verdadeiro rio de madeira na época da cheia, difícil de atravessar pelos barcos. Quero ver as turbinas engolindo as ilhas de tarope e a paulera que descem pelo Madeira.
A Margem , uma das principais empresas de frigoríficos de Rondônia e Mato Grosso, faliu. Lá fora, também aparecem notícias sobre empresas de biocombustíveis falidas, cana de açúcar e etanol freando a expansão, empresas de celulose renunciando as ampliações das monoculturas. Tomara seja certo que os agricultores possam pensar mais em plantar alimentos e não em produzir capim, etanol e celulose. Abençoada crise se ajudar os mais humildes viverem em paz!
Pe. J. Iborra, zezinho CPT RO

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