O GRAVE MOMENTO NACIONAL
A CNBB lançou a Nota
Oficial
Aparecida
(RV) – A CNBB lançou a Nota Oficial sobre o momento atual, na tarde da
quinta,feira, 04 de maio, no encerramento de sua 55ª Assembleia Geral, do qual
participaram cerca de 370 bispos do país. A Assembleia se realizou em
Aparecida-SP, de 26 de abril a 5 de maio. Na sexta-feira o encerramento do
evento.
O GRAVE MOMENTO NACIONAL
“Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça” (Mt 6,33)
A
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil–CNBB, por ocasião de sua 55ª
Assembleia Geral, reunida em Aparecida-SP, de 26 de abril a 5 de maio de 2017,
sente-se no dever de, mais uma vez, apresentar à sociedade brasileira suas
reflexões e apreensões diante da delicada conjuntura política, econômica e
social pela qual vem passando o Brasil. Não compete à Igreja apresentar
soluções técnicas para os graves problemas vividos pelo País, mas oferecer ao
povo brasileiro a luz do Evangelho para a edificação de “uma sociedade à medida
do homem, da sua dignidade, da sua vocação” (Bento XVI - Caritas in Veritate,
9).
O que está acontecendo com o Brasil? Um País perplexo diante de agentes
públicos e privados que ignoram a ética e abrem mão dos princípios morais, base
indispensável de uma nação que se queira justa e fraterna. O desprezo da ética
leva a uma relação promíscua entre interesses públicos e privados, razão
primeira dos escândalos da corrupção. Urge, portanto, retomar o caminho da
ética como condição indispensável para que o Brasil reconstrua seu tecido
social. Só assim a sociedade terá condições de lutar contra seus males mais
evidentes: violência contra a pessoa e a vida, contra a família, tráfico de
drogas e outros negócios ilícitos, excessos no uso da força policial,
corrupção, sonegação fiscal, malversação dos bens públicos, abuso do poder econômico
e político, poder discricionário dos meios de comunicação social, crimes
ambientais (cf. Documentos da CNBB 50– Ética, Pessoa e Sociedade – n. 130)
O
Estado democrático de direito, reconquistado com intensa participação popular
após o regime de exceção, corre riscos na medida em que crescem o descrédito e
o desencanto com a política e com os Poderes da República cuja prática tem
demonstrado enorme distanciamento das aspirações de grande parte da população.
É preciso construir uma democracia verdadeiramente participativa. Dessa forma
se poderá superar o fisiologismo político que leva a barganhas sem escrúpulos,
com graves consequências para o bem do povo brasileiro.
É
sempre mais necessária uma profunda reforma do sistema político brasileiro. Com
o exercício desfigurado e desacreditado da política, vem a tentação de ignorar
os políticos e os governantes, permitindo-lhes decidir os destinos do Brasil a
seu bel prazer. Desconsiderar os partidos e desinteressar-se da política
favorece a ascensão de “salvadores da pátria” e o surgimento de regimes
autocráticos. Aos políticos não é lícito exercer a política de outra forma que
não seja para a construção do bem comum. Daí, a necessidade de se abandonar a
velha prática do “toma lá, dá cá” como moeda de troca para atender a interesses
privados em prejuízo dos interesses públicos.
Intimamente
unida à política, a economia globalizada tem sido um verdadeiro suplício para
a maioria da população brasileira, uma vez que dá primazia ao mercado, em
detrimento da pessoa humana e ao capital em detrimento do trabalho, quando
deveria ser o contrário. Essa economia mata e revela que a raiz da crise é
antropológica, por negar a primazia do ser humano sobre o capital (cf.
Evangelii Gaudium, 53-57). Em nome da retomada do desenvolvimento, não é justo
submeter o Estado ao mercado. Quando é o mercado que governa, o Estado torna-se
fraco e acaba submetido a uma perversa lógica financista. Recorde-se, com o
Papa Francisco, que “o
dinheiro é para servir e não para governar” (Evangelii Gaudium 58).
O
desenvolvimento social, critério de legitimação de políticas econômicas, requer
políticas públicas que atendam à população, especialmente a que se encontra em
situação vulnerável. A insuficiência dessas políticas está entre as causas da
exclusão e da violência, que atingem milhões de brasileiros. São catalisadores
de violência: a impunidade; os crescentes conflitos na cidade e no campo; o
desemprego; a desigualdade social; a desconstrução dos direitos de comunidades
tradicionais; a falta de reconhecimento e demarcação dos territórios indígenas
e quilombolas; a degradação ambiental; a criminalização de movimentos sociais e
populares; a situação deplorável do sistema carcerário. É preocupante, também,
a falta de perspectivas de futuro para os jovens. Igualmente desafiador é o
crime organizado, presente em diversos âmbitos da sociedade.
Nas
cidades, atos de violência espalham terror, vitimam as pessoas e causam danos
ao patrimônio público e privado. Ocorridos recentemente, o massacre de
trabalhadores rurais no município de Colniza, no Mato Grosso, e o ataque ao
povo indígena Gamela, em Viana, no Maranhão, são barbáries que vitimaram os mais pobres. Essas ocorrências exigem imediatas
providências das autoridades competentes na apuração e punição dos responsáveis.
No
esforço de superação do grave momento atual, são necessárias reformas, que se
legitimam quando obedecem à lógica do diálogo com toda a sociedade, com vistas
ao bem comum. Do Judiciário, a quem compete garantir o direito e a justiça para
todos, espera-se atuação independente e autônoma, no estrito cumprimento da
lei. Da Mídia espera-se que seja livre, plural e independente, para
que se coloque a serviço da verdade.
Não
há futuro para uma sociedade na qual se dissolve a verdadeira fraternidade. Por
isso, urge a construção de um projeto viável de nação justa, solidária e
fraterna. “É necessário procurar uma saída para a sufocante disputa entre a
tese neoliberal e a neoestatista (...). A mera atualização de velhas categorias
de pensamentos, ou o recurso a sofisticadas técnicas de decisões coletivas, não
é suficiente. É necessário buscar caminhos novos inspirados na mensagem de
Cristo” (Papa Francisco – Sessão Plenária da Pontifícia Academia das Ciências
Sociais – 24 de abril de 2017).
O
povo brasileiro tem coragem, fé e esperança. Está em suas mãos defender a
dignidade e a liberdade, promover uma cultura de paz para todos, lutar pela
justiça e pela causa dos oprimidos e fazer do Brasil uma nação respeitada.
A
CNBB está sempre à disposição para colaborar na busca de soluções para o grave
momento que vivemos e conclama os católicos e as pessoas de boa vontade a
participarem, consciente e ativamente, na construção do Brasil que queremos.
No
Ano Nacional Mariano, confiamos o povo brasileiro, com suas angústias, anseios
e esperanças, ao coração de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil. Deus
nos abençoe!
Aparecida
- SP, 3 de maio de 2017.
Cardeal
Sergio da Rocha
Arcebispo
de Brasília
Presidente
da CNBB
Dom
Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ
Arcebispo
de São Salvador da Bahia
Vice-Presidente
da CNBB
Dom
Leonardo Ulrich Steiner
Bispo
Auxiliar de Brasília
Secretário-Geral
da CNBB
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